Lendas e Mitos do Sul Brasileiro: A Dança dos Tangarás

“Lendas são narrativas transmitidas oralmente com o objetivo de explicar acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Para isso há uma mistura de fatos reais com imaginários. Misturam a história e a fantasia. As lendas vão sendo contadas ao longo do tempo e modificadas através da imaginação do povo.”

 

A DANÇA DOS TANGARÁS 

Em meio à Mata Atlântica, uma fêmea do pássaro tangará distingue o canto coral de um grupo de machos da sua espécie. É uma convocatória para o início de um espetáculo. Ela decide, então, voar em direção à cantoria e pousar no poleiro dos machos.

Sua chegada era o que os cantores estavam esperando para executar sua verdadeira arte: a dança. Não é uma apresentação individual, mas em grupo. A fêmea, de coloração verde, fica parada no galho, enquanto um grupo de dois a oito machos realiza uma coreografia previamente ensaiada.

Ao contrário da fêmea, eles são coloridos: corpo azul anil, asas e rosto pretos e uma coroa alaranjada.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

É uma dança de cortejo. Se tudo der certo, o macho alfa do grupo vai ganhar a permissão da fêmea para copularem. Os demais estão ali apenas para ajudar na conquista. Não é algo comum na natureza, já que, geralmente, o cortejo é feito por apenas um macho, em interesse próprio.

No primeiro ato da dança, os machos se alinham em fila indiana ao lado da fêmea. A seguir, o que está mais próximo dela faz um breve voo vertical, como um beija-flor. Por alguns instantes, o casal fica frente a frente. Enquanto isso, os demais machos caminham na fila indiana, ocupando o espaço aberto pelo primeiro.

Uma outra versão pode ser colhida nas pesquisas na internet:

“ Quem viaja pelas florestas do sul do Brasil tem, às vezes, a oportunidade de apreciar um espetáculo dos mais interessantes: a dança dos tangarás.

O viajante depara, então, com o seguinte quadro: oito ou dez pássaros, de cor azulada e crista vermelha, trinam e bailam nos galhos de uma árvore. Um dos pássaros, o chefe, está pousado no ramo mais alto e executa um canto suave, com as penas encrespadas, a cabecinha esticada e o bico entre aberto.

Quando termina o canto do chefe, rompem os outros em coro. Há, depois um rápido descanso, em que os passarinhos começam a saltitar, de dois em dois. A um sinal do chefe, voltam para os seus lugares. Recomeça o chilreio, pondo-se o chefe em a bailar, de um galho para o outro. Enquanto isto, os outros passarinhos voam, cantando, uns por cima dos últimos  e estes, atrás dos primeiros. É uma delícia vê-los dançar !

A dança dos tangarás fez nascer na imaginação dos sertanejos a lenda dos filhos de Chico Santos.

Era um caboclo que tinha  vários filhos, fortes e trabalhadores, mas doidos por bailes e fandangos.

PUB

Viviam dançando inclusive durante a Semana Santa. E numa dessas oportunidades, dançando animadamente, não puderam se conter e exageraram nos movimentos. Todos  adoeceram de varíola e, um a um, foram morrendo. E cada um que morria tomava a forma do tangará, o pássaro dançador. E ficavam dançando todas as manhãs, cantando a mesma toada, até que Nosso Senhor tenha compaixão deles e os leve para o céu.

 

O site abaixo indicado exibe várias fotos de tangarás nas mais diversas situações, nas matas brasileiras. Vale conhecer tão bonita coleção, colhida na internet.https://www.google.com/search?q=p%C3%A1ssaro+tangar%C3%A1&hl=pt-BR&tbm=isch&source=hp&biw=1360&bih=625&ei=3JOgZL7qL7Lb5OUPxPaKwAo&iflsig=AD69kcEAAAAAZKCh7FxEO1zDM_FIfISEZKz8zt-XMhcN&ved=0ahUKEwi-yM7Bs-7_AhWyLbkGHUS7AqgQ4dUDCAc&uact=5&oq=p%C3%A1ssaro+tangar%C3%A1&gs_lcp=CgNpbWcQAzIFCAAQgAQyBQgAEIAEMgcIABAYEIAEOggIABCABBCxAzoGCAAQCBAeUABYwj1guXNoAHAAeACAAbUCiAHZDZIBBzkuNS4wLjGYAQCgAQGqAQtnd3Mtd2l6LWltZw&sclient=img#imgrc=2ExTvzRXTJjyPM

 

A lenda do pássaro Tangará-Dançador

“Todas as lendas têm a sua origem na vida real e são um reflexo do nosso espírito. As florestas estão cheias de abusões e fantasmagorias, criados pela ideia sempre inventiva dos nossos caboclos. Até as danças serviram de pretexto à invenção de umas das lendas mais interessantes do Paraná. Floriu na marinha. Em Guaraquessaba.

Certa vez, um viajante foi até aquela vila. Sol a pino. Desembarcando da frágil canoa, o canoeiro seguiu abrindo caminho na floresta, por um carreiro ziguezagueante. Reinava em tudo um grande silêncio, o silêncio modorrento da canícula.

O viajante ia atrás admirando a paisagem e a pletora da floresta cerrada. Iam silenciosos, quando de repente o canoeiro parou e fez sinal de cautela ao companheiro, para que pisasse sem ruído. Que seria? Pé ante pé, o excursionista veio vindo, veio vindo, e nove passarinhos de cor azulada e crista vermelha trinavam e bailavam nos galhos de uma árvore quase desfolhada. Um dos pássaros, – o chefe, estava pousado no ramo superior, e executava, harmoniosamente, um canto suave, com as penas encrespadas pela volúpia da modulação, a cabecinha esticada, o bico entreaberto.

Quanto terminou este solo, romperam os outros em coro.  Houve, depois, um descanso rápido, em que os orquestantes começaram a saltitar, de dois em dois, numa espécie de quadrilha. A um apelo do chefe, retomaram os seus lugares.

Recomeçou o chilreio, pondo-se o chefe a bailar, indo e vindo de um galho para outro. Enquanto isto, os bailarinos voavam, cantando, uns por cima dos outros, revezando-se, de modo que os primeiros ficavam atrás dos últimos, e estes atrás dos primeiros. Era um encanto vê-los!…

Curioso, o viajante quis ver de mais perto a dança. Mas fez ruído. E com isso os pássaros fugiram, de súbito.

 

Que passarinhos são estes? Indagou o romeiro, apontando para o rumo em que eles desapareceram.

O povo chama de Tangarás – informou o canoeiro – mas pro sinhô eu vô contá: São os fios do Chico Santos.

O viajante não entendeu o significado daquela revelação, e inquiriu:

– Filhos de quem?       

– Eu lhe conto o causo acendendo o seu cachimbo disse o caboclo,

– Não vê que havia dantes nestes matos uma família de dançadores. Eram os fios do Chico Santos. Que gente prá gostá de dança! Dançavam por nada.  Fandamgueavam até nas roça interrompendo o trabaio. batiam os tamanco no chão quase toda a noite.  Uma veis, meu sinhô, távamo na Semana Santa! Pois não é que a rapazaiada inventô de fazê um fandango? E feis. Dançaram inté de manhã. Mas Deus, que vê tudo, castigô os dançarinos. E sabe o que feis?

Deu a bexiga nos fios dos Chico Santos. E cada um que ia morrendo, ia virando passarinho. E agora andam por aí cumprindo o seu fado… O meu avô sabia dessa história, por isso nóis nunca dançamos na quaresma.

E concluiu, num longo suspiro de piedade:

“Quem mandô eles dançarem na Semana Santa?”

 

António J. C. da Cunha

Empresário luso-brasileiro no Rio de Janeiro

Natural de Geraz do Minho – Portugal

Academia Duquecaxiense de Letras e Artes

Associado do Rotary Club Duque de Caxias – Distrito 4571

Membro da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade

Membro da CPA/UNIGRANRIO

Diretor Proprietário da Distribuidora de Material Escolar Caxias Ltda

  Partilhar este artigo

1 comentário

  1. Imagino como essa lenda foi espalhada no passado, no sul do Brasil. Vejo-a como uma forma inteligente de valorização da prática religiosa ao punir os que não respeitavam os dias santos preservados pela Igreja. Como o castigo se resume a transformar humanos sem graça em pássaros bonitos e graciosos, brilhantes nas artes de dançar e de cantar. Havia a punição divina, mas essa era suavizada pela beleza do resultado dela advindo. Sejam bem-vindos os tangarás!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *