Editorial

UMA ESPÉCIE DE DESMAME
Zita Leal

Zita Leal

Zita Leal

Professora

(Aposentada)

Felizmente nunca tive necessidade de fazer um desmame de medicamentos ou de qualquer outra coisa que requeresse desabituação, mas, por testemunhos de amigos, não é fácil. Chega a ser muitíssimo doloroso. E nesta altura de exílio de abraços, parece-me que estou mesmo a fazer um desmame…

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Há dois meses e meio que o almoço de domingo deixou de ser.

Nunca mais dei voltas à cabeça para resolver o problema do gosto e não gosto da garotada: bacalhau não, que tem espinhas, porco não, que tem gordura, vaca não, que é seca, frango, tem pele gorda, cabrito, pode ser cão, coelho, pode ser gato, as batatas engordam, enfim…

Era um desatino a minha actividade de cozinheira de serviço, mas eu adorei sempre essa confusão na cozinha. Como a minha cozinha é pequena e todos queriam ajudar, a conversa era sempre a mesma: “ está muita gente na cozinha; a andar, a andar que eu quero mexer-me e não posso “.

E era uma risada aos encontrões uns aos outros. Isto foi há dois meses e tal ou foi há dois anos? Fico baralhada…

Agora, não. É um descanso. Não há cá hesitações na feitura da ementa. Só pergunto ao companheiro: “ peixe ou carne?” É uma pergunta de retórica, porque ele não gosta de peixe e eu sei sempre o que cozinhar.

A outra face deste sossego aparece agora e não me deixa feliz. Sem me dar conta fui fazendo o desmame desta azáfama na cozinha e vou desligando da procura de receitas novas que agradem a gregos e a troianos. Dou por mim quase no final do desmame dos cozinhados.

Pois. Devia estar feliz e contente a saborear o descanso do “ farniente”, não era? Mas não estou.

E digo aquela frase “ batida neste resto da minha vida”: “ voltem a invadir-me a cozinha, voltem às preferências da carne ou peixe que estão perdoados! “

TENHO SAUDADES VOSSAS.

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