Editorial

A VERGONHA DOS COMPÈRES
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Joaquim Letria

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 Joaquim Letria

Professor Universitário

Numa noite destas pude assistir a um espectáculo lindo e único num dos canais nacionais de TV. Principalmente rendi-me à rábula do ex-ministro Armando Vara, antigo peão de brega da quadrilha de Sócrates que o país aguarda ver atrás das grades depois dele ter dissipado múltiplos milhões de euros nossos. Mas Vara, naquelas circunstâncias que algum amigo lhe proporcionara, fez o que esperamos que ele faça em vara larga.

Mentiu e claro, como os seus próximos companheiros sempre fazem, declarou-se inocente, apesar de condenado por quatro tribunais e bastantes juízes que igualmente lhe recusaram qualquer recurso e chumbaram todos os apelos, já vai para oito anos, pelo menos.

Mas para mim, que já fui do ofício, o maior espectáculo foi dado pelos jornalistas sentados no estúdio com Vara. Entrevista aquilo não foi. Tratou-se de mais uma má representação de compères, tão maus que não teriam lugar na revista à portuguesa que antigamente se representava no Parque Mayer, onde trabalharam alguns excelentes actores e muita gente séria.

O insólito da situação é terem facultado ao homem a oportunidade de mais uma vez não ter vergonha nenhuma e vir mentir e falar para mais dum milhão de portugueses no bom estilo do Sócrates ou do Bruno de Carvalho.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Na informação das televisões não há jornalistas. Há “compères”, meninas e meninos a quem ensinaram a dobrar a espinha e a falar com simpatia com gente que deveriam entrevistar mas que são avisados para não o fazer se verdadeiramente quiserem progredir na carreira. E eles progridem… progridem… progridem sem a menor precariedade.

Hoje, os políticos são os comentadores, os rapazes da música são os avençados e ou portam-se todos muito bem ou no fim do mês acaba a mama e, acima de tudo, deixa-se de ter a influência de lá ir dizer as bacoradas que o Governo, a Oposição, os partidos ou os clubes querem que eles digam. Entrevistadores é que nem pensar. Jovens bem vestidos e apessoados a lerem cartilhas ou a fazerem o papel de corpo presente é o que está bem.

É por estas e por outras que eu falo só 12 minutos por semana num programa dirigido a donas de casa e idosas, que é tudo o que me é autorizado fazer ao fim de 17 anos de silêncio imposto. Mas não me importo. Ainda vou marchar com as minhas velhotas pela Avenida da Liberdade e pela dos Aliados. E principalmente não seremos compères a dar deixas a alguém que nos envergonharia. Podem crer!

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