Da Carta do Chefe Sattle (1954) ao Sínodo da Amazónia

 

José Rodrigues Lima

“Durante o Sinodo de Outubro, todo o mundo deveria caminhar com as pessoas da Amazónia – sem pretender alargar ou desviar a sua agenda, mas para ajudar o Sínodo a ter impacto” (Michael Cezerny, Jesuita, novo cardeal e David Mártinez de Aguirre Guinea, frade dominicano, bispo de Puerto Maldonado, Perú).

Ambos são secretários especiais do próximo Sínodo dos Bispos.

O Sínodo sobre a Amazónia terá lugar em Roma de 6 a 27 de Outubro.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

 

O FUTURO DA AMAZÓNIA

 

A reunião magna examinará questões importantes “pois o desafio ambiental diz respeito e tem impacto sobre todos nós, como consta no que escreveu o Papa Francisco na introdução à sua Carta Incíclica “ Laudato Si (2015).

É de referir que os dois citados do Sínodo concederam uma entrevista consistente ao “Civiltá Cattolica´ recentemente respondendo à pergunta: “Porque a Amazónia merece um Sinodo?”

Aliás o teólogo, filósofo e ecologista Leonardo Boff referiu num artigo recente : “O futuro da Humanidade e da Terra está ligado ao futuro da Amazónia. Sem a Amazónia, o mundo sofre.”

A Carta do encontro de estudo do instrumento de trabalho “Intrumentum laboris” afirma: “defender de forma intransigente a Amazónia”.

O Papa Francisco convocou um encontro mundial de profissionais ligados ao ensino para 14 de Maio de 2020. O objetivo é procurar um pacto educativo global centrado na fraternidade e na protecção do planeta. A educação e o primeiro passo para tudo.

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A BIODIVERSIDADE

 

É sempre oportuno citar: “A Terra não nos pertence. Recebemo-la para legar aos nossos filhos. “

Devemos referir o enorme trabalho desenvolvido pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Está em causa a destruição da Biodiversidade, a exploração ambiental, concretamente da florestação, a ecologia integral e defender o oxigénio.

O cacique Raoni dos Kayapo legou esta frase há poucos dias: “Você envenena o planeta e semeia a morte e logo será tarde demais para mudar.” 

CARTA DO CHEFE SEATTLE

 

Julgamos oportuno trazer à memória a Carta do Chefe Seattle (1854) endereçada ao então presidente Americano Franklin Pierce, como resposta à intenção da compra de uma extensão de terra índia, feita pelo chefe branco.

“… Por fim, talvez sejamos irmãos…

… Cada parcela desta terra é sagrada para o meu povo…

… Somos parte da Terra e do mesmo modo ela é parte de nos próprios. As flores perfumadas são nossas irmãs, o veado, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos; as rochas escapadas, os húmidos prados, o calor do corpo do cavalo e do homem, todos pertencemos à mesma família…

… A água cristalina que corre dos nossos rios e ribeiros não é somente água, representa também o sangue dos nossos antepassados.

… O que seria dos homens sem os animais? Se todos fossem exterminados: o homem também morreria de uma grande solidão espiritual. Porque o que sucedera aos animais, também sucedera ao homem. Tudo está ligado.

Devem ensinar aos vossos filhos que o sol que pisam são as cinzas dos nossos avós. Ensinem aos vossos filhos que a Terra está enriquecida com as vidas dos nossos semelhantes, para que saibam respeitá-la. Ensinem aos vossos filhos aquilo que nós temos ensinado aos nossos. Que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à Terra, acontecerá aos filhos da Terra”.

 

LEGADO DO CHICO MENDES

 

Assim escreve Leonardo Boff: “Chico Mendes é um lídimo filho da Floresta, identificado cedo com ela. Cedo se deu conta de que o atual desenvolvimento prescinde da natureza e que faz com ela, pois a vê antes como um estorvo do que como um aliado.”

Afirmou: ”No início defendia os Seringueiros, depois compreendi que devia defender a natureza e por fim, percebi que devia defender a Humanidade.“

A Amazónia é um bem comum da Humanidade.

No dia anterior ao Natal de 1988 foi assassinado com cinco balas.

Afirma Leonardo Boff:

“Deixou a vida Amazónica para entrar na história universal e no inconsciente coletivo dos que amam o nosso planeta e a nossa diversidade. O instrumento de Trabalho para o Sínodo da Amazónia da voz ativa aos povos da floresta.”

 

DESENVOLVIMENTO COM O POVO

 

“O desenvolvimento deve ser feito para o povo e com o povo. Ele deslegitima a ideia dominante, especialmente o agro negócio de que as florestas deviam ser irradiadas.”

A obra “A economia humana das populações da Amazónia” de M. E. (vozes-1990),

Identifica excelentemente a fertilidade da Amazónia.

A Amazónia é o lugar de ensaio de uma alternativa possível, com consonância e ritmo daquela natureza luxuriante, respeitando a sabedoria dos povos originários.

 

RELENDO O INSTRUMENTUM LABORIS

 

“Provavelmente, nunca os povos originários amazónicos estiveram tão ameaçados nos seus territórios como o estão agora”. Os projetos extractivos e agropecuárias que exploram inconsideradamente a Terra estão destruindo este território, que corre o risco de “se savanizar”. A Amazónia está sendo disputada a partir de várias frentes. Uma responde aos grandes interesses económicos, ávidos de petróleo, gás, madeira, ouro, monoculturas agro-industriais, etc. Outra é a de um conservacionismo ecológico que se preocupa com o bioma, porém ignora os povos amazónicos. Ambas causam feridas na Terra e em seus povos: “Estamos sendo afetados pelos madeireiros, criadores de gado e outros terceiros”.

 

ECOLOGIA INTEGRAL

 

A ecologia integral baseia-se no reconhecimento da relacionalidade como categoria humana fundamental. Isto significa que nos desenvolvemos como seres humanos com base em nossos relacionamentos connosco mesmos, com os outros, com a sociedade em geral, com a natureza/meio ambiente e com Deus. Esta integralidade vincular foi sistematicamente salientada durante as consultas às comunidades amazónicas.

A encíclica Laudato Si’ introduz este paradigma relacional da ecologia integral como articulação fundamental dos vínculos que tornam possível um verdadeiro desenvolvimento humano. Nós, seres humanos, fazemos parte dos ecossistemas que facilitam as relações doadoras de vida ao nosso planeta e, portanto, o cuidado de tais ecossistemas é essencial. E é fundamental tanto para promover a dignidade da pessoa humana e o bem comum da sociedade, como para o cuidado ambiental. A noção de ecologia integral foi esclarecedora para as distintas visões que abordam a complexidade da interação entre o ambiental e o humano, entre a gestão dos bens da criação e as propostas de desenvolvimento e a evangelização.

 

IGREJA COM ROSTO AMAZONICO E MISSIONÁRIO

Brilhe sobre o teu servo a luz da tua face”.

 

Um rosto rico de expressões.

 

O rosto amazónico da Igreja encontra a sua expressão na pluralidade de seus povos, culturas e ecossistemas. Esta diversidade tem necessidade da opção por uma Igreja em saída e missionária, encarnada em todas as suas actividades, expressões e linguagens. Em Santo Domingo, os Bispos propuseram-nos a meta de uma evangelização inculturada, que “será sempre a salvação e libertação integral de um determinado povo ou grupo humano, que fortalecerá a sua identidade e confiança em seu futuro específico, contrapondo-se aos poderes da morte”. E o Papa Francisco apresenta claramente esta necessidade de uma Igreja inculturada e intercultural: “Precisamos que os povos indígenas plasmem culturalmente as Igrejas locais amazónicas”.

 

Inculturação e interculturalidade não se opõem, mas completam-se. Assim como Jesus se encarnou numa determinada cultura (inculturação), seus discípulos missionários seguem seus passos. É por isso que os cristãos de uma cultura saem ao encontro de pessoas de outras culturas (interculturalidade). Isto aconteceu desde os primórdios da Igreja, quando os apóstolos hebreus levaram a Boa Notícia a diferentes culturas, como a grega, descobrindo nelas “sementes do Verbo”. Daquele encontro e diálogo entre as culturas surgiram novos caminhos do Espírito. Hoje em dia, a Igreja perscruta novos caminhos no encontro e diálogo com as culturas amazónicas.

 

De acordo com o ‘Documento de Aparecida’, a opção preferencial pelos pobres constitui o critério hermenêutico para analisar as propostas de construção da sociedade e o critério de auto compreensão da Igreja. É também um dos traços que distinguem a fisionomia da Igreja latino-americana e caribenha e de todas as suas estruturas, desde a paróquia até aos seus centros educativos e sociais. O rosto amazónico é o de uma Igreja com uma clara opção pelos (e com os) pobres, e pelo cuidado da criação. A partir dos pobres, e da atitude de cuidado dos bens de Deus, abrem-se novos caminhos da Igreja local, prosseguindo rumo à Igreja universal.

 

ALTERACOES CLIMATICAS

 

Jovens e adultos, organizações nacionais e mundiais promovem iniciativas devido à situação climática no Planeta.

Há fóruns ao mais alto nível, como o recente realizado na ONU.

Devemos recordar a Cimeira da Terra, celebrada em 1992 no Rio de Janeiro, retomando alguns conteúdos da Declaração de Estocolmo em 1972.

A Carta da Terra de 2000 convida-nos a começar de novo.

A declaração do Ano Internacional das Montanhas de 2002 leva-nos a conhecer as suas dinâmicas.

O acordo de Paris de 2015 é uma grande referência.

Na educação “não se deve descurar uma relação existente entre uma educação estética apropriada e a preservação de um ambiente sádio”.

Como registo final assinalamos que “metade das aves mais comuns da Europa e da América do Norte desapareceram” de acordo com o artigo de Miguem Angel.

Devemos referir a participação da vianense Raquel Gaio Silva na Cimeira das Alterações Climáticas – ONU – Nova Iorque.

Clamam as vozes dos jovens: “O ambiente não tem preço. Quero o mundo que mereço”.

 

BIBLIOGRAFIA: 

Azevedo, J.Lucio, “Épocas de Portugal económico”, Lisboa, Libraria Clássica Editora, 1928.

Artigos de Leonardo Boff – Teólogo Filósofo e ecologista.

Freire, Gilberto, “Casa Grande e Senzala”, Rio de Janeiro, Editorial Vozes, 1978.

Freire, Gilberto, “Sobrados e Mucambos”, I, II, Lisboa, Livros do Brasil.

Instrumentum Laboris – Novos Caminhos para a Igreja e Ecologia Integral, 2019.

Laudato Si – Encíclica do Papa Francisco, 2015.

Porque a Amazónia merece um Sínodo – Civilta Catolica – 12.9.2019.

Por fim talvez sejamos irmãos, Instituto Nacional do Ambiente, INAMB

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