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Victor Coutinho: “Sou o primeiro colecionador a expor a obra dos Beatles em Portugal”

Victor Coutinho

Era ainda muito jovem quando foi presenteado com o primeiro disco. Ainda que não tivesse um gira-discos para o tocar, o vianense Victor Coutinho começou, em 1968, uma viagem sem destino pelo mundo da música. Hoje, Victor Coutinho tem uma coleção com mais de 36 mil discos, cujo grande enfoque vai para uma valiosa coleção de discos do Beatles. Sagaz fã do eterno quarteto de Liverpool, Victor assume-se sem rodeios como um Beatlemaníaco, expressão que designa os fãs incondicionais de John Lennon, Paul McCartney, Ringo e George Harrison.

A paixão pela banda e o gosto pela partilha, culminou na exposição The Beatles – Sons e Tons, presente desde 30 de abril e até dia 26 de junho no Museu do Traje, com entrada gratuita. Com o evento a caminhar para o fim, fomos falar com o colecionador, numa longa conversa que começou nos tempos de juventude passados com a sua avó Mimi e que, naturalmente, se encaminhou para o evento que, como o próprio gosta de dizer, “tornou Viana do Castelo na capital portuguesa da Beatlemanía”.

 

Minho Digital (MD) – Como é que surgiu o gosto pela Beatlemania?

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Esta coleção começou com uma oferta de dois discos por parte de um afilhado da minha avó Mimi, que me ofereceu, em 1968, um disco dos Bee Gees e um dos Manfred Mann, a cantar A Mighty Quinn do Bob Dylan. Quando recebi esses dois primeiros discos não tinha a música nos meus horizontes e só ao fim de um mês é que tomei a decisão de começar a comprar. Só após ter investido em 50 discos é que comprei um gira-discos, dado que não tinha lógica ter o aparelho para tocar apenas dois discos. Foi mais tarde, 20 anos após os Beatles terem acabado, que me comecei a considerar um indivíduo com uma coleção de certa forma valioso e decidi-me pelo colecionismo, tendo começado a procurar obras raras. A minha avó Mimi, pessoa muito avançada para a época, foi a grande patrocinadora deste espólio. Com sorte e sem o conhecimento que hoje tenho fui comprando peças que se tornaram importantes. Consegui reunir parte de um acervo que hoje posso partilhar. Considero que esta exposição é pioneira em Portugal e Viana passa a ser, sobre o ponto de vista Beatlamaníaco, uma cidade histórica. Somos hoje, por direito próprio, a capital da Beatlemania.

 

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MD – Considera-se o maior colecionador de Beatles em Portugal?

Eu nunca digo que sou o maior colecionador. Sou um dos maiores…

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MD – Mas tem conhecimento de alguém com um espólio maior?

Tenho conhecimento que existem outros colecionadores. A única certeza que tenho é que sou o primeiro colecionador a expor a obra dos Beatles em Portugal. Esse título é-me irrevogável.

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Que obras gostaria de destacar dos cerca de 120 discos em exposição no Museu do Traje?

Diria que 80% do que está exposto são obras importantes. Temos o Help, com o logótipo da Shell, temos o Black Album, temos a edição russa do White Album, que tem um exemplar exposto no Beatles Museum Experience at Albert Docks, em Liverpool. Temos também o Two Virgins, um disco de John Lennon que foi um escândalo, em 1968, por causa da capa, e que hoje é considerado uma obra rara por não ter sido lançado pelas editoras oficiais. Temos também uma primeira edição de Let it Be com um livro que foi retirado do mercado por ter sido na época um falhanço comercial, mas que hoje se tornou a uma obra de valor. Podemos também mencionar a coleção completa de singles portuguesa dos Beatles que tem uma tiragem curta, já que a editora Valentim de Carvalho, na época, fracionava os long plays em singles.

 

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MD – Como surgiu a ideia para este projeto?

Esta ideia nasceu em 2014, entre o Paulo Pereira, o promotor, e um amigo que infelizmente já não está entre nós, que é o Luciano DJ. O Luciano propôs-me fazer um evento cujo título seria A Heart Day’s Night, uma referência ao terceiro álbum dos Beatles. Tal acabou por não se concretizar devido à doença do mesmo que culminou no seu falecimento.

MD – A ideia não prosseguiu em 2014, mas acabaria por voltar…

Exatamente. O Paulo Pereira, há um ano, propôs-me fazer esta exposição, mas não na minha cidade. Rejeitei a proposta porque, a fazer, teria que ser em Viana. Não fazia sentido avançar se não fosse na cidade do colecionador. Se queríamos ser históricos e pioneiros, teria que ser em Viana do Castelo, ainda que admita nunca ter pensado que isto tomasse as proporções que tomou. 46 anos após os Beatles encerrarem a carreira, Viana do Castelo foi a primeira cidade portuguesa a homenagear a maior banda de todos os tempos. Por tudo isto, gostaria de agradecer aos músicos participantes que deram o seu contributo, de uma forma gratuita, e uma palavra de apreço à Câmara Municipal, nomeadamente à vereadora Maria José Guerreiro, e à Associação Comercial de Viana do Castelo, nomeadamente ao presidente Luís Ceia.

MD – Quantas pessoas passaram pelo Museu do Traje?

Posso dizer que são já vários milhares de pessoas que por lá passaram. Pelo feedback que tenho, creio que o público gostava que o evento continuasse. No entanto, isso não é uma decisão que dependa de mim, mas sim da Câmara de Viana.

MD – Milhares de pessoas é um pouco vago. Não tem números mais exatos?

Disseram-me que nos primeiros 18 dias tinham passado mais de 11 mil pessoas. Assim sendo, posso garantir que esta é a exposição de maior sucesso em Viana do Castelo. Até porque não há memória de uma inauguração, na cidade, com centenas de pessoas presentes.

 

MD – Durante o concerto dos Beetoes, no dia 9 de junho, teceu duras críticas por lhe ter sido recusado um palco coberto. A quem foram dirigidas essas críticas?

Sobre esse assunto, vamos virar a página. No entanto, faço questão de assumir publicamente a responsabilidade por a banda ter atuado naquelas condições, mas não assumo a culpa pela deficiente estrutura a que eles se tiveram que sujeitar. Esta banda que atuou em Viana é uma das melhores, se não a melhor banda do género. Algumas pessoas teceram críticas à qualidade do som e, nesse sentido, quero sublinhar que todos nós sabíamos que o concerto era no dia 9 de junho e que, previamente, foi solicitado um palco coberto, tanto por razões acústicas como porque queríamos ser previdentes em relação à meteorologia. Eu fui previdente, mas ignoraram o meu pedido. Isso deu origem a que a banda tocasse nas condições adversas que toda a gente pôde constatar. A banda não fez o sound check porque começou a chover e fui eu quem os convenceu a atuar! Enquanto fizemos a conferência de imprensa, o staff na praça disse-me que tínhamos casa cheia. Ficámos com duas opções: ou os Beetoes atuavam ou teria que subir ao palco e informar que não haveria concerto porque as condições não estavam reunidas. Os Beetoes deram uma lição de dignidade, respeito e profissionalismo a atuar para o público presente, mesmo pondo em causa a sua integridade física e profissional. Eu assumo a responsabilidade de ter ido para a frente com o concerto e agradeço à banda por ter feito o melhor para segurar o mesmo.

MD – Se fosse hoje, o concerto ia para a frente?

Se as condições fossem as mesmas, não ia mesmo. Assumo a minha irresponsabilidade por ter convencido os Beetoes a subir ao palco, mas jamais o voltaria a fazer.

Apesar de tudo, o concerto prosseguiu. Gostou de ver várias gerações juntas a assistir ao concerto?

É essa a força dos Beatles. Vejo várias gerações, incluindo jovens, que nas minhas visitas guiadas demonstram muito interesse e procuram saber mais sobre a história da maior banda de todos os tempos.

 

MD – Quando subiu ao palco disse que “Viana não é só ranchos”. Essa afirmação gerou alguma controvérsia. Quer explicar?

Eu gostaria que daqui a um ano houvesse um evento semelhante e alguém subisse ao palco para dizer que “Viana não é só a capital da Beatlemania. Se as pessoas não tiverem a memória curta, vão-se lembrar que no início do discurso eu disse que Viana não é só uma das mais belas paisagens mundiais, que Viana não é só o Coração d’Ouro, que Viana não é só a linda Princesa do Lima e que Viana não é só a nossa boa gastronomia. Viana é e sempre foi a capital do folclore. Agora, até já é a capital do teatro popular e também a capital da Beatlemania, pelo que acredito que isto nem deva chegar a ser tema de conversa.

 

MD – Como surge a parceria com a marca de relógios Raymond Weil?

O evento chamou a atenção da marca, que me contactou. Para mim é uma honra que uma marca de nível mundial queira associar-se a este evento, que também tem um carácter internacional. A marca achou que poderíamos ser importantes na divulgação de uma edição limitada a três mil exemplares de um relógio alusivo aos Beatles. Eles estiveram cá um dia em Viana a filmar e a fotografar, pelo que a marca está a prestar um serviço fantástico a Viana do Castelo.

 

MD – Já tentou contactar os Beatles?

Sim. Aliás, já seguiu uma informação sobre o evento para Sir Paul McCartney, via email. Essa mesma informação vai seguir também para o Ringo, para a Yoko e para a família de George Harrison.

 

MD – Há esperança de ter cá Paul McCartney ou Ringo?

Nada é impossível, basta eles quererem.

 

O convite será feito?

Sim, poderá ser feito. Acho que a cidade e, neste caso, as entidades responsáveis da cidade é que deviam pensar mais alto e acreditar que não é impossível. É um repto que eu lanço: não deixar isto ir por água abaixo. Devíamos pensar em organizar outros eventos do género.

MD – Sabemos que a exposição está de malas feitas para outras cidades. Lisboa será o destino mais provável?

Estarei recetivo. Quando sair daqui farei questão de levar comigo a minha equipa e os Beetoes. Ou vai tudo ou não vai ninguém. A ideia está no ar, tanto em Lisboa, como no Porto, Beja e já se falou na Galiza.

 

MD – Mas Lisboa está um passo à frente?

Eu julgo que sim. Faz todo o sentido a capital da Beatlemania aterrar na capital de Portugal.

 

MD – E para Viana do Castelo, que novos eventos podemos esperar?

Eu tenho muitas ideias. Não as quero partilhar, porque não as quero ver usurpadas. Mas se um dia a vereadora Maria José Guerreiro, da Câmara de Viana do Castelo, tiver disponibilidade e se quiser sentar à mesa para trocar ideias, eu terei todo o gosto em partilhar as minhas sugestões.

 

MD – Que mensagem quer deixar a quem ainda não visitou a exposição?

Vou-me basear em John Lennon para responder. Em 1966, Lennon disse uma frase que foi um escândalo na época: “Nós somos mais populares que Jesus hoje em dia; não sei quem será esquecido primeiro, se os Beatles ou se o Cristianismo”. Isso foi polémico e eu não quero ser tanto assim, mas àqueles que têm conhecimento da exposição e ainda não a visitaram quero-lhes dizer: “Pai, perdoa-lhes, que eles não sabem o que perdem”.

Recorde como tudo começou, veja as entrevistas e, mais importante que tudo, pode seguir ‘ao vivo’ o concerto The Beetoes – Tributo aos Beatles:

 http://www.minhodigital.com/news/viana-foi-capital-portuguesa

 

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