O Outono

Toda a minha vida vivi rodeado pela Mãe natureza, o que me permitiu, e permite, usufruir de todas as coisas boas que ela nos oferece. E são inúmeras.

Apesar disso, a minha maneira de ver e sentir a natureza, não se viciaram ao ponto de não a continuar a apreciar em todo o seu esplendor, ou de a ignorar. Até digo tantas vezes: sou um privilegiado em viver aqui!

Mas sou-o por opção. Há que saber lidar com a Mãe natureza sem fanatismos, ou outros ismos, apenas, a respeitá-la e fazer por ela sem esperar prebendas.

Não há nada melhor, mais relaxante, e revigorante, do que alguém se embrenhar pelo meio do denso arvoredo, de sentir a vida no meio de tanto e luxuriante verde, apenas e só o silencio é quebrado pelo murmurejar das águas do pequeno Rio de Candemil. Então, no auge da Primavera é, quase indescritível dizer aquilo o que se pode ver e sentir: são as Pascoelas de flor amarela e cheirosa, a darem-nos as boas-vindas, os Silvaveiros, a Boldanha, com pequenas bolinhas vermelhas que, podem servir, ( serviram) como analgésico, quando os Salgueiros já floriram e já estão cobertos de verdes folhas.  Estas, são as primeiras árvores a acordar.

Os Cabrais, hoje abandonados, são tudo isso. São largas dezenas de hectares e que durante séculos, foram uma espécie de celeiro de Candemil, e Cornes, hoje estão na sua função original. Quase impenetráveis com tanta vegetação, arvoredo e muita água, a mesma que fez andar moinhos, hoje, abandonados e cobertos por Carvalhos, Castanheiros, Salgueiros, Amieiros e muitas Aveleiras, entre outras. Mas é aqui que, no seu auge, no do centro do qual, quase, não se vislumbra o Céu.

A este propósito dei por mim a fazer uma comparação entre o Outono, e todas as estações, e as diversas fases da nossa vida.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Estabeleci, por assim dizer, um paralelismo, entre a nossa infância, juventude/ idade adulta, a velhice, com as estações do ano.  Só que, contrariamente às nossas fases da vida, e tal como diz a canção: Primavera ela vai e volta, mocidade que não volta mais.

O paralelismo acaba, para nós, com o fim da vida. Enquanto que, as estações do ano, se repetem, a da vida é irrepetível.

Pessoalmente, considero que estou a viver o Outono da vida, naquela fase em que, tendo saúde, o que é o caso, temos um acumular de experiências e vivências, que nos permite ter um olhar retrospectivo que nas fases anteriores, não tivemos, por várias razões.

Se, por um lado, este caminho nos aproxima do Inverno da vida e da velhice, por outro temos a vantagem de saber como foram as demais fases da vida e que, joeiradas, nos trouxeram o conhecimento, que fez de nós aquilo que, individualmente, hoje somos. Como é evidente, isto não é, nem científico, nem linear. É apenas a minha constatação. Há quem aprenda e queira aprender toda a vida, e há quem pouco, ou nada, se interesse e há aqueles que passam pela vida como raposa por vinha vindimada.

Sem falsas modéstias, eu estou situo-me entre os primeiros. E, tantas vezes, dou por mim a analisar o meu caminho, o que fiz de positivo, o que fiz de negativo, ou aquilo que não deveria ter feito, assim, e o que podia ter feito melhor, e por aí. Não é com saudosismo que o faço mas, com a intenção de fazer uma auto-avaliação e melhorar a minha orientação, para o que terei para viver no presente e no futuro.

Mas regresso sempre à Mãe natureza, de onde nunca me afastei, que adoro, e nunca me canso de a observar, de a sentir e de me sentir eternamente grato e de fazer parte dela. E vejo-a sempre atentamente, até porque nunca senti, nem vi que ela se tivesse mudado de forma tão drástica, como por aí se propaga. Vejo e sinto, plenamente, todas as estações do ano.

Reparo, sou sensível, muito, em tudo o que me rodeia, principalmente nas árvores que conheço, todas e bem, em qualquer estação do ano, mas detenho-me mais naquelas que mais gosto. E tirando as árvores de fruto, a minha árvore favorita é o Carvalho.

O Carvalho é a última árvore a acordar, na Primavera, a borbulhar e a dar folha e bolotas e, também é a ultima a perdê-las. A sua majestosidade, resistência e longevidade, para além da sua rara beleza, é algo que me atrai e seduz.

Faltam muitos Carvalhos, nos nossos espaços públicos, nas nossas florestas. Mas dos nossos, dos autóctones, e não de outra origem. Se estes estão connosco há séculos, é porque este é o seu local ideal. Nascem ás centenas, todos os anos, sob os frondosos ramos e é nessa fase que devem ser plantados. Respeitemos as leis da natureza sem fundamentalismos, plantemos árvores, mas cuidemos delas.  Eu tenho feito a minha parte.

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Plantar não custa muito, custa mais educar, cuidar, proteger.

* O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

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2 comentários

  1. Um amigo que respira o sítio e tudo que o rodeio com espírito jovem e crítico no melhor sentido! Votos para que conserve esse amor a vida com a mesma alegria e beleza!

  2. Muito obrigado amigo Roleira Marinho.
    Há quem queira e não tenha.
    Há os que tendo não valorizam.
    Eu sou eternamente grato ao meio onde vivo,certo de que sou um privilegiado.

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