Volta a Portugal em Ambulância

A recente notícia de uma mulher grávida de 32 semanas que teve que percorrer mais de 200 quilómetros de ambulância a partir de casa, passando pelo hospital de Abrantes e pelo hospital de Santarém, até terminar a sua insólita marcha, e com certeza penosa, no hospital das Caldas da Rainha, deu-nos a ideia para o título deste artigo opinativo.

Como já tinha escrito em 2017 o malogrado médico Artur Semedo, no livro “Salvar o SNS – Uma nova Lei de Bases da Saúde para defender a Democracia”, em coautoria com o grande mentor do Sistema Nacional de Saúde, António Arnaut, também já falecido, “Mais que no limite das suas capacidades, o SNS está em plena crise. E, infelizmente, não se trata de uma crise de crescimento; pelo contrário, o SNS está em regressão e retração”.

Na verdade, Portugal o SNS está em permanente processo de reformulação desde o ano em que foi criado (no dia 15 de setembro de 1979 foi publicada, em Diário da República, a Lei nº 56/79 que criou o Serviço Nacional de Saúde, concretizando o direito à proteção da saúde, a prestação de cuidados globais de saúde e o acesso a todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica e social), num experimentalismo atroz realizado num contexto em que os próprios cursos de Medicina estão a ficar obsoletos e a remuneração dos profissionais de saúde em progressiva degradação.

Em cada legislatura a sua “política” de saúde, em cada legislatura mais que um ministro, dos secretários de estado nem se fala. Muda-se alguma coisinha para que tudo fique na mesma. Sucedem-se os governos. Manuel Pizarro sucedeu a Marta Temido, já tinha saído Jamila Madeira e depois Lacerda Sales. O gestor Paulo de Macedo, no período da troika, tinha anteriormente implementado o travão financeiro, isto é, o desinvestimento na saúde. Há alguns anos Leonor Beleza foi o que foi. Advieram os reiterados protestos de rua frente ao hospital de Portimão. Os escândalos também se sucedem, primeiro o caso dos hemofílicos, depois o do tráfico do sangue.

Com efeito, o (des)governo deste país, gerido por boys e girls, muito sem a devida competência profissional, com medidas avulsas e ziguezagueantes, ao sabor das agendas partidárias, conduziu-nos à situação a que hoje chegamos e que se concretiza, por exemplo, no caso elencado no primeiro parágrafo deste texto.

É também lamentável que os agentes da comunicação social portuguesa, agora um pouco mais atentos, bem como as sucessivas autoridades de saúde do nosso País, sejam cúmplices das tutelas governativas, sociais-democratas ou socialistas, e da propaganda política que as enferma.

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Não há uma política estratégica para a saúde, a médio e longo prazo, vive-se na espuma dos dias dos ciclos legislativos. É caso para dizer que se o paciente não morre da doença morre da cura (ou falta dela), porque prevenção da saúde, depauperada com a pandemia, não é mais a palavra de ordem do nosso sistema de saúde.

É mais uma voltinha na ambulância do INEM, com metas volantes pelo meio do percurso. No final não nos espera a almejada camisola amarela, mas a laranja ou vermelha!

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