Uma Viagem Remota à Louça Regional de Viana num Projecto de Isabel Lima

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A celebração do Dia internacional dos Museus em Viana do Castelo, foi assinalado com uma intervenção contemporânea no Museu de Artes Decorativas. Mais uma excelente iniciativa da conhecida Estilista e Designer Isabel Lima!

O benefício de um “museu aberto” é gerar opiniões em total liberdade, potencializando a ligação com os símbolos da história, da tradição, do artístico, representadas em modernas manifestações.

As intervenções contemporâneas associadas às transformações sociais constituem simultaneamente um desígnio e um desafio, ambicionando valorizar outras versões demonstrativas no quadro da dinâmica museológica.

Os Museus são espaços de encontro e centros de interpretação, onde se conta uma história, se divulga cultura e se constrói conhecimento.

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Isabel Lima, conhecida estilista vianense e Professora de Educação Visual e Tecnológica, impulsionada pela emotividade criadora e por um forte empenho na difusão do património, apostou num projeto integrador e num testemunho de pedagogia artística motivando cem alunos do  2º ciclo do Ensino Básico do Colégio do Minho para,  numa perspectiva social e individual, explorarem a história artística da louça “pintada à mão” da cerâmica regional de Viana. Os alunos abraçaram a identidade deste património através da criação artística e da intervenção comunitária.

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Este projeto de ensino teve parceria com o Pelouro da Educação e Qualificação, Cultura e Património, Turismo da Câmara Municipal de Viana do Castelo, dirigido pela Dr.ª Maria José Guerreiro.

O município de Viana do Castelo é Membro da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas Cerâmicas, que tem como objectivo a defesa, valorização e a divulgação do Património Cultural e Histórico Cerâmico, bem como o intercâmbio de experiências entre associados, nomeadamente a nível da conservação do Património.

Esta Associação tem, ainda, como objectivo a promoção da criação artística e a difusão da cerâmica tradicional e contemporânea, o incentivo das relações de cooperação e o intercâmbio entre os municípios associados a nível nacional ou na rede europeia.

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Refira-se que Viana do Castelo foi um dos mais importantes centros cerâmicos do país. As louças assumiram grande notoriedade, pela qualidade e valor artístico.

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A produção das reconhecidas faianças de Viana, englobando essencialmente louças de mesa e ornamentais, tem o seu início no último quartel do século XVIII, com o nascimento da Fábrica de Louça de Viana do Castelo, fundada em 1774, a qual se estabeleceu na margem do rio Lima, no lugar do Cais Novo, na freguesia de Darque, facilitando o escoamento da produção por via fluvial e marítima e beneficiando, paralelamente, da proximidade das barreiras de Alvarães. A partir da barra de Viana do Castelo, as louças aqui fabricadas foram exportadas para a Galiza e diversas cidades no Brasil, um dos seus maiores mercados.

As célebres faianças de Viana do Castelo, que alcançaram grande difusão nacional e internacional, evidenciam a uma evolução técnica do processo produtivo e a sua decoração percorre diversas fases estilísticas, do barroco, especificamente com elementos rocaille, ao neoclassicismo.

A qualidade material e estética da louça da Fábrica de Viana atinge o seu auge no seu segundo período de laboração, na transição do século XVIII para o XIX .O refinamento da técnica de produção origina uma pasta fina e leve, bem como um esmalte lácteo e brilhante. Simultaneamente, com a introdução do policromismo, após o período onde a “louça azul” foi exclusiva, abrem-se novas possibilidades decorativas. As louças de Viana são, nesta fase, alvo de uma procura crescente. Joaquim de Vasconcelos, distinto ceramista, terá afirmado a propósito da Fábrica de Viana que não se fez em parte alguma do pays faiança que a excedesse: cozedura perfeita, bom esmalte, desenho e côres apuradas, quasi em miniatura; formas esbeltas, lisas e moldadas, numa escala infinita, que denuncia um consumo enorme!

Em 1947 fundou-se a Empresa Cerâmica Regional Vianense, Lda, na freguesia da Meadela, que já cessou o seu fabrico. Esta fábrica terá produzido peças com decoração inspirada no Neoclassicismo oitocentista, entre outras com decoração mais contemporânea. Nesta época, a louça é essencialmente em grés fino, sendo notória uma forte mudança relativamente ao fabrico original.

No ano 1999 a Fábrica de Louça Regional de Viana foi distinguida como Instituição de Mérito da cidade de Viana do Castelo, pela “nobreza do seu passado e por constituir um valioso património cultural do município”.

Obedecendo ao pensamento do primeiro momento, segundo Isabel Lima “este projeto foi alargado a diversas iniciativas das quais os alunos usufruíram e participaram ativamente ao longo do período escolar, como a visita ao Museu de Artes Decorativas, e ao Museu da Fábrica da Louça da Meadela”.

Assistiram à demonstração sobre “pintura em cerâmica” pela ex-operária da Fábrica da Meadela, Olívia Pimenta, e à apresentação, pelo colecionador Hugo Lima, de faianças da antiga Fábrica da Louça de Viana, algumas das quais, fizeram parte da intervenção. O enquadramento da “obra artística” com o acervo do Museu numa “Montra Viva” traduz o culminar do processo e materializa o “pensamento criativo, provando exemplos de cidadania e da alma de ser vianense.”

E acrescentou; “este projeto de ensino tem tanto de inovador como de integrador” e a “obra artística” foi desenvolvida num estilo “realista”, estabelecendo um paralelismo com antecedentes históricos. O projeto desenvolvido totalizou trezentos desenhos de figuração geométrica, com formas quadradas, circulares, esféricas, curvilíneas, arredondadas, irregulares, diagonais, verticais e horizontais, e de pinturas de um significado simbólico, com cores intensas, nítidas e brilhantes, que constam da decoração e composição de oitenta e dois pratos.

As propostas estéticas da modelagem de vestidos de papel e adereços, padronizados com ilustrações inspiradas na decoração da louça regional de Viana, “alicerçam-se na semiótica das peças de olaria”.

Exuberantes peças de Louça Regional de Viana decoradas com motivos religiosos, florais, brasões de famílias antigas de Viana, num total de 100 peças, foram apresentadas nesta “Montra Viva” como “narrativa artística” pelos cem alunos, conduzidos por Isabel Lima.

Esta viagem emotiva ao universo da Louça Regional de Viana, fez a diferença na Noite dos Museus, que deslumbrou as centenas de participantes, pela grandeza do projeto.

Notícia anterior e relacionada:

https://www.minhodigital.com/news/arte-viva-uma-viagem-remota

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