BICADAS DO MEU APARO: A linha das traseiras

Artur Soares

Escritor d’ Aldeia

 

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Nos anos de 2016 a 2019, havia profissionais desagradados com o Governo de António Costa.

Os médicos manifestavam-se descontentes, os enfermeiros igual e os professores então…!, eram banalizados pelos governantes e, copiando pela actuação destes, até os dirigentes dos professores do privado ostracizavam os seus educadores e, em muitos casos até sofriam de perseguição. Bateu-nos à porta o covid, hospitalizações diárias às centenas, mortes permanentes, confinamentos quinzenais, proibições que aromavam loucura e, vai daí, professores, médicos, enfermeiros e tudo que estivesse ligado aos transportes e venda de comes e bebes, passaram a heróis nacionais, a profissionais da “linha da frente” no combate à pandemia.

Se é verdade o que se descreve, por que razão só um ou outro médico, só um ou outro professor e só um ou outro infecciologista vão dizendo “isto está mal”, “isto vai ficar pior” e “tem de se fazer muito mais”? Terão medo de denunciar de “como vai este país”? Chegar-lhes à bajulação e os elogios cantados pelos políticos?

Alguns médicos e infecciologistas, comentaristas e sociólogos disseram – sem dizerem-tudo! – que o Governo não se acautelou da pandemia devidamente até Agosto passado e que não souberam prevenir a vinda da segunda vaga coronavírica a partir de Outubro (passado). É evidente que o primeiro-ministro, confiado no “milagre” português contra a primeira vaga, facilitou no combate: abriu as portas a tudo e, inclusivamente, mandou que o povo se refastelasse nas praias e se encharcasse nas águas dos rios e dos mares. No Natal/2020, vivemo-lo como no natal de 2019: tudo à balda e tudo ao molho. Estas facilidades, como muito bem se constata, ficavam mais baratas ao Governo.

Assim, neste Janeiro/Fevereiro de 2021, vive-se num estado-de-terror, porque há milhares de mortos em 20 dias e muitos mais milhares de infectados com o covid-19! Desta forma, se tivemos servidores na pandemia que estavam/estão na “linha da frente”, podemos afirmar que temos outros servidores – os políticos/governantes – que estão na linha das traseiras: é que o Governo sabe que muito mais podia ter feito no combate à pandemia, mas preferiu evitar despesas e optou pela falta de transparência, porque era preciso não gastar dinheiro.

Os serviços de saúde sobrevivem e nalguns casos já rebentam pelas costuras. E o Governo PS sabe muito bem que os hospitais – Serviço Nacional de Saúde – não vão poder responder às desgraças existentes e às que se adivinham até fins de Fevereiro. Logo, vai morrer ainda muita gente. Estes governantes, confiados mais na publicidade política e não na prevenção, apenas valorizam o poder e os tachos distribuídos.

Mas que boa ou normal gestão tem feito o Governo contra a pandemia que mata diariamente centenas de portugueses? Como se compreende que só num hospital com 3 mil e quinhentos funcionários, apareçam 500 infectados? Que protecção tem esta gente, quantas horas trabalha por dia e que meios técnicos têm para se defenderem? Porque teimam em não parar certas actividades?, sabendo-se que é nos contactos e nos ajuntamentos que tudo se desmorona?

Porque não aumentam para 14 horas/dia de atendimentos nas grandes superfícies para que não haja as aglomerações que nelas se têm verificado? Porque não vacinam todas as pessoas com mais de 60 anos, começando por aqueles activos que estão mais em risco? Importa, isso sim, não gastar dinheiro. Não se pode gastar nos subsídios, no investimento público, na aquisição de pessoal, de bens e serviços para os serviços de saúde: como material médico, para equipar melhor os hospitais com oxigénio, ventiladores, nos apoios à formação profissional e na normalização da actividade empresarial, etc., muitas vezes etc. e tal!

É público que centenas de pessoas só poderão ser curadas fora do país, isto é, fora do Minho até ao Algarve. Os Açores e a Madeira já os tem, a Espanha tê-los-á, a Áustria vai começar a receber coronavirados portugueses, a Alemanha irá fornecer médicos e material de saúde, Bruxelas quer colaborar e a UE já se ofereceu para ajudar.

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E nesta azáfama governamental, nesta falta de prévia-visão ao combate coronavírico, nesta desorientação onde já cada um faz o que quer e como quer, ficamos a saber que esta gente da linha das traseiras continua a aplicar a maior carga fiscal de sempre, que possui a economia estagnada há duas décadas, bem como estagnado está o salário médio real e que tem a terceira maior dívida do mundo.

Brincando comigo um amigo, numa fila da farmácia há dias, dizia-me que estes políticos podem fazer pouco contra a pandemia, mas são governantes que pensam muito: primeiro mandaram os enfermeiros para o estrangeiro e agora mandam-lhes os doentes. Eis a linha das traseiras, que não encaixa com a linha da frente, na cura aos coronavirados.

 

(O autor não segue o novo Acordo Ortográfico)

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