Editorial

Venezuela, mi corazón!
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Manso Preto

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Vanessa Reitor

Jornalista

Directora Adjunta

Os últimos 20 anos da história da Venezuela têm sido marcados pela sombra, pela decadência, pela miséria. Temos sido testemunhas da deterioração das instituições, das leis, mas acima de tudo, do país. Destes 20 anos, tenho vivido 10 fora, o que não significa que seja alheia a tudo o que lá se vive.  

Quando temos a fortuna de nascer e crescer numa terra como a Venezuela, as raízes, vivências, experiências e amizades, dificilmente se esquecem. Podemos até emigrar, passar anos fora, mas o coração fica sempre lá! No nosso berço, no cantinho no qual nos sentíamos plenos, felizes, seguros – apesar das dificuldades.

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Um dia, alguém muito próximo de mim, disse-me: “eu não consigo perceber o amor que tu, e todos os venezuelanos que conheço, têm pelo vosso país. Está totalmente destruído, com graves problemas económicos, sociais, e ainda assim, sois as pessoas mais patrióticas que alguma vez vi!”  Eu ouvi, em silêncio, e esbocei um sorriso, pensando: “é normal que não perceba! Para qualquer pessoa é difícil perceber este amor, esta paixão, este sentimento de pertença”. Porque para nós, venezuelanos, o nosso país é muito mais do que um Estado totalmente destruído pela má gestão dos governos. É muito mais do que a violência que tem vindo a crescer nos últimos anos. Para nós, a Venezuela, é as lembranças de acordar de manhã, bem cedinho, a sentir o calor dos raios do sol no rosto! É a alegria de viver num eterno verão, onde não tens de te preocupar pelas estações climatéricas porque com uns chinelinhos de dedo podes caminhar o ano todo! É a descontração de poderes chamar toda gente de “tu”, e não por isso estar a ofender ou a ser mal-educado. É viver num país onde os teus vizinhos e amigos são como família e quando alguém faz anos, ou chega o Natal, todos se juntam para festejar e conviver!

É viver num país onde amanhece bonito. Onde o céu tem um azul duma clareza incomparável! Onde se ouve música alegre e qualquer momento é digno de ser celebrado a dançar! É ter nascido na terra dos abraços fáceis, dos sorrisos rasgados, da simpatia em cada esquina! É saber que tivemos a honra de ter nascido no melhor país do mundo -digam o que disserem!

Por isso, nestes dias todos e cada um de nós, venezuelanos, que vivemos fora, sentimos que uma parte do nosso ser fugiu! É em dias como estes que a incerteza e a dor nos embargam a vista. São horas e momentos que poderão vir a ser decisivos para acabar com estes 20 anos de dor, de miséria, de morte, de humilhação. É sentirmos uma real esperança em que tudo poderá melhorar e – quem sabe – começar a reconstruir o país.

Para todos nós, venezuelanos, neste 23 de janeiro reabriu-se a possibilidade de encontrar uma luz ao fundo do túnel, de poder vivenciar a mudança, e só de pensar as lágrimas invadem os olhos. Porque ainda quando vivemos atualmente noutros países, com outras culturas igualmente ricas e encantadoras; ainda quando conhecemos pessoas maravilhosas no nosso caminho, e a nossa vida esteja equilibrada, todos nós, quando decidimos abandonar a nossa Venezuela e pusemos o cadeado na mala, lá no fundo, bem escondida – para que não doesse – estava guardada a esperança de regressar e de viver novamente naquela terra cheia de graça!

Que nos viu nascer, crescer, e muito provavelmente, nos verá regressar!

Fuerza a todos nuestros hermanos que, dia a dia, luchan por sobrevivir!

Te amo Venezuela!

https://youtu.be/xBclAazBLeY

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