Os eucaliptos e o flagelo dos incêndios – Do “mega” eucaliptal de Assunção ao “mais” eucaliptal de João

[[{“fid”:”63499″,”view_mode”:”default”,”fields”:{“format”:”default”,”alignment”:””,”field_file_image_alt_text[und][0][value]”:false,”field_file_image_title_text[und][0][value]”:false,”external_url”:””},”link_text”:false,”type”:”media”,”field_deltas”:{“2”:{“format”:”default”,”alignment”:””,”field_file_image_alt_text[und][0][value]”:false,”field_file_image_title_text[und][0][value]”:false,”external_url”:””}},”attributes”:{“height”:”173″,”width”:”173″,”class”:”media-element file-default”,”data-delta”:”2″}}]]

Carlos Magalhães

w

Um livro adquirido recentemente num alfarrabista, despoletou em nós a necessidade de escrever este texto opinativo.

w

As pérolas bibliográficas não resultam das escolhas de Marcelo, nem das de Louçã, que cada um à sua maneira são homens do regime e que, portanto, divulgam as obras que os não incomodam.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

w

Mas entremos então no tema em epígrafe.

w

No dia 9 de novembro de 2020, oito organizações nacionais enviaram uma carta aberta ao governo em que se repudiava a eminência de um diploma para permitir o aumento da área limite das plantações de eucalipto por concelho, quando em 2017 o Parlamento, depois dos incêndios, tinha decidido não permitir ações de arborização com espécies do género Eucalyptus s.p., aprovando uma lei para evitar que sejam plantados eucaliptos em áreas ardidas anteriormente ocupadas por outras espécies e a expansão de áreas de eucaliptal no território continental embora, por outro lado, admitisse a implementação de projetos de “compensação”.

w

Hoje, quando parece ser tabu falar em poluição visual, como já o era em relação à poluição sonora e odorífera, tipologias do fenómeno que nos anos setenta estavam na ordem do dia, prevalecendo agora apenas a da poluição atmosférica (alterações climáticas), importa dizer o quanto de ruído visual é a mancha de eucaliptos na paisagem portuguesa, concretamente na zona centro do país que foi, aliás, a mais fustigada nos sangrentos incêndios de junho e outubro de 2017 (sobretudo em Pedrogão Grande e Oliveira do Hospital).

w

O livro a que aludimos no início é uma edição de autor (como poderia ser de outra forma?) do ano de 1987 e intitula-se “O eucalipto ou o homem”. Já Antero Gonçalves, o autor deste libelo, fala da invasão do eucalipto no sul do país.

w

PUB

Andam por aí os nossos governantes a fazer crer que os incêndios se devem à falta de limpeza das matas (para além dos modernos “golpes de calor”) e que a sua deflagração não é especialmente criminosa. Mas, como diria Antero, Portugal precisa é de ser limpo de quem ameaça destruí-lo.

w

O argumento em defesa do eucaliptal (cerca de 10% do território nacional) cuja mancha cresce à vista desarmada por todo o país, incide sobretudo na importância para a economia nacional da produção da pasta da celulose. Mas todos sabemos que uma terra de eucaliptos, após o terceiro ou quarto corte da primeira plantação, não dá para mais nada, nem para formigas. O eucaliptal, ao contrário do souto e do pinhal, erode o solo, seca as nascentes e aniquila a fauna. Esta monocultura florestal, que regenera facilmente nos terrenos abandonados, tem pouco potencial em termos de biodiversidade.

w

Se não pararmos com a mancha verde acinzentada na nossa paisagem, se sacrificarmos ainda mais a floresta autóctone, é certo e sabido que o país real, não o dos negócios misturados com a política, continuará a empobrecer.

w

Se um pinheiral dura séculos, dá madeira, “pasta”, resina, e não seca o solo, porque razão sacrificamos pinheiros para plantar eucaliptos, porque os incendiamos, se sabemos que na vizinha Espanha e no resto da Europa ardem muito menos pinheiros do que na nossa terra?

w

Recordamos neste artigo a intervenção da deputada Natália Correia (PRD) no nosso douto parla(palra)mento, em reunião plenária de 21 de Março de 1989, “… Com o correr dos séculos o culto religioso da árvore converteu-se num amor racional que estimava na árvore a qualidade de amiga do homem. É nesta tradição que a árvore ganha pergaminhos ecológicos em Portugal … Diz, contudo, um adágio popular: «Quem a boa árvore se chega boa sombra o cobre». Significa isto que o povo distingue entre árvores boas e más. É de conjecturar que na sabedoria do adagiário, a noção de árvore má fosse aplicada ao eucalipto cuja expansão exagerada devido ao culto do bezerro de ouro do industrialismo motiva um cortejo de malefícios que afectam a conservação do solo, a utilização diversificada dos recursos hídricos, a pastorícia, a protecção da fauna e outros danos adversos à fixação das populações. O facto é que dos efeitos maléficos da eucaliptização estariam avisados saberes populares cujo fundamento nos transcende, pois que essa espécie arbórea é rejeitada pela nossa toponímia e antroponímia em cujo imaginário entram os carvalhos, os pinheiros, as oliveiras e outras espécies, visto que de nenhum lugar ou pessoa chamada eucalipto temos conhecimento … Sr. Eucalipto, não conheço nenhum!”

w

Num artigo publicado no dia 2 de janeiro de 2019 no jornal Público os engenheiros João Camargo e Paulo Pimenta de Castro, afirmavam, “Portugal não precisa refundar a sua política florestal. Na verdade, as leis de base como a que foi aprovada para a floresta em 1996 dispõem de adequadas medidas de ordenamento e de gestão territorial. Mas o enorme poder dos interesses em presença – em especial do “lobby” das celuloses – contribui para adulterar em cada oportunidade o ordenamento das florestas em detrimento do bem comum”

w

Depois de debelada a pandemia chinesa da covid é necessário combater a epidemia portuguesa do eucalipto, que nas legislaturas de Assunção Cristas (ex-ministra da Agricultura e do Mar) e de João Matos Fernandes (ministro do Ambiente e Ação Climática), nesta nova legislatura substituído por Duarte Cordeiro, conheceu contra todas as expectativas, vá-se lá saber porquê, inusitada disseminação.

  Partilhar este artigo