Vala aberta há dois meses na origem de um “clima de guerrilha” em Lindoso

Vala em volta de uma casa

Não se fala de outra coisa em Lindoso há dois meses.

Em causa uma vala que foi aberta no passado dia 8 abril para substituição de tubagens junto à Porta de Lindoso (e igreja local), nas “costas” do Castelo e da Eira Comunitária. Volvidos dois meses, o buraco continua destapado.

O litígio envolve Secundino Fernandes, que preside à Junta de Freguesia e ao Conselho Diretivo dos Baldios, e Carlos do Canto, candidato derrotado às últimas eleições dos Baldios, com este a denunciar “vinganças” a “atitudes repressivas” por parte do primeiro. Mas o visado, Secundino Fernandes, desmonta a tese e contra-ataca, alegando que o queixoso só quer criar “atritos”. As desinteligências, ao que tudo indica, vão ser dirimidas na barra do tribunal.

Vamos aos factos e aos argumentos dos protagonistas em liça. Segundo Carlos do Canto, “a vala foi aberta no dia 8 de abril e, no mesmo dia, a água ficou remendada. Deixaram o buraco aberto, uma vala de grandes dimensões, impedindo-me de tirar os carros da garagem e vedando o normal acesso aos moradores, e até amplificaram o fosso nos dias 11 e 12 de abril. Fiquei com os quatro carros presos, pois não deixaram que eu os tirasse nem tão-pouco me avisaram antes de os trabalhos arrancarem… De resto, também não fizeram alargamento do caminho e só me têm arranjado transtornos.”

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Confrontado com o teor destas declarações, Secundino Fernandes apresenta uma versão – completamente – diferente dos acontecimentos. “Antes de a vala ser aberta, ele [Carlos do Canto] foi avisado pelos funcionários da Porta do Lindoso e do empreiteiro, e, na nossa presença, tirou uma viatura (a esposa dele já tinha outra viatura no exterior). Posteriormente, no dia seguinte a esta comunicação, ele ligou à GNR a dizer que tinha de viajar para Braga e tinha a viatura retida. A Guarda veio tomar conta da ocorrência, verificando que ele estava a inventar, pois tinha duas viaturas fora, mas, naquele dia, alegou que não queria ir a Braga com estas, mas com outras que estavam na garagem”, diz.  

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Mas Carlos do Canto contraria as explicações do presidente da Junta e acrescenta novos dados ao enredo. “Contactei logo o senhor Secundino Fernandes que, com arrogância à mistura, proferiu injúrias à minha pessoa. Tive de pedir um carro emprestado, porque estavam todos presos [na garagem]…”, conta o queixoso, acusando, ainda, a Câmara Municipal de “inércia” e de ter “recebido ameaças por parte de um elemento da empresa empreiteira.”

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Questionado sobre o real fundamento deste relato, Secundino Fernandes devolve as denúncias e recupera uma história para deslegitimar o denunciante. “O senhor [Carlos do Canto], desde o início dos trabalhos, não tem parado de criar atritos. Entre outros aspetos, já alegou que as obras não oferecem condições de segurança nem estão devidamente sinalizadas, que a vala continua aberta por nosso capricho, que já caíram pessoas no buraco e até que um cão terá morrido lá. Todos os dias inventa uma história”, sentencia.

O autarca aponta, ainda, as “fricções de Carlos do Canto com os fiscais de obras da Câmara Municipal de Ponte da Barca, em 2014”“devido a obras clandestinas, às quais a Junta não deu o apoio solicitado por ele” – como o episódio desencadeador do atual clima de guerrilha.

Na resposta, Carlos do Canto rebate as “difamações” e revela os “contratempos” que tem experimentado estes dois meses. “Tenho o acesso vedado à minha garagem e, quando arrisquei tirar de lá um dos carros, através de uma pequena passagem que tive de improvisar, acabei por danificar a viatura… Muito recentemente, no dia 10 de junho, a minha filha, de 5 anos, caiu na vala e teve de receber tratamento hospitalar… Quer dizer, tem sido problemas atrás de problemas… Mais exemplos? A operação de tapamento da vala só começou a 25 de maio, devido à má conceção da obra, mas os trabalhos foram interrompidos, e a vala está por fechar! Tudo isto é uma vingança por eu ter sido candidato numa lista contrária [aos Baldios de Lindoso], facto que espoletou este clima de repressão: desde essa altura, o senhor presidente da Junta tem tramado a minha vida”, desabafa.

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O morador Carlos do Canto tem os acessos à sua casa ‘cortados’, completamente cercado.

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Mas o autarca Secundino Fernandes, sobre o arrastar da obra, adianta razões técnicas. “Houve que substituir a tubagens e, depois, numa zona mais funda, registaram-se abatimentos, inclusive houve uma derrapagem hoje [14 de junho]. Ou seja, devido ao mau tempo, não tem sido possível avançar com a obra ao ritmo que as pessoas desejariam, porque não é possível mexer em terra molhada, sob pena de o piso, mal consolidado, abater novamente”, diz o presidente da Junta, cansado dos “atritos” e das “invenções” de Carlos do Canto. Que, conta Secundino, “ainda deve estar chateado por ter perdido as eleições dos Baldios, após votação esmagadora na minha lista.”

E, no mesmo tom, concretiza o avolumar das desinteligências. “Desde o dia 11 de abril, o senhor Carlos, que entra e sai com os carros todos os dias da garagem, tem feito um cerco de queixas em vários locais. De lá para cá, nunca mais parou com denúncias à GNR e ao Ministério Público, além de mandar emails em nome de advogados e de vir para a comunicação social… Parece que não tem mais nada que fazer”, atira.

No contra-ataque, Carlos do Canto lembra que tudo estaria sanado “se, neste diferendo, a Junta, a Câmara e a Proteção Civil tivessem feito a sua parte na altura certa”. “Só que a indiferença destas entidades é que não é solução para nada”, dispara.

Mas o “pingue-pongue” não se fica por aqui. É que um outro grande “pomo de discórdia” diz respeito à titularidade do caminho em fase de intervenção. “É [caminho] público!”, garantem os críticos do presidente da Junta, que, no entanto, defende o contrário. “Aquilo não é caminho público, é, sim, propriedade da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia, servindo de passagem a umas propriedades agrícolas, segundo usos e costumes, na altura de sementeiras e colheitas”, argumenta Secundino Fernandes.

Com posições tão extremadas, e sem solução à vista para este litígio, o presidente da Junta encerra a desgarrada com um repto e uma promessa. “Quem for ao local verifica que deixámos um caminho para ele passar (se quiséssemos não o fazíamos, porque o acesso destina-se apenas a servidão agrícola) e, quanto à conclusão da obra, estamos todos empenhados nisso, assim o tempo também ajude”, compromete-se.

Por isso, a obra “está em andamento” e, “sem o propósito de a ultimar em prazo recorde”, a mesma está, no entanto, dependente da “disponibilidade da equipa de calceteiros da Câmara Municipal”, avisa Secundino Fernandes.

A empreitada, além da substituição de tubagens, abrange investimentos na rede de abastecimento de água e na requalificação da área envolvente.

Reportagens televisivas:

http://www.altominho.tv/?page=video&videoid=MTBpnPtv9Ro

https://www.youtube.com/watch?v=MTBpnPtv9Ro

Obras intermináveis com todos os prejuízos para os moradores

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