Editorial

Viver até aos 84 anos em Portugal
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Jorge VER de Melo

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Jorge VER de Melo

Professor Universitário

(Aposentado)

Se o Ser Humano tiver sorte e cuidado com a saúde, pode chegar a velho. Em Portugal pode viver em média até aos 84 anos. Segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística, num estudo entre 2014/16), podemos viver 19,31 anos após os 65, o que resulta em 84,31 primaveras.

Lá se são risonhas ou não, tudo depende mais de quem governa do que de quem lutou durante uma vida de trabalho e de descontos para obter a sua segurança social e para adquirir digna e justa aposentação.

Normalmente só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja, como diz o ditado popular, mas quem quiser e puder planificar a sua futura aposentação, deve-o fazer antecipadamente.

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Não só pelas questões económicas, mas também e fundamentalmente pela saúde e bem-estar. São valores que temos de considerar equilibrados para podermos viver uma velhice feliz.

Quando essa data se aproxima devemos criar uma visão que ajude a desenhar cenários para a escolha de opções que nos proporcionem valores cujos resultados façam sentir realizados e de bem com a nossa consciência.

Na realidade trata-se de mais uma fase da vida para a qual temos que nos preparar com as mesmas ilusões direcionadas para a felicidade. Já sabemos, tal como aconteceu anteriormente, vamos correr riscos, desafios e alegrias. Mais sujeitos às doenças e às dores por tudo e por nada, mas sempre preocupados em ocupar a mente e o nosso tempo com algo que dê prazer.

É que se nos distrairmos numa vida pouco movimentada, demasiado cómoda, acabamos por afetar a própria mente e concluindo a nossa existência bem mais cedo do que esperávamos.

Lembrem-se, segundo estudo da OIT Organização Internacional do Trabalho), Portugal apenas dispõe de 0.1% do PIB (Produto Interno Bruto)  para os cuidados de longa duração aos idosos com mais de 65 anos.

Nesse mesmo estudo intitulado; “Long-term care protection for older persons: A review of coverage deficits in 46 countries” (Proteção de longa duração dos idosos: uma revisão dos défices de cobertura em 46 países), calculam que faltam 13,6 milhões de profissionais especializados nessa área para que se consiga um acompanhamento total dos idosos nesses locais do globo.

Mais de 80% do acompanhamento dos idosos é garantido por familiares, salienta Xenia Scheil-Adlung, autora desta investigação e coordenadora da política de saúde da OIT.

Como seria de calcular, Portugal está incluído nesta contagem, mas com resultados mais gravosos, temos apenas 0,4% dos profissionais necessários para os cuidados de longa duração em idosos, o que nos leva a recear um futuro pouco promissor. Mas devemos ter esperança pois a situação já esteve muito pior, quando não existia nada que não fosse a própria família para resolver este problema do idoso. E não foi há muitos anos que se viveu assim!

Todos sabemos que se poderiam criar imensos empregos nesta área profissional. Mesmo assim, verificamos que no nosso país se tem feito imenso, principalmente nas Juntas de Freguesia onde os políticos eleitos têm tido uma atividade notória na assistência à saúde, higiene e na regularidade da alimentação, especialmente aos mais desfavorecidos.

Mas se compararmos o que cada cidadão gasta com os idosos, por exemplo, em 2013 cada norueguês contribuía com 7533 euros e cada português com 117 euros. Aqui, mais uma vez verificamos que quanto mais rico for o povo, mais rico é o país. Não vale a pena tapar o sol com a peneira.

Apenas 5,6% da população global de idosos consegue receber cobertura total dos cuidados de longa duração.

A investigadora conclui que existe descriminação relativamente à idade e também ao género por serem especialmente as mulheres que se preocupam mais com os cuidados de longa duração dos idosos prejudicando assim a sua restante vida particular não recebendo normalmente nenhum sustento pelo seu trabalho.

Mas preparem-se para encarar uma sociedade, criada por nós, cheia de egoísmos e pouco reconhecida. Todos os nossos sacrifícios em favor da vida que até agora usufruíram, foram facilmente esquecidos em favor do valor de um dinheiro que alguém fez desaparecer e até da sustentabilidade dos juros a pagar pelos empréstimos implícitos.

Para alguns, interessa é que hajam muitos idosos, felizes ou infelizes, tenham ou não qualquer atividade, o que importa é que façam circular o capital das reformas, não interessa que tenham um fim com ou sem lar, com ou sem família, com ou sem apoio à saúde, com ou sem dignidade.

Cuidado, novos e idosos, pensem nisso!

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