Primícias Literárias: O tomate

Ainda há dias liguei a televisão e vi uma notícia sobre um escândalo relacionado com um dos quadros de Van Gogh.

Dois ativistas, em nome do ambiente e com o objetivo de protestar contra o uso de petróleo, atiraram molho de tomate ao quadro. 

Pergunto-me o porquê da escolha do quadro, o porquê do uso do tomate. Aliás, na altura, ainda tive de ver a notícia duas vezes para tentar entender a necessidade de estragar um quadro tendo em conta as vilanias do petróleo. Sinceramente, tenho mais pena do quadro do que do molho de tomate, que também foi desperdiçado numa causa escusada. O quadro, de certeza, nunca esperaria ter tal desrespeito, infâmia e calúnia, séculos depois da sua criação.

O quadro em causa, com flores pintadas numa subtileza divina, depois de se acalmar com o sucedido, parou para pensar. Otimista como era, pois todas as flores gostam de ver a vida a sorrir, chegou à conclusão de que talvez o molho de tomate tenha sido uma nova adição que pudesse complementar o trabalho feito pelo artista.

“Um bocado tardio, não acham?”, dizia uma flor.

“Com as modernices desta geração, tudo é esperado”, dizia outra.

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“Mas então, se tudo isto é normal, porque é que fomos as únicas a sermos salpicadas pelo molho de tomate?”, disse uma no fundo do vaso.

“De certeza que as raparigas que nos mostram e falam para uma câmara com a lata do molho de tomate têm uma explicação meritória”.

Infelizmente, não havia qualquer explicação plausível que deixasse as flores do vaso satisfeitas. Ou melhor, sendo a razão do protesto contra o petróleo, confunde-me ainda mais o facto de uma delas ter o cabelo pintado de rosa, cujas tintas também necessitam dele.

Pensaria uma flor mais traquina: “Também vou atirar-lhe molho de tomate para o cabelo!”

Entretanto, tem havido vários casos de ativistas que colam as suas mãos no chão à beira de algo, como um carro novo em folha, um avião ou um outro pobre quadro. Tendo em conta um caso de ativistas que colaram as mãos no chão na frente de um avião particular, e em protesto contra esses tipos de avião, o chão ficou num estado mental baralhado.

Aquele jovem e artificial chão, de cimento, de linhas brancas e vermelhas e pavimento duro, sempre esteve habituado à passagem das rodas dos aviões e de pés de pessoas. Presenciar várias mãos no chão, ainda por cima no local onde as rodas costumam passar e massajá-lo, desorientou-o completamente. Perguntou-se, pasmado, se os humanos teriam ficado malucos e começado a caminhar de pés no céu e mãos na terra!

Pensou o mesmo que as plantas, falando com os seus botões.

“Hoje em dia há de tudo”.

Lá isso é verdade, mas ainda não chegámos aos vídeos do TikTok suficientes para algum “influencer” decidir começar um desafio em que as pessoas têm de fazer o pino e viver assim por um dia ou equilibrar uma lata de polpa de tomate na cabeça durante uma semana.

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Os protestos podem ser algo caricatos, mas no fundo, a intenção destes ativistas tem o seu louvor e, afinal, eles dedicam o seu tempo a tentar sensibilizar as populações e governos. Que mais farão eles? Só o tempo dirá… mas não me parece que seja este o caminho, pois a arte quase sempre caminha ao lado da paz e da liberdade consciente.

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