Editorial

Vacina para uma mente sã
Joana Cardoso

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Arquitecta

 

– Corona… quê? Nunca ouvi falar! – diz Ninguém.

 Em poucas semanas, o mundo ficou de pernas para o ar. As ruas esvaziaram-se, os meninos deixaram de ir à escola e os abraços viraram pecado capital.

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Qualquer mudança causa transtorno, uma vez que as nossas cabeças precisam de se adaptar à novidade. Como tal, não é de surpreender que uma alteração tão súbita e profunda do nosso dia-a-dia nos tenha deixado desnorteados.

 

Para manter a cabeça fresca nestas semanas atribuladas, criei uma lista de medidas práticas e simples. Enquanto a vacina para o corpo não chega, criemos nós uma vacina para a mente:

  

1 – Afastemo-nos das redes sociais.

 

Agora que passamos bastante tempo em casa, o tempo livre – sempre tão escasso – cresce um pouco. É tentador usar as horas extra nas redes sociais mas, se prezamos a nossa saúde mental, fujamos dessa armadilha. WhatsApp, Facebook, Twitter e outros que tais abundam em informação mais ou menos credível e em conteúdo criado para puxar à emoção – leia-se pânico.

 

Claro que é importante mantermo-nos informados. Para tal, sugiro limitarmo-nos a duas ou três fontes de informação fiável, incluindo o site da Organização Mundial de Saúde. Passar horas sem fim a ler testemunhos pungentes de médicos italianos em hospitais à beira do colapso, ou vídeos de pessoas a lutar por papel higiénico nos supermercados, não vai ajudar ninguém a responder a esta situação com clareza de espírito e eficiência.

 

2 – Escolhamos criteriosamente as fontes de informação e não as consultemos mais do que duas ou três vezes por dia.

 

Após escolhermos as nossas fontes de informação, sejamos moderados. Notícias são atualizadas quase ao minuto, criando a irresistível tentação de ficar colado ao telemóvel. Mas, para quase todos nós, não faz diferença saber as novidades agora ou daqui a umas horas. Um consumo obsessivo e constante de informação resultará numa grande dor de cabeça, e uma cabeça latejante não é adequada para responder aos desafios da vida.

 

3 – Pull yourself together!

 

O pânico generalizado agrava qualquer situação. É importante mitigá-lo usando todas as armas disponíveis contra ele. Aproveitemos o tempo de modo produtivo. Trabalhemos, meditemos, façamos exercício ou ponto de cruz – qualquer atividade que foque a nossa atenção e combata o stress. Porque não ler aquele romance bem-disposto que lhe ofereceram no Natal? Ou finalmente começar (ou acabar…) Em Busca do Tempo Perdido?  Se calhar é desta que arranja tempo.

Uma mente repousada é mais resistente ao pânico e contribui para um ambiente calmo, essencial para o bem-estar de todos em situação de quarentena.

 

4 – Pensemos antes de partilhar

 

Ainda com o objetivo de controlar o pânico, pensemos duas vezes antes de partilhar textos, vídeos e imagens sobre a Covid-19 nas redes sociais. Cada mensagem incorreta ou desnecessariamente assustadora tem o potencial de criar um problema muito pior do que a pandemia. Uma doença pode ser controlada seguindo os conselhos da Organização Mundial de Saúde; maluquinhos com teorias da conspiração ou lutas no supermercado podem tornar-se um caso mais bicudo.

Antes de enviar qualquer conteúdo, reflitamos: os nossos contactos precisam mesmo de mais spam Covid-19? A informação que queremos transmitir vai ajudá-los ou vai deixá-los mais frustrados, cansados, assustados e menos aptos a lidar com a situação? Enviemos apenas informação útil.

 

5 – Sejamos ponderados

 

Na era do Twitter, de posições a preto-e-branco e discussões acaloradas, é difícil manter a cabeça fria e perceber as implicações de cada medida tomada. Nunca foi tão simples criticar, barafustar, culpar.

É fácil esquecer que estamos perante um problema complexo, para o qual há que ter paciência e uma atitude proactiva. Se houvesse uma solução milagrosa, esta já teria sido tomada.

Sejamos compreensivos. Respiremos fundo e tentemos perceber posições diferentes das nossas. Menos crítica, mais amor.

 

Sermos responsáveis não se limita a lavar bem as mãos e a manter distância social. Responsabilidade também passa por ser criterioso no que se lê e no que se diz. Ser responsável é cultivar a nossa saúde mental para podermos enfrentar as circunstâncias com clareza, tornando tudo mais fácil para nós e para os que nos rodeiam.

 

Numa era de excesso de informação e desinformação, em que uma centelha de pânico facilmente conflagra num incêndio, vale a pena relembrar a velha máxima britânica: Keep Calm and Carry On. Mesmo que a parte do Carry On tenha que ser feita em casa, através da internet, com a filharada a correr de um lado para o outro.

 

Jothemonster.com

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