Editorial

Tutti Frutti ou a verdadeira crise?
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Damião Cunha Velho

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Parece que os partidos do arco da governação combinavam entre si apresentar candidatos fracos dos seus próprios partidos para permitir que uns e outros vencessem eleições onde lhes dava jeito.

Digo “parece” porque isto ainda não foi provado, apesar de se arrastar há anos em investigação.

Mais uma evidência de que a Justiça está na rua da amargura, ao colocar os visados debaixo de uma suspeição que os vai queimando em lume brando. Isto é a antítese do Estado de direito.

Porém, os portugueses, por tudo aquilo que já assistiram, têm neste momento todas as razões para acreditar que onde há fumo, há fogo.

Então ultimamente, todos os dias, os telejornais abrem com notícias de escândalos, casos de corrupção ou situações em que os políticos não sabem o que é ética. Julgo que só tivemos uma pausa de 48 horas nas televisões porque o Benfica ganhou o campeonato.

Até agora, o centro de todas as atenções têm sido os governantes em funções e o Partido Socialista. O caso Tutti Frutti, a ser verdade, diz-nos que o maior partido da oposição, o PSD, alternativa a este governo, está ferido dos mesmos pecados que o PS.

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O que dá razão aos portugueses quando dizem que afinal “eles” são tudo farinha do mesmo saco.

Sempre acreditei que é no centro político que está a virtude e temo todo o tipo de extremismos, sejam de direita ou de esquerda.

Que com tudo isto, agora têm mais razões para crescerem com o voto de protesto, de descontentamento, em relação ao estado da arte do Centrão.

O PS e o PSD são, de facto, muito parecidos e eu até acredito que algumas eleições são decididas não por questões ideológicas mas pelo carisma dos candidatos a primeiro-ministro.

O centro político está para a democracia como a classe média para a sociedade. Ambos são o garante da solidez e estabilidade do regime, das instituições e do equilíbrio social.

Precisam, por isso, estes partidos de se repensar, de se reorganizar e de atrair para a política pessoas credíveis, com currículo e provas dadas fora da política. Chega de boys.

É certo que o país não pode ser governado por tecnocratas que gerem a coisa pública como se fosse uma folha de Excel. Existem, no entanto, na sociedade civil personalidades que sendo muito competentes na sua área de atividade também têm uma visão política. Esse refresh é absolutamente urgente para sanar dos partidos aqueles cuja carreira profissional foi feita só dentro dos aparelhos partidários desde as Jotas. Tipos cheios de manhas, vícios, ambições pessoais que estão acima do interesse público e sobretudo da vida real de quem os elege.

Atrevo-me a dizer que alguns são verdadeiras ETs. Agora acrescentem aos ETs, corrupção, compadrios, tráfico de influências e por aí fora.

A continuar assim, PS e PSD, que se julgam imortais, podem vir a desaparecer. Aconteceu em França com o histórico partido de Mitterrand. Macron está no último mandato e quem virá a seguir? Marine Le Pen. A extrema-direita.

O caso Tutti Frutti é só mais um de muito casos, com uma particularidade: PS e PSD são iguais no pior. É esta a mensagem que fica e na política, certo ou errado, o que parece é.

Desapontados, os eleitores tenderão a votar em partidos populistas que, a meu ver, gerarão uma crise ainda maior. Foi assim no passado e no futuro não será diferente. Alguns prometeram o Céu na Terra e transformaram a Terra no Inferno.

Essa sim será a verdadeira crise.

Porque não há crise maior do que aquela que quando atinge o cidadão comum o deixa sem nada de bom para escolher, enquanto puder escolher!

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