Vamos a votos… devotadamente!

José Andrade

É verdade! Chegados a esta altura do campeonato, quando é necessário fazer cumprir um dos ‘sacrifícios’ que justificam poder pertencer ao clube dos países ‘evoluídos’, as turmas que querem ter um lugar privilegiado à mesa do Poder, e seus sucedâneos, lá rapam da cábula onde constam as promessas mais impensáveis.

Com um sorriso de orelha a orelha, fazem das tripas coração, e atiram-se ao churrasco e caldo verde, como se não comessem à umas semanas. Tudo serve para mostrar que estão próximos do Povo. Cai bem, e o ‘bom povo’ gosta.

No próximo domingo, dia 6 de Outubro, escolhendo com a cabeça ou o coração, o indígena português mais dado às coisas cívicas, como boas almas em penitência, lá vai cumprir o seu dever de votar, escolhendo como, e por quem, quer ser enganado.

Sendo o voto para as legislativas de quatro em quatro anos, é um exercício que carece de algum esforço de memória, dado que durante a campanha, todos os ‘malfeitores’ aparecem de corda ao pescoço, jurando que nunca tomaram uma decisão com intenção de molestar quem quer que fosse, rico ou pobre, assalariado ou patrão. ‘E agora é que vai ser’, dizem, como profetas anunciando a boa nova! E as boas novas, algumas velhas promessas nunca cumpridas, são anunciadas em pacote. Só vantagens. A conta a pagar, caso elas fossem para efectivamente terem pernas para andar, fica para depois. Quem vier atrás que feche a porta.

E se votando, o ‘bom povo’ ganha o direito a pode reclamar alto se foi ou não enganado, cumpre assim um Dever, e tem Direito a receber como bónus uns quantos estados de alma, pacote onde se inclui o desencanto e a frustração.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Claro que existem uns tantos ditos ‘patriotas’, gente fina, caseira, a quem a Democracia também reconhece o Direito de Não Votar. Nada que umas atabalhoadas desculpas, não tente justificar esse acto. É o bom da vivência em Democracia, em Liberdade. Poder escolher, optar.

Mas se a maioria ainda se dedica ao exercício de votar, outros cultivam com carinho a abstenção.

E como a abstenção tem sido o único indicador que tem sofrido uma subida constante pós-25 de Abril, uma ‘boa fórmula’ já pensada pelos ‘iluminados urbanos modernos’, cá do burgo, é o do alargamento do espectro dos eleitores. E dentro o curto rol desses ensaios, fez-se luz o recurso à declaração de IRS. Pagando ou sendo isento, a obrigatoriedade de apresentar a declaração, tem sido um dos mais concorridos meios e modos do poder ‘controlar’ quem por cá vive. Porque não abrir o leque de eleitores aos ‘novos beneficiários’? Um tiro e vários coelhos vitimas garantidas.

Os indígenas abstencionistas seriam assim mitigados, e as novas espécies entrariam nos indicadores do sistema. A Democracia, como sistema, seria reforçada, os abstencionistas enxovalhados, os cães e os gatos, entronizados. É que os ‘fieis amigos do PAN’, a bicharada, como já têm desconto nos medicamentos e IRS, e agora com a promessa de um Serviço Nacional de Saúde para a bicharada, uma brilhante ideia que já embriaga a cabecinha louca do senhor engenheiro e seus companheiros, ao incluírem os seus semelhantes, os bichinhos, beneficiários como decisores de quem tem lugar no Parlamento, tornavam mais simples as anormais decisões.

Modernidades, dirão os mais dados a encontrar sempre uma boa desculpa. Um achado, contraporão aqueles que depois sacarão mais uns cobres ao Orçamento de Estado, sentados que estejam à mesa do Orçamento. E como a mais uns tantos eleitores, necessariamente corresponderá mais dinheiro a escorrer para as contas partidárias, como nas histórias de embalar, casam-se todos, felizes, até ao próximo tempo de votar. Corolário lógico que já sustenta os partidos instalados, e faz correr e saltar os de cultura recente.

Por isso, no próximo domingo, ir votar, é devotadamente um Direito… mas sobretudo um Dever.

PS:- Depois de revisitado este texto, penso ser minha obrigação esclarecer que nada tenho contra a Política, os Políticos, nem contra quem quer que seja, viva ou não como político.

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