Encerramento da CGD em Darque

Pedro Meira

Advogado

Vice-Presidente da Concelhia do CDS-Viana do Castelo

Membro da Assembleia de Freguesia de Darque pelo CDS-PP

“Eles são todos iguais” se há frase ou pensamento detestável e inútil é este.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

 É seguramente a frase que mais se ouve quando se fala de políticos ou de política.

Convenhamos que realmente é uma generalização a que dificilmente se resiste, e que, infelizmente, terá alguma dificuldade em se desraizar da nossa comunidade  muito devido à atitude de alguns  representantes dos partidos  que teimam em não conseguir ter uma visão impoluta e sobretudo séria e isenta dos factos.

Vem isto a propósito da recente mas já aguardada notícia da continuação dos encerramentos dos balcões físicos (agências) do Banco público no qual o Estado é o principal e único accionista, a Caixa Geral de Depósitos (CGD).

Nos últimos anos temos lido e ouvido amiúde notícias vindas lá da capital de diversos mistérios e trapalhadas relativos à CGD.

Sejamos claros e não tenhamos medo das palavras, nos últimos 30 anos a CGD serviu para o financiamento de obras públicas, foi a grande torneira para parcerias duvidosas, para empréstimos especulativos, para favores a amigos, para negócios demasiadamente estranhos e para alimentar empregos ou “tachos” e avenças extremamente confortáveis da esquerda à direita, abrangendo todos os partidos do agora modernamente chamado «arco da governabilidade».

Este encerramento de agências não surge hoje, do nada, conforme alguns querem fazer transparecer…este encerramento das agências é o outro lado da moeda de um pornográfico processo de recapitalização que a CGD teve que ser alvo fruto de muitos anos de fartar vilanagem que culminou com um prejuízo histórico de 1.859 milhões de euros em 2016 mais de dez vezes superior aos resultados negativos registados em 2015.

O Estado Português em Janeiro de 2017 iniciou a implementação do Acordo celebrado em Agosto de 2016 entre a Comissão Europeia e o Estado Português com vista à recapitalização da CGD.

As linhas gerais deste acordo celebrado com Bruxelas passam por duas premissas, por um lado à uma injecção no capital da CGD de um montante à volta de 5.000 milhões de euros, em contrapartida e porque “não há almoços grátis” a CGD terá que operar um profundo e doloroso processo de mudança comercial e operacional que passa pela saída de 2.000 funcionários até ao ano de 2020 (através de pré-reformas e rescisões amigáveis) e no encerramento gradual de 180 agências em todo o país.

Convenhamos, o problema do encerramento das agências físicas bancárias não é naturalmente um problema estritamente nacional, é algo transversal a nível mundial e uma situação inevitável num futuro muito próximo e do qual não poderemos fugir, escondermo-nos e muito menos ocultar à população.

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Os Bancos têm realizado um profundo investimento nos sistemas de «Home-Banking» (realização de operações bancárias através da Internet, sem ter de se deslocar até um Banco ou qualquer caixa multibanco) que lhes permite reduzir os custos fixos com funcionários e com agências abertas ao público.

Não é aliás um dado novo, sabemos que o número de agências físicas bancárias em Portugal em termos globais foi reduzido em 30% desde 2011.

Este é naturalmente o grande argumento da CGD ao transmitir que os clientes têm à sua disposição, pese embora o encerramento da agência, o acesso aos serviços bancários à distância, como o «Caixa Direta», através do telefone, da internet ou de aplicações no telemóvel que funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana.

CGD é na verdade uma sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos, de que só o Estado pode ser detentor, mas que se rege pelas normas das empresas privadas do sector e que tem que se gladiar no terreno com a concorrência agressiva dos outros Bancos, esta é a verdade, a CGD há muito que deixou de ser um serviço público que funcione em prol dos cidadãos, sendo só público para alimentar uma certa pandilha.

Acontece que no nosso país temos a agravante de padecer de dois problemas estruturais (i) apesar geograficamente sermos um país de reduzidas dimensões somos ,quer queiramos ou não, um país que circula a duas velocidades, temos dois grandes centros urbanos, Lisboa, Porto e um resto do país ainda muito rural a que acresce (ii) uma pirâmide demográfica cada vez mais invertida, temos um país profundamente  idoso, onde , felizmente se morre cada vez mais tarde, mas que infelizmente é um dos cinco países da Europa onde pior se tratam os idosos, onde o respeito pelos mais velhos fenece perante a maximização dos lucros.

E é neste cenário de inevitabilidade que nos deparamos quando assistimos agora à chegada do encerramento de uma agência da CGD no concelho de Viana do Castelo.

Este encerramento há muito que estava previsto e planeado, agora a gravidade da situação é que como é habitual quem sofre na pele são as freguesias da margem esquerda do Lima e sobretudo o parente pobre no concelho de Viana, a freguesia de Darque.

É sobre esta freguesia e as freguesias da margem esquerda que se dá o impacto directo com o fechar de portas desta agência.

De acordo com o banco estatal “as agências a encerrar foram objeto de análise e, além da sua actividade e resultado económico, foram tidas em consideração questões como as acessibilidades a outras agências da CGD e a mobilidade da população(…)”.

Ora no caso concreto de Viana só podemos discorrer que a Administração da CGD (ou quem lhe transmite a informação) não tem a mínima noção ou consciência do território.

Questionamos a aplicação destes critérios e vamos ao ponto:

Como é que a margem direita da cidade de Viana fica com duas agências e a agência da margem esquerda que num raio de 10 km serve 9 freguesias vianenses e uma população de cerca de 30 000 cidadãos (freguesias com uma população extremamente envelhecida e como tal naturalmente infoexcluída) fica desprovida da agência física?!!!

Este é o cerne da questão… a aplicação dos critérios de encerramento por parte da Administração da CGD e não o encerramento inevitável de uma agência em Viana.

Soe o povo dizer  “Com papas e bolos se enganam os tolos”  e é absolutamente inacreditável e inaceitável como o sr. Presidente da Câmara Municipal de Viana tem dirigido de forma demagógica, como é seu timbre aliás, este dossier.

Primeiro, não explicando e alertando a população de forma cabal da inevitabilidade do encerramento de uma agência em Viana, segundo, plagiando, como forma de reacção, as medidas inglórias já tomadas por outros autarcas (vd. Albergaria, Montegordo entre outros) ao ameaçar de forma ridícula e patética o encerramento das contas do Município na CGD…como se o movimento financeiro da nossa Autarquia tivesse um grande impacto e peso nas contas da CGD…(faz lembrar a comovente coroa de flores aquando do encerramento dos ENVC).

Concluo por onde comecei… Não podemos ser todos iguais na actividade política… sob pena do descrédito total, temos que ser sérios e verdadeiros na análise e interpretação dos factos, a questão conforme explanamos não é o encerramento de uma agência em Viana, a questão e o ponto é em meu entender o encerramento da agência em Darque em vez de o encerramento de outra agência na margem direita, tudo o mais é demagogia bacoca e serôdia.

O encerramento da agência em Darque não cumpre os critérios de acessibilidades a outras agências da CGD e a mobilidade da população e são esses os factores e as razões que têm que ser transmitidos de forma clara a quem de direito, no caso à Administração do Banco.

Quanto ao sr. Presidente da Câmara de Viana dizer-lhe que mais importante do que copiar outros autarcas com reacções estéreis e populistas explicasse aos Vianenses o porquê do abandono trágico da freguesia de Darque nos últimos 20 anos por parte do seu executivo.

 

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