Editorial

VENDEDORES DE ESPERANÇA
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Ricardo Rodrigues Gomes

Ricardo Rodrigues Gomes

Gestor *

 

Nestas circunstâncias, repletas de incerteza e de ceticismo, é fundamental para os líderes, quaisquer que sejam os desafios com que cada se defrontará tenham um quadro de referência sobre o futuro. Sejam municiadores de um horizonte de esperança. Afinal de contas, citando Napoleão Bonaparte: “Um líder é um vendedor de esperança”.

 

Escreveu Camões n’Os Lusíadas que os Portugueses de Quinhentos avançavam, aventurosos, “por mares nunca dantes navegados”. Uma jornada difícil, repleta de riscos, envolvidos que estavam “em perigos e guerras esforçados”, ultrapassando limites que, na época, pareciam inultrapassáveis, sendo necessário “mais do que prometia a força humana”. Ao carregar no botão da máquina do tempo, pulando mais de cinco séculos até aos dias de hoje, poderíamos utilizar estas expressões para caraterizar o estado atual das nossas vidas.

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Tenho vindo a referir que, compete a cada um de nós, dentro das circunstâncias irrepetíveis que atravessamos, aceitar e reconhecer que o futuro continua incerto e imprevisível. No essencial, restará a tentativa apressada de preparar as pessoas e as empresas com as competências e os recursos indicados. E a necessidade de dotar as organizações de ambivalência. Por um lado, dedicando parte da sua estratégia ao desenvolvimento do modelo de negócio atual, de forma a ser obtido o máximo rendimento possível das vicissitudes do mercado. Por outro lado, reforçando a vocação para a inovação, exploração de novos modelos de negócio, novos mercados, novas propostas de valor, digitalização dos negócios, novas cadeias de abastecimento, entre outros aspetos.

 

Citando Leon C. Megginson: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.” O ponto crítico para as organizações e para cada um de nós, enquanto indivíduos, em diversos casos, incide na rapidez da capacidade de adaptação. Ainda assim, recorrendo a um chavão proferido vezes sem conta, os tempos adversos podem ser, também, sinónimo de novas oportunidades. Exista, para tal, o cuidado de incorporar nesta complexa equação duas variantes que me parecem decisivas.

A saber:

i) A imprescindível adaptação a um novo mundo em que a tecnologia terá um papel absolutamente preponderante na vida das pessoas e organizações.

ii) E, inevitavelmente, a devida valorização dos aspetos da vida das pessoas e das organizações que são realmente determinantes para obtenção de satisfação e bem-estar.

 

Analisando por outro prisma, não menos importante, estou em crer que, a humildade pode ser, em tantas circunstâncias, o ingrediente chave dos grandes líderes. Richard Fuld, que conduziu o Lehman Brothers ao precipício, afirmou publicamente anos antes da queda: “Preocupa-me que possamos ficar arrogantes. Quando nos tornamos arrogantes, perdemos o nosso caminho e começamos a cometer erros”.

Na verdade, a humildade mune o líder com uma maior capacidade para ouvir vozes críticas, escutar, assumir erros e aprender com os mesmos. Leva-o a reconhecer o mérito e os contributos dos liderados e a partilhar honras. Previne o desenvolvimento da soberba. Encoraja-o a realizar o exercício de autorreflexão e autoconhecimento. Infelizmente, este nobre atributo continua a ser incompreendido em tantos casos, refira-se, numa sociedade tão apreciadora do “líder pavão”.

 

O âmbito da reflexão à citação mencionada no paragrafo anterior pode levar-nos, também, para a dimensão da liderança com ética. Embora a teoria ética seja, desde a sua origem, por natureza e condição, uma disciplina filosófica, a ética nos negócios recebe influência de outros campos, como a epistemologia, antropologia filosófica ou ontologia.

Buscando discernir a boa e a má conduta e a relação entre conduta adequada e satisfação, a ética tem vindo de forma crescente a ganhar importância e espaço nas organizações devendo, obrigatoriamente, assumir-se cada vez mais como um fator chave da sustentabilidade empresarial. Digo isto porque, sabe seguramente, quem alguma vez se interessou pelos temas de Gestão, a importância da humildade e da ética, aliadas à cultura de exigência, no desempenho de uma Organização.

 

Concluindo, quis o destino que as gerações atuais fossem confrontadas com um desafio de proporções e consequências inimagináveis. Nestas circunstâncias, repletas de incerteza e de ceticismo, é fundamental para os líderes, quaisquer que sejam os desafios com que cada se defrontará tenham um quadro de referência sobre o futuro. Sejam municiadores de um horizonte de esperança. Afinal de contas, citando Napoleão Bonaparte: “Um líder é um vendedor de esperança”.

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Dados biográficos

Ricardo Rodrigues Gomes, 44 anos, casado, duas filhas. Natural do Porto.

 

Ingressou na Universidade do Minho, no ano letivo de 1994/95, tendo concluído a licenciatura (pré-Bolonha) em Engenharia Mecânica em 1998/1999. Neste âmbito, é agraciado com um prémio de mérito académico do PRODEP. Regressa à Universidade do Minho, em 2005/2006, para realizar uma pós-graduação em Engenharia Industrial. Em 2008/2009, frequenta com aproveitamento o Programa Avançado de Gestão para Executivos na Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica Portuguesa.

 

Iniciou o seu percurso profissional em 1999, na Auto-Sueco, empresa do grupo Nors, representante da marca Volvo em diversos países. Ao longo de cinco anos assume inúmeras funções, tanto no retalho, assim como, no importador desta marca. Em 2004, é convidado para um novo projeto profissional, passando a integrar os quadros internacionais da Renault Trucks Commercial Europe. Em 2006 é nomeado Diretor Geral da Renault Trucks Lisboa onde permanece até finais de 2008.

 

Em 2009, regressa aos quadros do grupo Nors, multinacional de origem nacional, efetuando o seu percurso profissional na Civiparts até 2012, tendo liderado a globalidade da operação comercial nos mercados de Portugal, Espanha, Angola, Marrocos e Cabo Verde. É nomeado Diretor Executivo do grupo Nors, em 2012, passando a liderar a Civiparts em Espanha. Em 2015, é nomeado Diretor Geral da Galius, representante exclusivo da marca Renault Trucks em Portugal, onde permanece até ao final de 2019.      

 

É, atualmente, Administrador Executivo na Hivolve, empresa tecnológica que cofundou em 2018. É, também, Diretor Geral na Ricardo Gomes – Consultoria Empresarial. É membro sénior da Ordem dos Engenheiros e membro convidado da Sociedade de Geografia de Lisboa. Integra, como dirigente, os órgãos sociais de diversas associações.

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