Futebol, Pimba e Jornadas da Juventude

No Estado Novo, o slogan propagandístico utilizado pelo regime, para animar as hostes, era o de Deus, Pátria e Família. Isto é o DPF passou a FPd (Deus com inicial minúsculo), uma espécie de palíndromo linguístico.

Com o advento da democracia pós-abril a Pátria e a Família passaram para trás. Com os novos ventos da modernidade, não só em Portugal como no resto do mundo católico, Deus iria pelo mesmo caminho, não fosse uma jogada habilidosa do Vaticano. O departamento do Vaticano responsável pela organização e coordenação das Jornadas Mundiais da Juventude é o Pontifício Conselho para os Leigos que criou uma seção de juventude para o efeito em 1985. Afinal não são só os partidos que têm juventudes partidárias, também a Igreja as tem, como há muito aliás que as tem ou teve (JOC, por exemplo).

A Jornada Mundial da Juventude é um encontro dos jovens de todo o mundo com o Papa. É, simultaneamente, uma peregrinação, uma manifestação da Igreja e um momento alto de evangelização (arrebanhamento) da juventude.

Estima-se que a despesa pública com a Jornada Mundial da Juventude de 2023, a realizar de 1 a 6 de agosto na região de Lisboa, vai ascender a um valor que ultrapassa os 80 milhões, com as verbas a serem repartidas entre o Governo e as autarquias de Lisboa e de Loures.

Mas afinal o nosso Estado não é laico, como preconiza, ou pelo menos indicia, a nossa Constituição da República. Os cidadãos, crentes ou não, católicos ou não, têm que pagar os desvarios da Igreja?

Para não falar dos perigos que espreitam os nossos jovens em matéria de pedofilia e de assédio sexual, porquanto nesses cinco dias de confusão e balbúrdia, os jovens ficam alojados em instalações públicas, paroquiais ou casas de famílias. Esperemos que a este nível nada de grave aconteça, apesar do historial recente ou menos recente da Instituição não inspirar absoluta confiança, até porque demora a encontrar e punir os prevaricadores.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

O futebol, como previa o antropólogo Edgar Morin, é outro fenómeno de alienação de massas. Movimentam-se multidões para adular os craques da bola, em grande parte estrangeiros. O filho do treinador do Benfica já se sente benfiquista, ouvimos há dias em uma notícia, daquelas com que nos bombardeiam todos os dias horas sem fim. Pudera, se é o Benfica que paga ao pai! Os jogadores profissionais não são mais do que mercenários, mas pagos principescamente. Mas entre o povo ouve-se recorrentemente que o Benfica é uma nação ou uma grande família, o que é válido para o F. C. do Porto ou qualquer outro grande clube. Num contexto em que a instituição tradicional da Família está de rastos é irónico.

A pimbalhada, outro fenómeno de alienação de massas, mesmo que com roupagens de música ligeira ou popular, também mobiliza as hordas de jovens e adultos que, acéfalos, fruem o que a comunicação social radiofónica ou televisiva lhes dá a consumir. São os prosumers de hoje, consumidores e produtores ao mesmo tempo, porque fazem parte do mesmo fenómeno da cultura de massas que se replica e dissemina qual erva daninha no solo do (des)conhecimento científico e cultural. Como escreveu o filósofo checo neomarxista (ou será chéquio?) Kosík todo o indivíduo é o produtor e o reprodutor da sua própria realidade ou da realidade societal em que se enquadra. Mas o pimba ou a pimba não existe só na “música”, também grassa em (quase) toda a plêiade de comentadores televisivos, pela prosápia prosaica que os caracteriza, para não dizer que são avençados dos grupos redatoriais, eles próprios cartelizados pelo poder dicotómico (chama-lhe alternância democrática) que nos rege há quase 50 anos.

 

  Partilhar este artigo

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *