A Lição de Egas Moniz, o Aio: um fio de barba e o Valor da Palavra!

António J. C. da Cunha

Empresário Luso-brasileiro

 

 

 

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Um homem que deixou exemplo marcante na História de Portugal. E pelo seu exemplo, contado nos bancos escolares, é relevante a sua contribuição na formação moral nas centenas de gerações que atravessam o tempo.

Era um homem rico que habitava o Condado Portucalense e se tornou o AIO de Afonso Henriques. Os seus domínios situavam-se Entre-Douro-e-Minho, lá pelos idos do século XII. Era possuidor de influência e prestígio junto à família de Teresa de Aragão e Enrique de Borgonha, governantes do Condado e teve confiada a infância do Príncipe Afonso.

Conta a lenda que, por altura do cerco à Cidade de Guimarães, pelo Rei de Leão e Castela, Egas Moniz, que era o AIO de Afonso Henriques, negociou  com o Rei de Castela. Em troca da paz, empenhou um fio de sua barba ou do seu bigode, prometendo-lhe que Afonso Henriques e os nobres que o cercavam, o apoiariam e continuariam a ser seus vassalos.

Afonso VII aceitou o penhor de Egas Moniz, deixando a cidade de Guimarães. 

 

Castelo de Guimarães que eu já visitei, conhecendo seu interior (foto colhida da internet)

 

Um ano depois, Afonso Henriques, um jovem Infante ainda, tomou então uma posição política oposta e sob a direção do arcebispo de Braga, D. Paio, ter-se-á armado Cavaleiro, no dia de Pentecostes de 1122, por suas próprias mãos, na catedral de Zamora. E nas lutas com a sua mãe e querendo tornar o Condado livre da dependência de Castela, quebrou a palavra e o empenho do Aio e resolveu invadir a Galiza.

Foi quando Egas Moniz com sua família, vestidos de condenados, com cordas no pescoço para serem enforcados, defendendo a Honra pela Palavra dada, simbolizada pelo fio da barba, apresentou-se na Corte, entregando a sua vida e de todos da família, pois o penhor da promessa tinha sido quebrado.

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O rei castelhano, diante de tanta coragem e humildade, decidiu perdoar-lhe.

Ao entregar-se, Egas Moniz ressalvara sua Honra e deixou na História uma lição: o EPISÓDIO DE EGAS MONIZ.

Veja: https://pt.wikipedia.org/wiki/Egas_Moniz,_o_Aio

 

 Ilustração de Egas Moniz na entrega da vida ao Rei de Castela (foto colhida na internet)

 

Pesquisando na internet, querendo destacar o valor dos negócios, invocado o exemplo de Egas Moniz, encontrei um texto que muito me agradou e tem como origem o escritor e advogado Giovani Duarte Oliveira:

 

”O Negócio do bigode.  Antigamente, se faziam muitos negócios no fio do bigode. Essa expressão, segundo Jorge Linhaça, no recantodasletras.com.br: “Há décadas, surgiu a expressão no “Fio do Bigode” que precedeu o lacre, a assinatura e a rubrica. Consistia em dar em garantia da palavra empenhada um fio da própria barba, retirado em geral do bigode. De origem controversa, bigode pode ter vindo da antiga expressão germânica pronunciada nos juramentos: “bi Gott”, ou “por Deus”. Eram os tempos dos fios de bigode. Ou melhor, um único fio do bigode. A palavra valia tanto quanto um fio do bigode. Pois homem que era homem, usava bigode. E para usá-lo tinha que honrar essa condição de homem. Tinha que ser cumpridor de seus compromissos, custasse o que custasse. Tinha que ter na cara, além da barba, vergonha!”

 

E assim, durante anos, essa expressão vem transcendendo o mundo dos negócios, e ainda hoje, esse modelo antigo é encontrado. Diante de um mercado tão cruel e avassalador, que acabou suplantando alguns valores éticos e morais, costumo dizer o seguinte: “antes de assinar o contrato, verifique com quem está contratando!”.

 

Em verdade, não é somente a “Palavra dada” que está sendo descumprida pelos negociantes no mundo atual, mas é também atribuído a um fato da má administração. Muitas empresas são geridas a prazo curto, ou seja, os recursos entram e são destinados para benefícios pessoais e diversos do objeto social da empresa, ou são tomados para fins diversos. Ao invés de servirem para planos com resultados futuros com retorno planejado, são tomados para tapar rombos deixados pela administração equivocada e isso gera dificuldades financeiras, que por suas vezes causam problemas de pagamento e os primeiros prejudicados são exatamente aqueles contratos verbais que estão no fio de bigode.

 

Hoje, não só precisamos fazer um documento descrevendo os negócios e suas cláusulas em razão do eventual descumprimento por má-fé ou por má gestão, mas também por questões de memória, pois as pessoas fazem tantos negócios, acertos financeiros, parcelamentos, endividamentos, que quem deixa de escrever no papel por conta de estar negociando com pessoas sérias, acabam também permitindo que na lembrança das partes envolvidas também seja colocada a prova, e o cérebro tem maior facilidade de gravar os benefícios. Por essa razão, eventualmente quando desafiada a lembrança do ser humano, pode ser afetada e os compromissos não serem cumpridos a seu tempo e/ou modo.

 

Dessa maneira, faça negócios com quem tem além de desejo, capacidade de cumpri-los, e, mesmo assim, documente tudo o que foi combinado para não ter surpresas justamente de quem menos se espera.

  

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Academia Duquecaxiense de Letras e Artes

Associado do Rotary Club Duque de Caxias – Distrito 4571

Membro da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade

Membro do CONSEPE/UNIGRANRIO

Conselho Superior Pesquisa da Universidade Grande Rio

 

 

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