Editorial

Um chavão vazio de sentido
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Ricardo Rodrigues Gomes

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Ricardo Rodrigues Gomes

Gestor

 

Ao longo das últimas duas décadas tive o privilégio de trabalhar em excelentes empresas providas de magníficas equipas de gestão. Liderei, mais recentemente, a gestão de duas empresas onde tivemos a felicidade de as coisas correrem muito bem.

“A gestão consiste em fazer as coisas bem, a liderança consiste em fazer as coisas certas”. Devo confessar que, esta citação de Peter Drucker acompanha-me há muito tempo e encapsula em si diferentes dimensões da gestão que faço questão de levar em linha de conta no exercício da minha profissão.

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A saber:

i) Liderar pelo exemplo;

ii) Valorizar a sustentabilidade e visão de médio-longo prazo;

iii) Trabalhar com equipas motivadas e com um excelente quadro de competências;

iv) Criar um ambiente interno pautado pela procura da superação, da melhoria continua e apresentação consistente de resultados por objetivos. 

Efetivamente, tudo o que sei, ou julgo saber, em matéria de gestão, em grande parte, deriva deste conjunto de experiências.

Sempre procurei trabalhar com os melhores e com quer ser melhor. Por aqui, facilmente, se percebe que sou um convicto defensor da meritocracia. No entanto, nem toda a gente pensa exatamente desta forma. Bastará referir que, a sociedade portuguesa é, há séculos, eminentemente clientelar. Uma nação onde sempre predominou o poder das redes clientelares e não o poder dos que fazem melhor. Seguramente, não faltarão exemplos que poderiam ser utilizados para ilustrar o que acabei de referir. Mormente, no sector público. Uma constatação que, à primeira vista, pode passar quase despercebida.

No entanto, este facto representa, por si só, um aspeto de vital importância caso se pretenda compreender, um pouco melhor, a maioria das razões que estão na génese do atual estado do Estado.

Um Estado que continua a deixar transparecer, com frequência, a nítida sensação que, ser simpatizante da cor, seja familiar, amigo ou adepto da claque, é a verdadeira condição que interessa preservar. Tudo em prol do poder a manter ou deter. Nem sempre, muito pelo contrário, tendo no horizonte, o desígnio do bem comum, como seria de esperar.

Verdade seja dita, as iniciativas levadas a cabo com a implementação do SIADAP ou da CRESAP, entre outros, comportam o desiderato de procurar valorizar o mérito. Infelizmente, continuam a existir abundantes sinais públicos do desfalecimento do mérito em detrimento de outras razões que a razão desconhece.

Claro está que, a cor política do funcionário público não deveria ser a bitola para o seu recrutamento ou promoção. Nem tão pouco para o seu despedimento ou despromoção. No entanto, a realidade dos factos remete-nos para um cenário bem diferente em diversas circunstâncias.

Obviamente que, com este modus operandi, somente os apaniguados das redes clientelares conseguem obter emprego. Um emprego que nem sempre resulta da efetiva avaliação curricular ao quadro de competências necessário ao desempenho da função.

Evidentemente, estas práticas reiteradas, consolidam, em tantos casos, a ideia de que a meritocracia não constitui critério de escolha. E, ao fazê-lo, só se está a contribuir para a captura do regime pela lógica partidária, ignorando-se, na sua essência, o serviço público, fragilizando-se a democracia e, assim sendo, a própria nação.

Claro está que, continuo a pensar que seria muito importante a introdução plena e efetiva da meritocracia no léxico nacional. A cultura do mérito deveria deixar de ser um simples chavão vazio de sentido. Pelo futuro do país.     

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