Vira Minhoto volta a ser dançado em Caminha e Vilarelho

A expressão máxima do Minho e que está na base da sua cultura são as romarias e o folclore. Este último, em Caminha já teve em tempos uma componente forte, no entanto, e por variadíssimas razões, acabou por se extinguir. Era algo que a vila necessitava e alguns procuravam que fosse recuperado. Após várias diligências, e alguns anos, volta a surgir e com o nome Academia de Dança e Música Tradicional de Caminha e Vilarelho.

Quais são as suas pretensões e como pretendem alcançá-las foi o que o Minho Digital procurou saber. Desde logo, num primeiro contacto,  apercebemo-nos da intenção o «levar o folclore junto do público, fazê-lo descer do palco, deixar de o emoldurar», afirma Desidério Afonso, ensaiador da Academia.

Hoje no Cine-teatro Valadares poderá assistir a uma actuação da Academia de Dança e Música Tradicional de Caminha e Vilarelho. Amanhã o folclore será no largo da feira, em Caminha.

Nádia Soutulho, presidente desta academia, deu-nos contas dos projectos.

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 Minho Digital (MD) – Quando surge a Academia e com que objectivo?

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

A Academia de Música e Dança Tradicional de Caminha e Vilarelho surgiu durante o Verão do ano passado. O principal objectivo é o de conservar e preservar o Folclore Minhoto tal como este deve de ser, das pessoas, genuíno e espontâneo. Existe uma componente didáctica da Academia que tencionamos alcançar, uma vez que o grupo esteja completamente consolidado no que toca aos diferentes tipos de componentes que são necessários, aos trajes, ao repertório de músicas e danças e ao reconhecimento que a Academia tenha como tal junto do público. Actualmente focamos os nossos esforços principalmente nas actuações que temos, porque o nosso trabalho tem de, inicialmente, ser dado a conhecer, mostrado, mas possuímos outros objectivos. O nosso objectivo máximo final é poder passar os conhecimentos do folclore às camadas mais jovens que, actualmente, vivem um tanto desvinculadas do que é tradição e do que é a nossa identidade minhota e, como tantas vezes nos refere o nosso ensaiador Desidério Afonso, levar o folclore ao público, fazê-lo “descer do palco”, deixar de o emoldurar para o recuperar na sua essência e significado real que é o folclore como forma de expressão da comunidade e do povo.

Neste momento, quantos membros a compõem?

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Neste momento, a Academia tem entre 40 e 50 membros.

Quem pode aderir a mesma e como?

Qualquer pessoa pode aderir à Academia, basta querer aprender, ter vontade e uma certa “chieira” (como diziam os antigos) em tudo o que é minhoto… ou então vir experimentar e passar a tê-la. Basta aparecer em qualquer um dos ensaios que temos, às sextas-feiras pelas 20:30 h no Edifício da Junta da Freguesia de Vilarelho ou seguir a nossa Página no Facebook e contactar-nos por lá. No início os membros tiveram de adquirir as vestimentas.

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Foi às suas expensas ou é um espólio da academia?

A Academia não possui um espólio “farto” nesta fase de desenvolvimento ainda, é igualmente um dos nossos objectivos, passa pala vontade de preservar a imagem do traje minhoto. Os membros adquirem as suas vestimentas, os seus instrumentos… Mas é um belíssimo investimento para qualquer Minhoto de gema.

Sendo esta de Caminha, e para esclarecer os nossos leitores, as vestimentas tem alguma ligação a Caminha ou ao Minho em geral?

A Academia só utiliza Trajes típicos do Minho, em especial da nossa zona, obviamente.

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MD – E que tipo de vestimentas existem no grupo da academia?

Actualmente os membros possuem Trajes quer de Festa (os típicos chamados de lavradeira), de cores ou de Dó, Trajes Domingueiros, de Trabalho… Existem ainda alguns membros que possuem Trajes de Mordoma ou de Noiva, ainda que esses sejam menos utilizados nas actuações. Temos uma representação de trajes muito bonitos e alguns inclusive muito antigos por entre os membros da Academia, mas recorde-se, é sempre um campo que está em constante evolução e melhoria.

No campo da música o Minho é muito rico. Mas, existe alguma com ligação a Caminha ou ao seu concelho?

Sim, claro que sim. Ainda que não pareça, o Concelho de Caminha é muito rico no que toca às celebrações e romarias, tome-se o exemplo da Romaria Anual a S. João D’Arga na qual a Academia teve o prazer de participar em peso. São igualmente muitas as pequenas freguesias tendencionalmente agrícolas e com conservam as memórias das antigas desfolhadas, vindimas, as ‘matanças’, o trabalho do campo… todos esses momentos eram acompanhados pela música tradicional e pela dança. A Academia tenta sempre respeitar as Quadras Antigas das músicas que existiam, das cantigas ao desafio também, do improviso… Existem declarações de amor belíssimas nessas antigas canções, bem como lições de vida, formas de explicar o dia-a-dia, um certo conteúdo cómico e arisco até, são muito ricas e tentamos recuperá-las e preservá-las para as legar nas gerações vindouras.

O mesmo se passa com as danças que eram momentos da expressão popular por excelência, cada uma com uma história ou uma interpretação diferente…

A prioridade da Academia neste campo é, obviamente, recuperar esse repertório d, com Alto Minho, da Ribeira-Lima, mas com especial incidência no que é de Caminha, das nossas freguesias e do nosso Concelho.

O concelho de Caminha é rico em tradições. Como as podemos preservar?

Mantendo-as vivas! Colocando-as em prática, mostrá-las, contá-las, convidando a que se participe nelas… De nada serve emoldurar, registar essas tradições, esse património material e imaterial, nosso se depois não o vivermos…  A música é para ser tocada, as canções para serem cantadas, as danças para serem dançadas até que as pernas não aguentem, os trajes e o ouro para ser usados com vaidade e com vontade de contar as histórias que estão ligadas a esses bens… Se o conhecimento não for passado, morre, desaparece! Pretende-se que as NOSSAS tradições se mantenham vivas, presentes, apreciadas… defendidas!

A Academia tem algum apoio da Câmara Municipal de Caminha?

Sim muito, o apoio da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia tem sido essencial nesta fase de desenvolvimento inicial da Academia.

Tivemos sempre apoio no que toca às actuações, ao transporte, na resolução de alguns problemas que foram surgindo… nos elogios e na motivação até! Recorde-se que com menos de um ano de existência foi-nos dada a oportunidade pela Comissão de Festas de Sta. Rita, mas também pela Câmara e Junta, a possibilidade de organizarmos o nosso I Festival Internacional de Folclore… Foi um prazer enorme para nós, um incentivo muito importante e uma aposta em nós que nos encheu de vontade de continuar o trabalho!

O Verão terminou, e é o ponto mais alto das romarias. Como esteve a academia em relação a representações?

Foi um Verão que superou todas as nossas expectativas… Os fins-de-semana foram repletos de actuações, foi cansativo, mas muito enriquecedor e porque não, muito divertido para nós!
A reacção das pessoas que nos foram acolhendo foi muito importante e muito construtiva; foi um prazer enorme descer do palco em todas as actuações, por variadas vezes em cada actuação, para colocar o público a dançar connosco… Qualquer engano que tenha surgido por sermos tão recentes foi sempre perdoado, acarinhado até, afinal o erro faz parte do Folclore, é genuíno! Foi um Verão muito bom para a Academia Tradicional como grupo, mas também para cada um dos elementos… Resta-nos esperar pelo próximo, que seja tão recheado, e pelos novos membros… Por esses esperamos com vontade e afeição!

 

 

 

 

 

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