Doutores e Médicos: O Médico Manuel Rocha Peixoto

Um determinado canal de televisão tem emitido uma reportagem sobre um médico que convidado pelo pároco de uma Paróquia de Penafiel aceitou dar consultas gratuitas aos pobres locais e que por isso lhe atribui o epiteto de Médico dos pobres o que a nós Bracarenses, dói.

Dói porque se há quem mereça esse epíteto desde o século passado é o Senhor Doutor Rocha Peixoto que a cidade de Braga esqueceu mas os seu cidadãos mais carenciados, não esqueceram.

E não esqueceram porque foi único e não teve mais continuidade numa classe profissional mentalmente regida e, intelectualmente desprovida dos mais elementares valores de solidariedade para com o próximo.  Para quem, o próximo, é um possível cliente.

O Médico cujo “consultório” principal era o Café Chave de Ouro sito na Rua da Restauração em São Vítor, aonde os pacientes se dirigiam e, à mesa do café, expunham os seus problemas e necessidades sendo atendidos com a cordialidade exigível e o respeito dos então proprietários da área comercial que nunca interferiram ou sequer tiveram qualquer atitude negativa ao facto.

Finda a consulta o Sr. Dr. emitia a receita ou aconselhava o que entendia ser mais apropriado ao diagnóstico do paciente.

O Médico, que para além da sua atividade profissional, o “consultório” que fechava quando o café fechava, também exercia num consultório sito na Avenida da Liberdade com uma diferença relativa: a grande maioria das suas consultas também eram gratuitas. Porque, os pacientes sem recursos financeiros, eram os que, por esse motivo, procuravam o Senhor Doutor Rocha Peixoto.

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O Médico, também assumiu publicamente o seu ideário político e social sem arrufos ou interesses que não fossem o de servir os seus conterrâneos.

Foi um médico.  Não foi mais um doutor a que já nos vamos habitando que não diferenciam a obrigação moral e ética a que o juramento final de curso de medicina obriga em favor de interesses económicos independentemente do caminho a fazer para os conseguirem.

O Médico, Senhor Doutor Rocha Peixoto, nunca precisou de projeção mediática para ser conhecido na comunidade aonde era admirado e querido.

Infelizmente a cidade não lhe reconheceu esse mérito e as atuais gerações nunca deste personagem ouviram falar.

A cidade deve-lhe tributo à memória por serviço prestado à comunidade com a grandeza que só os grandes homens são capazes.

Atribuíram, por ventura os seus profissionais, o seu nome a uma Unidade de Saúde Familiar existente no edifício do antigo Centro de Saúde de Maximinos: USF Dr. Manuel Rocha Peixoto. Uma USF de excelência e de referência Distrital para o resto do País.

Escrito o acima dissecado fica o apelo a quem de direito para que perpetue a memória do Médico dos pobres da cidade de Braga da forma que lhes aprouver tendo em conta a elevação e o altruísmo do cidadão citado que, quiçá, Braga não voltará a ter.

Fica também o apelo aos atuais doutores licenciados em medicina para que vejam no paciente uma pessoa que recorre aos seus serviços porque deles precisa. Porque, por vontade própria, não creio que alguma pessoa recorra a um clínico para conversar.  Com um aparte. No SNS são muito maus conversadores. No privado, depende. Depende da fórmula que lá leva o paciente.  O atendimento é adequado à origem do subsistema de saúde, da seguradora, mas também da iniciativa individual com os custos a serem suportados pelo próprio.

A interação e empatia são nulas desde o balcão de receção aos intervenientes no acompanhamento e respetivo tratamento. Tanto no publico como no privado.

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A classe profissional carece da valência valorativa da cultura geral que garante a capacitação sobre a relação social entre as pessoas numa sociedade civilizada.

Esta evidência é transversal a todas as licenciaturas que acabam em cursos profissionais e, pouco mais.

Assim sendo, o augúrio futuro sobre a relação interativa será mais incisiva e menos harmoniosa. O que é demasiado mau tendo em conta os novos desafios que a Humanidade atravessa.

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1 comentário

  1. Distinta crónica sobre a realidade que hoje vivemos nos meandros da medicina que nos rodeia. Sou utente da Unidade de Saúde Familiar M. Rocha Peixoto, em Braga, onde sou muito bem atendido pela Sra. Dra. Maria João Botelho, pelo Sr. Dr. Tiago Castro Almeida e pela nossa enfermeira Mónica. No geral, tanto no setor privado como no público, há muita falta do humanismo, que deve ser a principal característica dos profissionais de saúde. Não peço que sejam todos como foi o Dr. M. Rocha Peixoto — nos tempos de hoje seria pedir demais… — mas que não tratem os pacientes como se fossem passageiros do Metro em hora de ponta. Consultas de 10/15 minutos com o computador à frente fez com que a conversa útil entre o paciente e o médico seja hoje uma utopia, ou uma mera recordação para quem já viveu e tem para contar.
    A sociedade está cada vez mais numérica e menos solidária e humanista.
    Grato pela crónica que deveria ser lida pelos estudantes de medicina, muitas vezes só porque têm notas altas e um futuro profissional garantido pela frente.
    Deixo também uma palavra de apreço à equipa de cirurgia que me operou a um cancro colorretal no Hospital de Braga, à médica de oncologia Dra. Diana Freitas que me acompanhou durante todo o período de quimioterapia, assim como à equipa da Farmácia e da imagiologia, porque são merecedores deste público elogio, num tempo em que cada vez mais os doentes são meros números e o máximo de cifrões possível.

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