Subsiste a Indignação

António Luís Fernandes

E por causa: uma decisão trémula, calculista e abusiva!

 

A igreja de Lavradas, em ruínas desde Dezembro de 2017 continua à espera de ser reconstruída. E não é por falta de verba ou de vontade popular! Como foram generosos os paroquianos de Lavradas e outros amigos que se associaram, com prontidão, ao fogoso apelo de uma rápida reconstrução, por forma a devolver aquele espaço de culto aos seus fregueses, comunidade activa e solidária. Que em pouco tempo juntou o dinheiro necessário para efectivar uma vontade comum, numa realização única, desejada e apoiada por todos. Anunciada, prometida e asseverada, nomeadamente nas campanhas de angariação de fundos, os donativos que ultrapassam os custos da reconstrução e arranjos externos.

 

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E tudo parecia bem encaminhado, com natural aceitação e empenho. Até ao dia em que, alguém decidiu alterar os dados e anunciar outros aliciantes projectos, com custos muito acima daqueles que estão consagrados no desejo da reconstrução. E que implicam, entre outros, a demolição da casa paroquial. E foi assim, de forma pensada, que se criou a contenda na freguesia e não só; a indignação ultrapassou fronteiras, nomeadamente junto das comunidades onde se fizeram peditórios, sob o lema: “vamos reconstruir a nossa igreja”.

As pessoas sentem-se enganadas!

A mudança e as decisões que vieram, posteriormente a público, são graves e podem ser contestadas, nomeadamente na exigência do retorno do dinheiro. O que é normal, quer se queira ou não. Em vez de se prosseguir um caminho de anuência e concórdia, houve a infeliz opção de baralhar e de colocar a freguesia numa desagradável situação de afronta e defesa! De desgaste e apoquentação mútua. Mais do que sinais, houve já alguns excessos e outros acometimentos, dos quais não somos dignos. Claro que não há culpados! Ora se os houvera… Tivesse, isso sim, havido bom senso, ponderação, altruísmo e racionalidade e não estaríamos nesta encruzilhada da qual não vai ser fácil sair!

 

Aconteça o que acontecer – com a probabilidade do atropelo à regra, com a teimosia de uma decisão trémula, interesseira, desnecessária – a freguesia está marcada e muito afectada pelos recentes acontecimentos do pós-anúncio da obra de raiz, também apelidada de “faraónica”!

As manifestações e os contornos a que chegam, as investidas e desavenças, os escritos nas redes sociais, os apelos escondidos e depois descobertos, as desditosas habilidades e frases feitas, o dispêndio de energias para iludir e convencer… São factos que preocupam e que deixam marcas profundas, numa comunidade caracterizada pelos bons modos de vida em sociedade, que se orgulha e se preza do seu património, da sua história, do passado… E que luta por um futuro digno e dignificante. Que ninguém se oponha à verdade e à justiça social. E teremos a paz e a harmonia que de facto merecemos!

 

GRITANTES DESIGUALDADES QUE INTERPELAM

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Lavradas, Portugal – Cidade da Beira, Moçambique

 

Foi lá longe, num país irmão! Furor e desolação, de uma catástrofe ciclónica. Que não poupou nada, nem ninguém! Destruição e morte…  O Idai, com ventos e chuvas fortes, destruiu casas, hospitais, estradas… E deixou milhões de desalojados e centenas de vítimas; Moçambique chora os seus mortos! Lá longe e ao mesmo tão perto… Ou não fossem as terríveis imagens que nos chegam, por tantos e diversos meios. Ficamos contritos, pois ficamos. E até pasmados, pois pudera. E cada vez menos solidários!

 

Também é verdade… –O dinheiro não chega para tudo, -atirou a Dona Ermelinda, que vai fazendo contas à sua vida! –Se fosse mesmo para ajudar aquela gente, eu até dava; mas ouve-se tanta coisa, sobre isso. A gente dá e depois vem-se a saber que os donativos vão para outras causas, para outras obras, para privados sob suspeita de fundos desviados, com o pressentimento de fraude!” Esta intuição e respectivos comentários são frequentes e ganham cada vez mais razão de ser. Cresce a desconfiança, aumenta a preocupação, tornamo-nos apreensivos! E claro está, paga o justo pelo pecador.

 

Há desigualdades tão flagrantes, que nos deveriam interpelar profundamente. E mais que interrogar levar a dar a resposta adequada, justa e justificada!   

Mas afinal que tem a ver a enorme tragédia em Moçambique, com a história recente da igreja de Lavradas? Que também foi, muito injustamente, fustigada por uma tragédia, cujo fogo a deixou apenas com as paredes?

“Aquele que tem olhos de ver, que veja. Aquele que tem ouvidos para ouvir, que oiça”

 

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