UMA REDE DE SANEAMENTO POR CONCLUIR

Miguel Nogueira

( Psicólogo)

É sabido que a entrada de Portugal na União Europeia (antiga CEE) permitiu o recebimento de centenas de milhões de euros, no sentido de corrigir as assimetrias nacionais e o atraso de desenvolvimento relativamente aos países do norte e centro da Europa. Os fundos emanados de Bruxelas tem servido para tudo, para o bom, para o assim-assim e para o mau. Quem não se lembra, por exemplo, do desperdício e dos atropelos verificados ainda na década de 80, nos primeiros cursos de formação profissional?

Vieram depois os dinheiros para infra-estruturas, obras públicas, requalificação de vilas e cidades, preservação do património, aposta na cultura, agricultura e defesa da floresta.

Nos concelhos alto minhotos, muito foi o dinheiro injectado, recordando-se a requalificação urbana das localidades, com destaque para as polis, a construção de diversas vias de comunicação, a reabilitação de muitos edifícios carismáticos, a ajuda para a consolidação de alguns projectos que tem permitido a afirmação cultural do Alto Minho e de alguns concelhos em particular.

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Paredes de Coura viu na década de 90 surgirem as piscinas municipais, o Centro Cultural, as zonas industriais. Na década seguinte veio a transformação do centro da vila, o arquivo municipal e os famosos parques de estacionamento subterrâneos. Ao longo desse tempo, o mais visível foram as centenas de quilómetros de asfalto ao longo de todo o concelho e os inúmeros cursos de formação profissional. E também as necessidades básicas das pessoas não foram esquecidas, havendo um reforço dos ramais de electrificação, da distribuição de água canalizada e o lançamento do audacioso objectivo de levar o saneamento básico aos quase dez mil habitantes. Passada mais de uma década desde o início das obras que visavam disseminar a rede de saneamento por todo o concelho e depois de muitos milhões de euros recebidos para esse fim, o grande projecto do saneamento continua por concluir (apesar de se dizer que está praticamente concluído há diversos anos). Uma ronda mesmo que não muito atenta, permite verificar que em algumas freguesias, existem lugares inteiros aonde o saneamento não chegou e não se tenciona fazer chegar. O argumento invocado passa pelo isolamento desses lugares ou do declive em que os mesmos se encontram, o que faria disparar o custo das intervenções, colocando-se, em alguns casos, à responsabilidade dos moradores a chegada do sistema, devendo estes custear centenas, senão mesmo milhares de euros. Noutros casos, as obras consideram-se terminadas, mas na verdade as redes de saneamento não se encontram a funcionar ainda, ou permaneceram por funcionar durante diversos anos. Existe ainda a evidência das dezenas de vias (em alguns casos troços de estradas nacionais), que se encontram muito deterioradas, tendo algumas delas sido já arranjadas, mas que rapidamente voltaram a ficar esventradas e escavacadas.

Mas a questão essencial e onde importa colocar a ênfase é mesmo na taxa de cobertura da rede de saneamento e no número de habitantes (ou casas habitadas) que inclui e no real número dos que foram deixados de fora. Sem querer arriscar um número, já que tal careceria de um rigoroso levantamento freguesia a freguesia, arrisco-me a dizer, sem hesitações, que um saneamento assim está ainda muito longe de se poder considerar como concluído!

geral@minhodigital.pt
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