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Um amor homossexual, um amor destemido…em Ponte da Barca!

Amor diferente ou igual?

Quantas formas certas existem para amar? Pode existir amor nos casais do mesmo género? Tudo tem a sua medida certa, e no amor, também haverá medidas certas? Rita e Maria vivem o seu amor, um amor homossexual. Um amor que nem sempre é compreendido…

“Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne”Esta é a visão bíblica das relações humanas, o cânone social do que deve ser um relacionamento. Mas há um mundo para além das regras, para além daquilo que é socialmente aceitável. O amor pode manifestar-se de diferentes formas. A homossexualidade existe na humanidade desde os seus inícios. É justo alguém ser vetado por causa das suas próprias escolhas e sentimentos, ainda que, não sejam socialmente aceitáveis? 

Maria e Rita vivem o seu amor com intensidade. Conheceram-se por amigos em comum e Maria confessa que na altura estava numa relação e Rita conta: “andei atrás da Maria quase um ano…ela tinha namorada, e quando esse namoro acabou, não queria envolver-se de imediato. Demorou, mas cá estamos”, recorda. Atualmente Maria e Rita são um casal e desde há dois anos vivem juntas. Sempre cercadas pelos olhares e ouvindo comentários. São jovens – 23 e 22 anos respetivamente – e confessam que nem sempre foi fácil assumir esta relação. Existe preconceito, opiniões radicais.  

Rita afirma que para ela o mais difícil foi assumir-se perante a sua família. Vivendo com algum nervosismo este seu sentir e confidencia: “Os meus pais são divorciados e quando lhes contei, a cada um em separado, fiquei surpresa da reação deles. Disseram-me que já suspeitavam, que só estavam à espera que eu confessasse”. 

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Para Maria, a sua namorada, foi um bocado diferente. “Eu já sou assumida há muitos anos. Desde criança soube qual era a minha preferência. Desde os meus 10 anos sabia que gostava das meninas de outra forma, não as via simplesmente como amigas… a minha família no fundo sempre soube, mas quando me decidi a ‘sair do armário’, a minha avó não aceitou muito bem. Mas foi-se habituando à ideia e hoje para ela é normal e adora a Rita”, esclarece.

Maria e Rita contam que é um relacionamento sério, um relacionamento com futuro. “É tão sério que eu só me assumi perante a minha família com a Maria”, diz Rita. Conta que o dia que se assumiu foi particularmente especial. “Como disse anteriormente,  eu contei aos meus pais por separado, e houve um dia que convidamos a minha mãe para bebermos um café. Depois de um tempo a falarmos, perguntei o que é que achava acerca da homossexualidade e ela disse que não tinha preconceitos e que sabia que a Maria e eu éramos namoradas…que há muito que tinha notado que a nossa amizade era muito mais do que isso”, confessa.  

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Maria teve anteriormente alguns relacionamentos, sempre com mulheres. Para Rita, este é o relacionamento mais importante, familiarmente assumido, mas confessa que aos 14 anos, naquela idade da descoberta, teve uma paixoneta por um rapaz. “Mas, sinceramente, só foi aquele namorado de mensagens… Era capaz de passar por ele nos corredores da escola e fazer de conta que nem o conhecia. No fundo, naquela idade, eu já sabia aquilo que queria!” – acrescenta divertida.

Não sendo naturais de Ponte da Barca afirmam que, apesar de ser uma vila pequena, jamais tiveram alguma experiência negativa ou reação adversa à sua relação. “Sentimos os olhares, as murmurações, mas nunca ninguém nos confrontou de uma maneira desagradável”. Recordam uma cena um tanto caricata que lhes aconteceu na vila. Iam de mãos dadas e uma mulher de meia idade abordou-as preguntando se eram namoradas “e nós dissemos que sim”. “Imediatamente a mulher respondeu-nos…deixai-vos disso moças, os homens são tão bons!”, recordam divertidas. 

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E precisamente estas são as perguntas que Maria e Rita ouvem constantemente: Se realmente são namoradas? Se estão certas da escolha que fizeram? Se a Maria, que veste de uma forma mais masculina, é realmente mulher? E é acerca desta última pergunta que o MINHO DIGITAL (MD) quis aprofundar mais nesta relação e nas metas que como casal têm. As jovens pensam em casar e em ter filhos, tudo em Ponte da Barca:.“Nós queremos casar. E casar aqui (Ponte da Barca)! Temos a noção que será o casamento do ano na vila”, afirmam. E sabem que será um acontecimento único porque ainda quando o casamento homossexual é legal desde 8 de janeiro de 2010, nunca se viu um casamento deste género na vila minhota. Sabem que seriam pioneiras e que muitas pessoas ficariam curiosas pelo seu enlace por causa de serem duas mulheres a casarem, duas mulheres a quererem partilhar uma vida em comum e formar uma família. 

Querem ter filhos. Um, concebido por inseminação artificial e outro adotado. Sabem que os comentários vão aumentar quando formarem a sua família. “As pessoas vão sempre olhar, isto vai ser assim a vida toda. E quando tivermos os nossos filhos, perguntarão como vai reagir aquela criança ao facto de ter duas mães”. Rita está a tirar o curso de Educação Básica e explica que no estágio falaram de um livro que expõe os diferentes tipos de casais e famílias que existem: dois pais, duas mães, uma mãe e um pai, uma avó e um avô, uma mãe e um pai solteiros…e aclara que “as crianças acham isto perfeitamente normal e compreendem. Uma delas, nesse estágio, até disse que o seu tio tinha um namorado. As crianças não têm preconceitos nenhuns”, culmina.

Acreditam que tudo vai da educação que as crianças têm. “Nenhuma criança nasce preconceituosa. As crianças são genuínas e boas por natureza. São mais inteligentes do que nós. Não vêem maldade. E todas aquelas crianças que são preconceituosas aprenderam com os adultos”, sentenciam. 

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Deste gosto pelas crianças, nasce o desejo que têm de serem mães. Não poderão conceber de forma natural, mas a hipótese da inseminação está mais do que aceite. Se houver uma gravidez já têm estipulado quem carregará o bebé no ventre. Quando questionadas acerca de quem iria ser a gestante a Maria responde com suma rapidez. “Será a Rita, eu não!”. Explica que sempre se sentiu bem com o seu corpo, embora opte por um estilo masculino na hora de vestir. “Eu nunca pensei em mudar de sexo, nunca! Ser mulher faz-me sentir importante. Nasci mulher, sou mulher e gosto de o ser, simplesmente tenho o meu estilo próprio. Se fosse homem seria complicado… Eu sei que não devia dizer isto, mas eu sinto repulsa do corpo dos homens… Sei que se tivesse nascido homem – aí, sim -, provavelmente, faria mudança de sexo. Nasci no corpo certo. Na hora de formarmos uma família gostaria que fosse a Rita a levar o nosso filho no seu ventre”, explica. Caso sejam compatíveis pensam usar o óvulo da Maria e ser a Rita a gerar. “Queremos que o bebé seja das duas”, asseveram. 

As jovens afirmam que os preconceitos acerca dos casais homossexuais são muitos. “A mim perguntam constantemente como é possível que uma rapariga tão feminina quanto eu seja homossexual”, confessa a Rita. Existem muitos rótulos impostos pela sociedade. “Se és lésbica tens de ser maria rapaz… usar ténis e chapéus. Ou então, se és homossexual é porque algo não anda bem em ti, és doente, e não é nada disso”, esclarecem. 

O preconceito…

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Ele existe e o MD foi à procura das opiniões mais diversas acerca deste tema. Para Adérito Dantas, barquense de gema, de 72 anos, é impensável a existência de pessoas mentalmente saudáveis e que se afirmem como homossexuais. “Para mim, essas pessoas têm algum tipo de devaneio. Não é natural ser homossexual. A homossexualidade é uma doença”. O preconceito não se cinge só às pessoas de média e avançada idade. Existem muitos jovens que, pelas mais diversas razões – credo, família, status – acham que a homossexualidade não é normal e acreditam que todos aqueles que se definem como homossexuais vivem à margem do que é habitual manifestando comportamentos antinaturais.

Filipe Lobo, comercial na área das telecomunicações, de 35 anos, confessa. “Para mim os homossexuais têm algum problema genético. Algo não está bem com eles desde a formação do seu ser… A natureza foi criada para que homem e mulher procriem, só assim a humanidade avança. Se ser homossexual é normal, então o que seria da humanidade? Já estaríamos extintos há muitos anos. Não é natural, não é normal”, culmina.

Maria e Rita sente-se privilegiadas pela forma como ambas famílias reagiram ao facto de elas serem homossexuais. Sabem que há muitas pessoas que vivem em constante suplício por causa de não conseguirem assumir aquilo que são. E não o fazem por diversos motivos e o maior deles – o medo!.  Não querem ser rejeitadas pelas suas famílias e muito menos serem alvo de olhares e comentários por vezes, destrutivos.  

“Em Ponte da Barca há muita gente que não se assume. Nós conhecemos. Temos amigas que não se assumem porque os pais são retrógrados… E conhecemos pais que, a nós, aceitam-nos perfeitamente, mas se fossem os filhos deles… era um sarilho”, asseguram.  

Este preconceito é a causa de muitas pessoas viverem isoladas, muitas vezes com vidas falsas, paralelas. Preferem fingir ser aquilo que não são, antes de se assumirem. Renata (nome fictício por ela escolhido), moradora em Ponte da Barca, também é homossexual. “Desde sempre fui homossexual. Gosto de mulheres, sempre foi assim. A minha família não sabe, e se suspeitam fecham os olhos para não enfrentarem. A minha mãe é sumamente religiosa e muitas vezes, em conversas familiares, tem dito que a homossexualidade não é coisa de Deus e se soubesse que um de nós – seus filhos- era homossexual, seria infeliz para o resto da vida”, confessa com ar abatido.

O preconceito, tão aprisionador e limitante, existe nas mais diversas temáticas: religião, raça, gênero (machismo e feminismo) e constitui uma visão redutora da humanidade. Como Rita e Maria asseguram. “Nenhum humano merece viver prisioneiro dos seus sentimentos ou escolhas. Todos somos humanos e merecemos, acima de tudo, respeito”, culminam.

“Época triste a nossa… é mais difícil quebrar um preconceito do que um átomo”, Albert Einstein. 

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