2017, o ano da Confiança

Armando Caldas

Médico

Após atravessar todos os cataclismos cósmicos previstos para 2016, nomeadamente a chegada do Diabo em Setembro, depois de ver cumprido razoavelmente o Orçamento de Estado para 2016, depois de devolvidos os confiscos salariais efectuados em nome da crise desde Janeiro de 2011, ou seja antes da chegada da Troika, parece que finalmente o país esboça começar a virar a página da austeridade e a encarar com mais optimismo o futuro que uma solução de Governo como a actual não se afigurava muito fácil atingir quando foram assinados os 51 compromissos que permitiram ao PS, apesar de conseguir uma votação inferior à coligação de Direita, formar governo e conseguir conciliar com a Esquerda à sua esquerda o que uma pratica de várias décadas vaticinou inconciliável.

 

Um ano depois da sua constituição, a controversa “Geringonça” continua a funcionar, escapando ilesa aos pequenos sobressaltos que aqui e ali parecem ameaçar a sua estabilidade. A tradicional conflitualidade social aguerrida da CGTP foi aparentemente metida na gaveta e até o PCP parece agora aceitar que a excelência tem de ser devidamente paga e que afinal não somos todos iguais, ao patrocinar uma solução que inclui um salário de cerca de 30.000 euros mensais para gerir um activo público, assumindo que tal é o preço a pagar pela excelência e que, apesar de sermos todos iguais,  não há mais nenhum igual que possa realizar o mesmo trabalho, seja por um ordenado igualitário e proletário, seja pelo mesmo montante que vai ser pago ao antigo Ministro da Saúde de Pedro Passos Coelho.

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Tradicionalmente menos exigente com o substantivo que impera numa sociedade de inspiração capitalista e burguesa, embora incontornável nas chamadas “causas fracturantes” das quais não abdica, o Bloco de Esquerda tem sabido conviver bem com um certo capitalismo de Esquerda, assumindo a rejeição da ditadura imposta pelo capital sem contudo prescindir de manter a melhor qualidade de vida por ele proporcionada, nem que para tal seja preciso perder a vergonha de ir confiscar o dinheiro dos outros, sobretudo aqueles que têm o atrevimento de acumular riqueza, algo que mereceu o entusiástico aplauso de muitos militantes Socialistas, revelando um recondicionado PS que se pretende agora reposicionar à sua própria esquerda, assumindo a herança marxista renegada pela chamada “terceira via”.

 

Pacificada a Esquerda, a Direita, agarrada à calculadora entre contas de somar e subtrair onde dois mais dois teimam em ser quatro, aguarda pacientemente os dias piores que considera inevitáveis, esquecendo, contudo, que as suas soluções apenas serviram um Portugal que não é o do comum dos Portugueses e que mesmo com tantos sacrifícios, a consolidação orçamental ficou muito aquém do esperado, os problemas estruturais da economia ficaram por resolver e o futuro foi sempre adiado.

           

Se como chefe do Governo, Passos Coelho não deixa grandes saudades, também como líder da oposição não tem sabido ir além do sofrível, apostando mais na pieguice e no sempre adiado insucesso mediático das políticas do actual Governo, do que em edificar alternativas credíveis a uma solução de governo que lhe tirou o governo da mão e deixa órfã a clientela do seu clube de poder e desanimada a sua claque de apoio.

           

Para 2017 só nos resta esperar que tudo continue a correr o melhor possível na nau comandada por António Costa e que se domestique o Adamastor para poder virar definitivamente o cabo das tormentas, tornando exequível ao PS conseguir nas eleições autárquicas uma legitimidade política inquestionável, capaz de calar a boca aos mais críticos, seja fora, seja mesmo dentro do partido, permitindo-se significativamente mais que um “menos que poucochinho” obtido em 2015, conseguindo assim finalmente traduzir em votos o que as mais recentes sondagens anunciam.

           

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Quanto ao resto, teremos Fátima, futebol, e, provavelmente o fado do costume.

Desejo a todos um bom ano de 2017.

Com ou sem milagres…

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