Uma ocultação às claras!

José Andrade

A poucos dias de mais uma comemoração de um 25 de Abril, é público e notório que vivemos um tempo político/social muito idêntico ao do fim do regime do 28 de Maio. Com a Liberdade, veio a libertinagem, e logo de seguida, as velhas moscas foram substituídas por varejeiras.

Na década de 1970, o combustível era a ‘guerra do Ultramar’. Com a entrada no novo milénio, os ‘fundos comunitários’ trouxeram uma evolução, a corrupção qual surto pandémico, corrói mais e melhor. Em 1974, estávamos isolados internacionalmente, mas já fazíamos parte da EFTA e da NATO.

Hoje, presidimos à União Europeia, mas não somos capazes de emagrecer o numero de dependentes do funcionalismo público, ou sair do podium dos menos desenvolvidos. No entanto temos no balanço a destruição de milhares de milhões de euros dos incontáveis fundos comunitários que nos deveriam ter tornado menos pobres. Os Fundos e a corrupção são o mais recente filão de volfrâmio para novas fortunas.

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Se então, em 1973/74, a nata da ‘fina flor do entulho’ nacional, com os militares de carreira como ‘guarda pretorina, a quem adoçavam o serviço com as umas medalhas e generosas ‘comissões’ no Ultramar, ‘missões’ que garantiam gordos pés de meia, entretinham-se com escândalos sociais e escandalosos saques à conta da fazenda nacional, hoje, com os militares a marcarem passo, mas devidamente alinhados, a ‘nata’ da ‘entulho nacional’, ousada, com ‘franco-atiradores’ no sistema político/partidário, já nem teme ‘atirar’ na Justiça. Justiça em que já ninguém acredita, a começar por aqueles que dela mesma fazem parte. Se o ‘caso Sócrates’ era por si só um ‘caso’, com o recente ‘Te Deum’ daquele inefável personagem Rosa, virou flor que não se cheire. Fica bem aos partidos , ou ficarem calados, ou dizerem, quando acossados ‘à política o que é da política, à Justiça o que é da Justiça’. Fica-lhes bem, mas não convencem. E como não convencem, quem vence são os que no meio desta confusão gritam que o ‘rei vai nu’. E não é que vai mesmo. E só os políticos, os que teêm capacidade para mudarem este estado de coisas, os que fazem as leis, é que não veêm, não ouvem, não falam.

Os políticos não veêm, não ouvem, e não falam, quando lhes convém. Quando lhes convém, ou é conveniente para sustentar o rebanho de apaniguados. E assim, de silêncio em silêncio, de caso em caso, vivemos um tempo de paz podre, de um sistema político que ninguém ama, e de que apenas uns poucos serve e se servem. Dir-se-à, mas não é melhor hoje que em 1974?

Claro que é! É para alguns, os que apenas olham pela sua barriga, rosnam baixinho, queixam-se sem saber porquê, e para quê. Porque, para os que ‘sonhavam’ podermos ser um país, onde a Liberdade fosse sinónimo de Responsabilidade, contabilizados os casos daqueles que já sofreram na pele as consequências de intervirem como cidadãos na vida pública, não andará muito longe o empate. Se no ‘outro tempo’, no tempo de uma paz podre, havia a policia política, que passou de PIDE para DGS, hoje temos o Ministério Público, a Autoridade Tributária, e até o SEF, cada um a seu modo, agentes prontos a por na ordem os ‘insurgentes’ que ousem dizer que ‘discordam’ em voz alta. Para quê tanta discussão sobre uma ‘nova lei’ onde a ‘Ocultação’ da riqueza seja crime?

Experimentem ir a um banco e levantar mais de dez mil euros das vossas poupanças. O dinheiro é vosso, o banco apenas serve de local onde ele é guardado. Pois para o levantarem, ou simplesmente o movimentarem, teêm de justificar, bem justificado, ao banco, e este à Autoridade Tributária.

Como se compreende que aos ricos, de berço, negócio ou obscura bênção, os milhões podem sair, divagar ou simplesmente mudar de conta, e esse controlo não consiga detectar?

Sócrates, não o filosofo grego, mas o nosso, o de Sousa, tem razão. Ele não ocultou nada. Os outros é que não quiseram ver.

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