Marcia Mathias
Professora e Escritora
Universidade Federal Fluminense
Rio de Janeiro – Brasil
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O preconceito e a violência estão atrelados na sociedade a uma enrustida intolerância e uma soturna tradição cultural que se enraizou e está difícil ultrapassar. O status social e o econômico inferiores somados, ao gênero delimitam a maioria dos agredidos, que vemos todos os dias, seja nos meios de comunicação ou nas ruas das cidades.
O comportamento preconceituoso e violento é tão antigo e comum que as vítimas viveram, e algumas ainda vivem, como cúmplices desta discriminação. O que presenciamos, na atualidade, são respostas tardias, porém revestidas de empoderamento apoiadas por boa parte de indivíduos.
Indivíduos não são mercadorias e nem podem ser valorados pelo que têm ou pelo o que não têm, materialmente e nem pelo tom de sua pele.
Atualmente, as pessoas sentem necessidade de manifestarem repúdio às ações violentas. Por um lado é positivo, pois contagia e torna público, expandindo a questão. Por outro lado, sabemos que é insuficiente. Precisamos modificar a realidade, os ideais pré-concebidos desde sempre através de reflexões no âmbito da educação, da cultura, da saúde, enfim, de todas as dimensões do corpo social.
A realidade é que a violência está por toda a parte. A violência, a maldade, o assassinato está presente desde o início, como descreve a Bíblia: pecado original partiu de satanás.
Acompanhamos recentemente, pelos meios de comunicação, o assustador acontecido nos Estados Unidos, com o senhor George Floyd. Os celulares mostram a realidade, in loco. Ouvimos os gemidos daquele homem, dizendo que estava sem respirar. É preciso coragem para olhar e ouvir o noticiário sobre o assunto.
No Brasil, na mesma semana, presenciamos as imagens de Miguel, de 5 anos de idade, que fora deixado no elevador pela patroa da sua mãe. Ele queria sua mãe. O menino estava aos cuidados da patroa, para que a mãe do menino levasse os cães à rua para passearem. Miguel subiu ao nono andar e caiu daquela altura. Na televisão assistimos a tudo isso: a morte, o choro da mãe do menino, aos manifestantes nos Estados Unidos, mesmo em tempo de pandemia, mostrando repúdio à morte do homem negro, por um policial branco. Uma cena chocante, captada por um celular.
Será que existe algo que explique esse instinto de matar? O sociólogo Michel Maffesoli propõe considerar a violência como um pluralismo de tudo que se refere ao conflito, “a sombra” do homem e da sociedade.
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No decorrer dos tempos, o uso da força física, esteve presente como forma de repressão pela organização política. A banalização dessa violência; a racionalização desses atos, e consequente interiorização é uma maneira terrível de coerção. Que por sua vez, é irmã do preconceito.
Afinal, o que esconde tanta violência? A visão dessas expressões violentas choca, profundamente e revela dados da humanidade, rumando à degradação.
Degradação, violência, estudadas e observadas na história, reveladas como fenômenos que se reiniciam de tempos em tempos.
O modo excludente pelo qual os grupos sociais se organizam, dificulta a coesão social. Píncaros de violência se repetem na história do homem, entretanto não são evitados. Não são suficientes para o aprendizado e para o livramento desses comportamentos odiosos.
Sobre o tema, Maquiavel aponta “todo aquele que compara o presente e o passado, vê que todas as cidades, todos os povos foram e ainda são movidos pelos mesmos desejos, pelas mesmas paixões”.
Paixões, poder, controle, dominação, preconceito e saturação. Adiante, felizmente, a sociedade encontra formas de aliviar suas tensões urgentes e de atingir um pouco de estabilidade.