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Alexandra Vieira de Almeida: A potência comparativa no livro Guia de sobrevivência do exilado no próprio país, de Alexandre Meira

Alexandra Vieira de Almeida 1

Alexandra Vieira de Almeida

Escritora e Doutora em Literatura Comparada (UERJ)

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Alexandre Meira é carioca e tem 41 anos. Devoto do magistério. Mestre em Ciências Sociais. Faz deste seu primeiro livro um guia de sobrevivência que sirva de refúgio contra belicismos ou campanhas de ódio do dia de hoje. Um guia para esse novo exílio, dedicado a quem tem se sentido um pouco desterrado nestes últimos anos. Algo como estar, mas não sentir mais o Brasil, ainda que sob uma sombra de amendoeira no subúrbio ou tomando uma gelada com os amigos, mas sobretudo estando neste mesmo país.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Alexandre Meira, no seu livro de crônicas e ensaios, Guia de sobrevivência do exilado no próprio país (Penalux, 2020), realiza um trabalho comparativo formidável, mostrando toda a potência que existe no exercício crítico e bem estruturado teoricamente, ao revelar as semelhanças e diferenças entre o passado e o presente, e, também, no interior do verso e reverso, da própria contemporaneidade, como a visão de espelhos híbridos e, apontando, para um pressentimento de um futuro que está se realizando no momento presente, com sacadas geniais, pois como dizia o poeta francês Rimbaud, o poeta seria um vidente. Mas, para Meira, essa projeção do futuro seria algo mais arraigado a uma previsão histórica, calcada em modelos e circularidades que se moveram no passado e se repetiram depois, como na visão do filósofo italiano Vico, que no seu livro Ciência Nova, percebeu que há ciclos que se repetiram na humanidade, como podemos ver em sua “história eterna ideal”.

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Alexandre, no entanto, não quer ser erudito, como bem aponta LF nas orelhas do livro. O escritor carioca, no seu primeiro livro, já demonstra um domínio da escrita, de forma rica e bem urdida, intelectualmente e tecnicamente, pois que mistura a sabedoria dos conhecimentos vários, a uma dimensão literária que requer o uso de imagens e metáforas, com boas doses de ironia, sarcasmo e conhecimento da língua, com grande maestria.

Contudo, não é apenas a razão, com seu intelecto e uso de figuras de linguagem, que está em jogo. Há sensibilidade bastante, usando sua experiência pessoal e subjetiva para tratar de temas políticos, sociais, históricos, ou seja, algo no sentido mais amplo, é interiorizado pela chama ardente de seu ser, de forma integral e com a perplexidade dos verdadeiros escritores, que percebem detalhes que não são percebidos pela grande maioria, pois que a grande massa está envolta no mar sombrio do senso comum.

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Na dimensão teórica da literatura, por exemplo, há uma diferença entre o senso comum e o conceito, este aqui, baseado em reflexões mais profundas e complexas e levando ao diálogo fecundo e não ao discurso vazio e unilateral, como as falas de ódio requerem. O importante é ver o semelhante e o diferente, a repetição e a alteridade, iluminando seus contrastes pelo sol da razão e pela luz da experiência vivida desde a infância, esta, aqui, elemento crucial no seu fazer literário, que nos dimensiona para um processo de regeneração e utopias necessárias ao alimento humano, feito de esperança no seu princípio articulador.

O belíssimo prefácio do escritor e crítico Fernando Andrade diz: “Cronicar é também uma forma de pertencimento, pois revela madureza na relação no pessoal, como subir numa amendoeira na tenra infância para descobrir depois as metáforas das raízes desta mesma árvore que veio ao Brasil por volta de 1500 e aqui se espraiou”. Além das orelhas e prefácio maravilhosos e bem escritos, Alexandre Meira coloca uma epígrafe e uma nota, elucidativas para a compreensão de situações ocorridas ao longo de seu livro, que complexifica a tensão e a mistura entre teoria e práxis, não deixando seu livro ser um mero apanhado de citações, algo presente nas 145 páginas da obra. Suas citações revelam um pragmatismo com a realidade circundante, com a sociedade em que vivemos, demonstrando que o ensaístico tem uma relação viva com a voz que emana do chão do real. Assim, teoria e prática se misturam num amálgama perfeito.

Na epígrafe, Meira escreve, bela e ricamente, sobre a etimologia e origem da palavra Brasil. No final deste texto, ele conclui: “Mas, em todas as versões há de se respeitar a inequívoca constatação quanto ao seu significado conducente ao fogo, à brasa, ao sangue, à cor vermelha”. Na nota, o autor define aquilo que já constatamos, o teor político de suas histórias tem uma “narrativa pessoal”. O olhar, portanto, é anfíbio, entre mundos diversos e, aparentemente distantes, a olho nu, mas que, numa análise microscópica, revela seus múltiplos entrelaçamentos. Este livro é fruto dos três primeiros anos de existência do blog de Alexandre Meira intitulado Novo Exílio. E por que exílio, por que Alexandre Meira intitula seu livro como guia de um exilado no seu próprio país? Com o narrar dos acontecimentos em seus textos, teremos as conclusões sobre o título, tão fértil e ambíguo em seus significados, assim como a realidade em que vivemos.

A obra tem cinco crônicas ensaísticas, extensas e não deixando de lado o seu teor simbólico, real, mesclando o tom acadêmico, mas sem academicismos, no entanto, com sua praticidade, ao fazer da teoria algo visceral e carnal, como nossa existência problemática e polissêmica se apresenta.

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A seguir o título das cinco crônicas: “O golpe da amendoeira”, “O gol da Alemanha e a revanche dos vira-latas”, “Pizarro, cavalos e o fim da lava jato”, “Por que eu matei Marielle?” e “O chão de amêndoas”. Muito interessante notar, que após o título de cada texto, há a menção da data, com o dia, o mês e o ano, dimensionando a questão do diário, um gênero pessoal, em que fatos da vida do narrador se mostram em sua vivacidade. Dessa forma, o autobiográfico e o ficcional se intercalam, e sua obra se revela como um tapete com variadas figuras e formas, ao apresentar elementos diversos em sua composição estrutural e conteudística. Seu livro é bem datado e localizado, onde o tempo e o espaço adquirem aquele universo mesmo da crônica, que vem da palavra cronos, que significa tempo. Tempo que é inserido num espaço para se fazer presente e atuante.

Na primeira crônica, temos conversas no bar, entre bebidas e petiscos, o narrador e o amigo, com posições políticas distintas, discutem as suas divergências sobre a situação do Brasil. Nesse embate entre duas visões, encontramos a imagem refletida na realidade, zona de guerra e discórdias. O eu e o outro combatem, temos uma interlocução em que os opostos revelam a presença de dois Brasis que se dividem ferozmente. O amigo, com seu discurso já pronto e preestabelecido fala da crise que assolou o país, devido ao governo atuante no momento, antes do golpe de 2016, com a política petista. E, de forma inventiva e criativa, Alexandre Meira faz analogias e comparações as mais cotidianas com fatores políticos, ou seja, a política se reflete em toda a nossa vida do dia a dia. No seu livro temos um gênero anfíbio, como já dissemos, entre a crônica e o conto, misturando reflexões sobre a “história” do país com belas contações de “histórias”.

Além do fator pessoal, o narrador refaz o raciocínio do amigo passo a passo, a partir do estilo dissertativo, que a partir de argumentações,  revela as “armadilhas fáceis da pseudo-informação”. O narrador compreende, assim, a diversidade do pensamento político, o que a grande maioria não percebe. Para tanto, usa a intertextualidade através do campo da potência comparativa, ao citar sociólogos, jornalistas, ensaístas, escritores, tanto nacionais como estrangeiros. Nessa crônica, em particular, que disserta sobre o golpe de Dilma em 2016, ele cita Ponte Preta e Nelson Rodrigues. O narrador questiona a crise econômica, observada pelo amigo, questionando sua versão dos fatos, que é contaminada, pelo senso comum. Dessa forma, também encontramos na escrita de Alexandre Meira, o tom machadiano, que influenciado por Luciano de Samósata e Xavier Maistre, se valia da paródia a partir do processo citacional comparativo, na sua conversa com o leitor. Meira, em vários momentos de seus textos, se dirige ao leitor. E nessa primeira crônica, o leitor é metaforizado pela figura do amigo com quem ele conversa no bar, seus leitores serão esses leitores que não entendem o diálogo e apenas o discurso? O “nobre leitor” a quem ele se refere, ironicamente, não seriam aqueles que precisariam de uma orientação, de um guia para entender melhor o que aconteceu no Brasil nesses últimos anos? Num tom irônico e ácido, o narrador escreve: “E olhe, nobre leitor, que os cantos maviosos de Jucás e Calheiros já haviam ressoado por toda a fauna brasileira”. Alexandre faz comparações com o passado e o presente, sem ser anacrônico, ao ver o percurso de uma genealogia de extermínio e totalitarismo como o nazismo, o stalinismo e o Império Romano, em que prisioneiros políticos foram figuras importantes oprimidas e silenciadas pelo poder dominante. Dessa forma, ele faz, de forma exímia, um trabalho de rememoração para que o presente seja mais compreendido. Alexandre Meira não bebe da água do esquecimento do Lete, algo que a maioria bebeu tropegamente, sem reflexão e criticismo.

Há, assim, algo ensaístico de grande densidade em suas crônicas, pois cita a análise de um filósofo e ex-Ministro de Estado estrangeiro Urger, comparando o impeachment de Dilma a outros impeachments para confrontar ou aproximar fatos históricos. Com relação à história americana, cita, também, fontes analíticas do processo político internacional para cotejar realidades. Dessa forma, temos a questão das fontes e das influências no desenvolvimento de suas reflexões e questionamentos, realizando um verdadeiro tributo ao passado, à uma herança teórica e política, como, por exemplo, ao citar o livro “O federalista”, de Alexander Hamilton.

Alexandre realiza, com grande riqueza de detalhes, a contação dos bastidores do impeachment a partir do discurso dos envolvidos, como o relator de Dilma no Senado, mostrando a visão do “demônio da parcialidade”, que culminou com o golpe de Estado. Ou seja, o lá e o cá, o de fora e o de dentro, a partir de suas leituras essenciais para a compreensão dos fatos históricos no seu próprio país. Cita até frases e falas de políticos, como o ex-Ministro do STF Joaquim Barbosa. E, voltando no tempo, revela as brincadeiras da infância, um momento paradisíaco, sem estas divisões e combates, mostrando a dureza da dimensão política de nossa realidade com imagens de intenso lirismo e poeticidade da criança que habita dentro de seu ser, que rememora, e no interior de cada um de nós, como numa espécie de resgate de um tempo perdido.

No livro do escritor Eduardo Sens, por exemplo, ele cita esta caracterização da infância como o espaço simbólico da indistinção, no seu romance De quando éramos iguais. Alexandre Meira fala de “crianças brincando iguais e fraternas”. Assim, o narrador vai criando pontes e analogias, umas movediças, como o universo da política, outras mais líricas e outras, ainda, mais duras e sarcásticas, ampliando seu campo de visão em estilos diversos e plurais.

Há trechos de intensa poeticidade e nostalgia, quando fala da criança de oito anos e a amendoeira na rua, “como uma alquimia, pensamentos viravam lágrimas”. E numa dimensão, ao mesmo tempo, de crítica e posicionamento político, diz, quando reflete sobre a fala do amigo: “É simples: diálogo não é discurso”. E Alexandre Meira faz uma digressão rica ao utilizar o teor linguístico, falando, novamente, da etimologia e origem das palavras, retornando ao sentido originário dos termos, mal compreendidos pela turba massificada. Numa visão também foucaultiana, como na Microfísica do poder, revela que a política está em todas as instâncias da sociedade, desde o micro ao macro.

O narrador conclui que o discurso do outro não é diálogo, sempre colocando a culpa na crise econômica e nos desempregados que assolam o país. Meira reflete sobre a fragilidade de nosso sistema político. Nós estaríamos, segundo sua versão dos fatos, caminhando para a barbárie, sem uma interlocução possível. Pois mesmo em meio ao nosso processo civilizatório, regredimos a um estágio totalitário e antidemocrático. O princípio da justiça seria civilizatório, quando na verdade, o narrador critica o golpe de Estado, sem chances de defesa, e não seguindo as regras da Constituição.

A filósofa Hannah Arendt tão bem analisou o surgimento dos regimes totalitários, sua ascensão e queda. Meira, para suas conclusões, cita livros, fatos históricos, literatos e até mesmo jornais, como uma nota do Estadão sobre o Ministério Público que afirmou que as pedaladas do governo Dilma não são crime. A sua temática política é ao mesmo tempo investida de seu tom analítico e valorado, também, por sua dimensão vivida. Assim, cada ser deveria ser vestido pela túnica invisível da justiça e não pela cegueira do desmando. Nesse sentido, seu livro disserta sobre a seguinte questão, tão complexa na sociedade: o que é o humano em nós? Parece-nos que estamos passando por um processo de aculturação e alienação massiva. E, de forma irônica, Meira utiliza a palavra “digamos”, hipoteticamente, se valendo dos discursos alheios que seriam irrefletidos para criar o jogo textual, através de suas réplicas.

A partir de seu imaginário invertido, questiona a versão hipotética e imaginária do outro, que não teria fundo. Não é um narrador que vai querer a afeição de um leitor cordial aos seus pensamentos, se não houver diálogo, só concordância, será cúmplice do outro. Não quer cair num abismo, mas mostrar uma separação, uma cisão, em que o diálogo, a ponte com o outro seja possível. Na verdade, seu leitor é seu oponente, amigo também da infância, numa mesa de bar agora, com suas tabelas, números, artigos, Fla-Flus. A amizade é posta em risco, é necessário o senso ético.

O narrador coloca em xeque a política brasileira corrompida pelo o que ele chama de “bombardeio midiático” e “julgamentos prévios”. O discurso de “ódio”, impera, trazendo a ferida, a chaga na Democracia. O leitor tem um duplo endereçamento: seu amigo de infância e aquele também que se despiu de seu próprio caráter. Assim, o leitor se cinde, entre o individual e o coletivo, o particular e o social, fazendo a ponte entre o privado e o público. Entre bebidas e questões políticas, sua primeira crônica é um soco principalmente aos leitores desavisados. E ele faz uma análise sob a luz comparativa da ditadura também. No final, temos a descrição do que o amigo se tornou, que deixo à leitura dos olhos ácidos dos receptores.

O livro seria um guia também não só para os leitores alienados pelo sistema, mas também para os exilados, ou seja, aqueles que foram excluídos pela máquina opressora e, também, para aqueles que possam adquirir conhecimentos diversos sobre vários campos do saber, pois seu livro se pautou num trabalho de intensa pesquisa e estudo. Um verdadeiro guia para todos os que necessitam de refletir um pouco mais dos acontecimentos em nosso país. Como as coisas externas nos afetam, nos impactam, parece-nos dizer a música, o canto que vem de seu interior e da própria amendoeira, que traz a metáfora da mudança, da transformação, como o próprio processo da história em sua trajetória pelas épocas. Num fluxo, numa mudança, nada permanece igual e, sim, em constante metamorfose.

Na segunda crônica, temos o relato ácido, humorístico, crítico sobre a nossa realidade futebolística em que Alexandre Meira narra, com minúcias, os lances do jogo do Brasil contra a Alemanha, na Copa, com sua visão peculiar, crítica e literária. Vemos passes, lances, gols, o conhecimento ritual do esporte. Compara os deuses do passado, no seu Olimpo, como Garrincha, fazendo, novamente, um trabalho de cotejamento das diferenças, pois foi vergonhoso para os brasileiros o jogo contra a Alemanha, que nos fulminou com 7 gols. Com uma linguagem veloz e ligeira, como num jogo de futebol, Meira capta os momentos mais cruciais do jogo. No contraste entre as línguas, como em “iniciou uma nova blitzkrieg na área canarinho”, o que resultou nos sexto e sétimo gols, o narrador nos apresenta que o jogo esportivo pode ser traduzido pelo jogo linguístico. Alexandre mostra toda a repercussão desse momento, recepção que revelou qual foi o impacto deste fator na vida do cidadão brasileiro. Em cenas hilárias e risíveis, ele expõe a ferida aberta do acontecimento.

Alexandre Meira mexe com as camadas da sociedade e as estruturas de poder, um verdadeiro “terremoto” nacional. Não quer se colocar como “vanguardista” ao associar o futebol aos problemas políticos e sociais do seu país. Ele mesmo diz que essa relação não é inédita. E, ao longo da crônica, ele revela essa associação entre o esporte e a sociedade, utilizando, novamente do passado para falar das influências entre eles. Ele diz, por exemplo, utilizando-se de uma expressão de Nelson Rodrigues: “O desastre da Copa de 50 e seu impacto negativo no imaginário complexo do vira-lata brasileiro…” E, em outro momento, diz: “(…) a apropriação da maior seleção de todos os tempos, a de 1970, por parte do Regime Militar…” E, numa posição positiva e ufanista, nos mostra: “(…) e o deslumbramento da reabertura com o futebol moderno da seleção de 82…”

Meira cita jornalistas e teóricos, mesclando a linguagem ensaística e jornalística e, ao mesmo tempo, uma expressão mais direta e objetiva, com momentos de grande reflexão, usando figuras de linguagem, também, dosando elementos que pareceriam, num primeiro momento, distantes. Cita exemplos de teóricos e jornalistas que relacionaram as transformações políticas no país ao futebol, com suas repercussões. Cita, por outro lado, os nossos escritores como Nelson Rodrigues, refletindo sobre frases de nosso grande dramaturgo da realidade brasileira como o pressentimento do que estaria por vir. Alexandre critica a “elitização do futebol brasileiro”, diferenciando o “torcedor tradicional”, o de baixa renda, com o apelo do futebol como um “serviço”, com toda uma infraestrutura relacionada. Assim, a mágica do futebol com seu “espetáculo”, em que reinava a “imprevisibilidade”, transforma o torcedor em “consumidor”. Os valores maiores do esporte se tornam monetários ao invés do que Meira chama de “integração”, “congraçamento”. O símbolo do futebol vai se perdendo numa lei do consumo e prestação de serviço para seus consumidores eleitos. E num processo comparativo com o mundo clássico, o narrador mostra o abismo que separa o mundo do mito daquilo que é superficial, quando fala da jornada do herói grego se perdendo na imagem do “super-herói fast-food”.

As análises profundas que ele faz com a obra de Nelson Rodrigues no contexto de seu livro não se desloca, mas compara, não havendo um descentramento, um anacronismo, pois Rodrigues é atualíssimo, podendo ser reconfigurado no momento que Meira viveu. Um exemplo é que Nelson descortinou a “classe média” com o “orgulho farisaico de seus costumes” e “hipocrisia”. Para Alexandre, a dita classe média não é homogênea, mas convive com o antagonismo dentro de si. Ela seria importantíssima na formação de opinião e controle social. Ela seria, em uma de suas partes, um verdadeiro “capitão do mato das classes populares”.

Assim se revela o “controle ideológico”, a diferença de classes. E, por isso, a metáfora da rua, no seu processo de inclusão e exclusão, é tão importante no livro de Alexandre, pois tanto mostra seu aspecto revolucionário, como seu valor excludente e opressor. Segundo Meira, o golpe de 2016 foi uma quebra do contrato jurídico. Faz menção ao sociólogo Jessé de Souza, que revelou o duplo papel da classe média, com suas metáforas de “ressentimento” e “admiração” pelos ídolos, que estão no topo da pirâmide. Além dessa referência política, Meira também se utiliza de referenciais do campo da arte, como o quadro “O jantar”, de Debret e a religião, citando a Bíblia. A sua potência comparativa é multifacetada, aproximando saberes e trazendo as analogias e diferenças na nossa sociedade. Compara, ricamente e com grande desenvoltura, personagens políticos do nosso cenário nacional a caracteres rodriguianos.

Meira revela, também, na sua visão política, o maniqueísmo entre o bem e o mal, quando compara o que os outros veem com relação às figuras públicas de Moro X Lula. Para ele, com isto, a imparcialidade ruiu. Os personagens rodriguianos têm duplo caráter. Com sua memória fantástica, Meira remete a vários livros e personagens do nosso grande dramaturgo para explicar o cenário político brasileiro. O narrador também mostra que para se ter um regime totalitário não basta o ditador, mas antes um fascismo, como o de Hitler e Mussolini, teve “antes” uma “base social’.

É interessante notar, que na sua crônica, após o relato inicial do jogo do Brasil X Alemanha, temos digressões ensaísticas depois do jogo, com seu retorno no final, revelando circularidades e retornos em sua obra. Usa do recurso tecnológico, com seus likes no meio político, ou seja, as redes sociais desenvolvendo a ascensão da fascio em nosso país. Além de mencionar Jessé de Souza, revela as reflexões da grande filósofa Marilena Chauí que faz uma crítica dura ao fascismo reinante. A linguagem jornalística forte e contundente de Meira tem um viés analítico e irônico, potencializando o tom crítico de sua pesquisa.

Remete ao escritor angolano Eduardo Agualusa sobre os fascistas, que têm intolerância vestida de “falsa cordialidade”. Meira também critica o Neopentecostalismo, com seus valores da teoria da prosperidade, determinando uma moral sexual vigente, em que veem o diferente como perversão, com seus ideais de família tradicional. Percebe também sua “preponderância messiânica do individual”. Portanto, ao descrever o futebol, o jogo entre Brasil e Alemanha, em que fomos massacrados, disserta sobre política, sociedade, religião, artes, como a pintura e a literatura, ampliando seu campo de visão, que como águia, alcança voos bem altos.

 

Na terceira crônica, Alexandre Meira critica a parcialidade da operação Lava jato. Com sua ironia intensa, mais uma vez faz relação entre as linguagens das artes como o cinema e de outras formas de conhecimento, como o bíblico. Meira conta todos os meandros e bastidores da operação com um olhar agudo e crítica mordaz. Ele diz, a partir do imaginário da figura do bode expiatório, tão recorrente, também, no contexto religioso: “Uma imensa e maquiavélica jabuticaba que, para descer goela abaixo, precisava apresentar na bandeja a cabeça da presidenta eleita Dilma Roussef”. Compara os “parças” aos algozes, na sua analogia com a falta de ética. Ele afirma que o tal “combate à corrupção” foi usado para ocultar um ódio de classe na sua agenda que demonstrou seu “saudosismo colonialista”.

Alexandre questiona essa obsessão do combate à corrupção, quando, na sua versão dos fatos, mostra que nos governos petistas houve redistribuição de renda. E, apesar dos problemas que o governo apresentou, ele foi pautado no viés democrático. Mesclando momentos de uma linguagem mais direta a outros com uma forma indireta de relatar, Meira realiza o jogo textual, em sua plena ambiguidade. Faz uma crítica daqueles que foram às ruas, não com o objetivo de revolucionar ou trazer mudanças para a estrutura oligárquica de poder, apoiada pelos grupos financeiros e pela mídia. Afirma que os manipuladores de massas preferem “teorizar conspirações religiosas e vaticínios bíblicos a compreenderem geopolítica”. Como num jogo de espelhos, o escritor vai destrinchando a carne do “rebanho”, expressão esta utilizada por Nietzsche para falar daqueles que preferem escolher o “último homem”, do que o “super-homem”, tão alienados que estão no seu universo medíocre.

Critica a dita “jornada messiânica, moralista e purificadora”, que esconde, na verdade, o mecanismo de poder sobre o outro, destruindo qualquer tipo de alteridade. E, para isso, volta-se ao passado, novamente, ao comparar realidades distintas, mas semelhantes em sua forma de dominação e conquista do diferente para subjugação e opressão. Sua memória traduz uma forma de driblar o esquecimento de seus “nobres leitores”, que, por beberem demasiadamente a água do Lete, como dito anteriormente, se esqueceram de seus próprios passados de domínio sobre o outro. Ele relata a conquista espanhola, com as figuras emblemáticas dos conquistadores Cortés e Pizarro.

Os espanhóis utilizaram do medo de seus oponentes, que apesar de serem em maior número, tinham verdadeiro pavor de cavalos. Os nativos confundiram os cavalos com os cavaleiros, acreditando que fossem uma única entidade. O genocídio nas Américas se deu a partir de estratégias bem calculadas e maquiavélicas no intuito de dominar os ditos “inferiores”.

Nesse processo comparativo, Meira aplica suas digressões analíticas ao passado, aplicando-as ao presente, dizendo que o salvacionismo de certos grupos da atualidade reflete estes esquemas binários de desmantelamento do que é vário e incomum. Assim, o autor carioca faz comparações inusitadas entre épocas distintas, realizando uma verdadeira provocação com sua leitura crítica e mordaz. Ele afirma que a Lava jato só atacou apenas um lado do espectro político, criticando sua falta de imparcialidade, ao invés dos empresários e as oligarquias no poder. Se queria criar com essa operação um país novinho em folha, mas esse novo, segundo Meira, não destruiu as velhas estruturas. Não foi um projeto de regeneração, mas de implantação das estruturas antigas de poder, com seus privilégios e que perpetuam a superioridade de um pequeno grupo sobre a grande massa.

Além de citar este fato histórico relativo à conquista espanhola, que não mostrou uma superioridade em número, mas tecnológica, Alexandre fala sobre os primórdios da Revolução Industrial, que a partir de Ned Ludd, os chamados ludistas, destruíram as máquinas, como forma de protesto e desafio à exploração do trabalho. Seja com a conquista espanhola ou com movimentos revolucionários na Inglaterra, percorrendo o globo terrestre, o cronista e ensaísta Alexandre revela que a revolução não ter que ser somente uma ideia, mas uma práxis, como sua escrita, com pleno poder de realização e transformação, pois a utilidade do pensar se dá em sua completa ação, como um ato revolucionário requer.

Ele conclui, dizendo: “Resta sabermos se, quando nos houver nova oportunidade histórica, em defesa de nosso futuro, alvejaremos dessa vez o cavaleiro ou novamente o cavalo?” Portanto, o que Pizarro, os conquistadores espanhóis, poderiam nos dizer, em tempos sombrios? Isso nos faz lembrar, no seu lado reverso, o que poderia acontecer se Jesus Cristo tivesse nascido agora entre nós. Pensemos no tão conhecido capítulo “O grande inquisidor”, do romance Os irmãos Karamasov, obra-prima de Dostoiévski. Nessa parte, há o aparecimento de Jesus Cristo na Espanha do século XVI. Isso produz uma reação imediata do Grande Inquisidor. Ele manda prender Jesus Cristo, mesmo sabendo quem ele era. O inquisidor de Sevilha o desafia, afirmando ser ele o responsável pelas mazelas do mundo. O final deste capítulo deixo aos leitores do imenso escritor russo.

Na quarta crônica, Alexandre discute, mais precisamente, sobre a questão dos Direitos Humanos e das minorias, a partir da figura de Marielle Franco. Recorre a vários momentos no país, como um jogo de futebol, a descoberta de um documento sigiloso da época da ditadura, que mostra toda a atrocidade deste mecanismo de perseguição. A arte a serviço da contestação, com a referência a um videoclipe de um rapper americano Donald Glover que criticou o status quo americano. Nesse vídeo, encontramos a crítica ao racismo a partir de suas referências simbólicas. Alexandre diz sobre este trabalho como uma “bomba semiótica devastadora”. Isso provocou uma reação avassaladora, com 100 milhões de visualizações logo no início da exibição. Meira revela, assim, como fazer tremer a estrutura, que se caracteriza pela “assimetria e desigualdade”. Ele diz: “Não há nada mais anárquico do que a mobilidade social, à revelia de qualquer dominância, dentro de um espectro pré-determinado”.

Para Meira, é necessária a movimentação para chacoalhar a percepção do mundo reinante. Ele narra todas essas digressões analíticas para chegar a um ponto crucial e impactante, a figura de Marielle, que representou a voz das minorias, pois para Alexandre Meira: “Ela se moveu”. E ela teve participação na política, sendo eleita democraticamente: uma mulher, negra, gay e de origem pobre. Ocupou, assim, um espaço que não seria destinado a ela. O cronista carioca critica o sistema, máquina que cria desigualdades, afirmando que a vereadora morta foi uma “bomba semiótica”. E, dessa forma, utilizando a imagem emblemática de Marielle, como exemplo, disserta sobre o racismo estrutural na sociedade.

As famosas Fake News, de acordo com Meira, produziram absurdos, com suas versões mirabolantes sobre o ocorrido, baseadas no senso comum. Isso revela a dupla imagem, como dito anteriormente, que explica a barbárie em meio ao processo civilizatório das sociedades. Para isso, cita as estatísticas, expressando os principais assassinados em nosso Brasil: “(…) de cada 100 pessoas assassinadas no país, 71 são negras”. Portanto, ele pergunta, por que mataram Marielle? Ele disseca a relação racial com a violência no Brasil e desmonta as hipóteses sobre sua morte pelas notícias falseadas. Ele chama este sistema moedor de gente pobre e preta de “meritocrática cadeia alimentar”. Por isso, ele reafirma a importância da mobilização, para se destruir esse “racismo estrutural” que tem uma herança escravocrata, que não é individual e subjetiva, mas reflete “como a sociedade se organiza e reproduz”.

Em outro momento, Alexandre nega o que chamam de “racismo reverso”, ou seja, o negro ser contra o branco, uma infundada teoria, pois ele conclui que no racismo tem de ocorrer uma relação de poder. Ele cita também a mortandade de PMS. Retorna à questão das Fake News, que tiveram uma visão negativa de Marielle, servindo até, para interferir nas eleições para presidente. Alexandre faz uma crítica dura com relação a certas falas e discursos, comparando textos de jornais, em que pessoas do vértice da estrutura, no alto da pirâmide, se utilizaram dessas falsas notícias para seus próprios interesses. Como exemplos, utiliza trechos da Folha de São Paulo e El País.

Segundo Meira, há toda uma “indústria da violência”. Criou-se, por exemplo, a “Indústria da seca”, para os políticos ganharem votos com a promessa de acabarem com os problemas desta região. No meio de toda a violência narrada e discutida, relata um fato na infância, na metáfora da mangueira, que traz a vida, a água para matar a sede. Na celebração da vida, da delicadeza e da pureza da criança, temos a descrição trágica e virulenta. A imagem da criança, com sua inocência, se apresenta como um elo perdido, uma rememoração, uma digressão em meio ao estado caótico da humanidade.

Mas esses preconceitos estruturais não se dariam apenas no sistema do Estado, algo macro, mas em movimentos menores, como nas relações de amizade. O escritor carioca diz: “As amizades escondem relações de poder, reproduzem assimetrias e quase todas são capazes de infligir golpes duros contra quem quer que seja atrás de risos, comentários, declarações, julgamentos”. Na suposta “intimidade irmanada” pode haver muito preconceito, relações de poder, com suas “violências simbólicas”. Ele diz que o preconceito é anterior à razão. Isso nos faz lembrar do grande filósofo indiano Krishnamurti que dizia que os seres humanos fazem julgamentos sobre os outros pelo fator do que projetamos pela nossa memória acumulativa. Ou seja, não esquecemos, sempre estamos julgando, baseados nas comparações. O filósofo oriental ainda fala sobre nosso sistema educativo que é projetado para uns competirem com os outros, sem percebermos os valores mais humanos e essenciais.

Este apelo do escritor Alexandre por uma visão humanista levaria o leitor a refletir sobre as desigualdades sociais e, aqui, temos uma surpresa com relação ao narrador, como ele se define e como ele descreve o seu leitor nessa parte, de forma específica. Deixo esse mistério para ser desvendado pela curiosidade dos receptores da obra. Cita um relato de José do Patrocínio, um acontecimento no passado para tentar entender de forma mais profunda seu próprio interior e o externo, a sociedade e a realidade circundantes. E, nas últimas frases da crônica, arremata com uma interrogação: “Você decide o que fará com seu próprio silêncio. Por que eu matei Marielle?”.

Na quinta crônica, que fecha ciclicamente o livro de Alexandre, com a metáfora da amendoeira, temos, novamente, como no texto de abertura do livro, um relato memorialista, com momentos importantes da infância. Aqui, ele mostra as brigas e rivalidades na fase infantil, reproduzindo o mundo dos adultos. Como na escola do narrador, em que as crianças gritavam, de lados opostos, Collor X Brizola. Mas um garoto, de forma surpreendente, destoou dessa revanche e gritou “Lula!”. Nessa fase, o narrador tinha dez anos. Outro acontecimento impactante na vida do menino foi um assassinato na rua onde ele morava. Só que não apareceram as autoridades para enterrar o corpo e, de repente, aparece um pastor no meio deste trecho. Aos leitores, deixemos o enveredar por estes caminhos inesperados.

Nessa crônica, com o retorno a sua infância, temos o impeachment de Collor com os “caras-pintadas”, revelando a outra face da moeda, o outro lado da mobilização nas ruas. Na sua fase de criança, ainda nos descreve a construção de um condomínio X a localização mais simples e natural em que vivia, apresentando as diferenças de classes. A metáfora das caixas velhas parece-nos dizer sobre um pressentimento, uma projeção para o futuro, pois que o menino utilizou caixas para alcançar o muro e ver o outro lado da vida, o condomínio. Não estaria aqui presente a ascensão social que muitas pessoas de baixa renda conseguiram atingir em governos mais democráticos? Nessa crônica há também a crítica a certos evangélicos que seriam manipulados pela visão política do pastor, no seu jogo de manipulação a partir dos fiéis.

De forma irônica, Alexandre expõe o nervo de certos membros da classe média, que sabendo-se pobres, revelam seu “ressentimento de classe”. E a corrupção política sempre atravessou a história, não sendo uma característica apenas da época em que o autor vive. Critica o governo de FHC que fez surgir uma crise econômica, com a diminuição da qualidade de vida da população brasileira. Meira nos revela a importância da Educação num país alienado, pois foi na faculdade que ele aprendeu o que eram os Direitos Humanos. Num governo antidemocrático, que ataca a Cultura, a Educação e a Ciência, nada mais propício para se desmantelar os muros sólidos da divisão, mas frágeis aos olhos do narrador. Por isso, narra sobre a ascensão de Lula. E compara a questão da “corrupção sistemática” e “localizada” com o problema das desigualdades sociais, concluindo que aquela não vai acabar, no combate a ela, com essas desigualdades, pois não é uma questão política, mas econômica. E para se acabar com as separações de classes, seria necessário ir mais fundo, ou seja, destruir com um martelo a estrutura assimétrica e nivelada em que vivemos.

Para Meira, Lula produziu uma inversão na pirâmide, a partir da justiça social. Uma empregada poderia ter um carro. Tivemos a “regularização do ofício de doméstica no país”. Com sua política de combate à pobreza, Alexandre faz uma crítica feroz aos grupos que criaram preconceitos com algumas de suas conquistas no campo social. Nas redes sociais, com a “revolução digital”, ocorreu uma “onda moralista”. Ele diz: “A corrupção se transformou na pior chaga brasileira”. Não que a corrupção não seja uma chaga, longe disso, mas o que o narrador conclui, é que isso serviu para abafar outras coisas mais terríveis em nossa sociedade, nas estruturas necropolíticas de dominação, com a fome, a miséria, os genocídios de indígenas e negros.

Numa verdadeira desconstrução simbólica, como uma “bomba semiótica”, seu livro é um manifesto, em que o privado e o público, o interior e o exterior, as ruas (inclusão/exclusão), são expostas em sua dimensão catártica, sem anacronismos e com grande teor analítico. Para tal, questiona a pergunta anacrônica de um amigo: “no que o comunismo deu certo?” Alexandre coteja realidades distintas, comparando a realidade feudal e medieval, com seus mecanismos de exploração, ao momento atual. Com seus jogos de linguagem, repetições, inversões e ironias, Meira vai desmanchando o discurso pretensamente sólido do outro e questiona: “e o capitalismo”?” Pois como disseram Marx e Engels, no seu Manifesto Comunista: “Tudo o que é sólido se desmancha no ar”.

Outras temáticas comparecem na sua obra como os chavões e lugares-comuns do terraplanismo, olavismo x os conceitos fundamentados pela História e pela Ciência. O “obscurantismo”, o “Complexo de Estocolmo”, de determinados setores da classe média, em que o oprimido passa a ter uma relação de empatia pelo opressor. E retrata, de forma abismal, que a concentração da metade da renda do país está com os mais ricos. A eleita classe média teria “ódio ao pobre” e amor pelo agressor. E, num processo de mudança, revela que a amendoeira, quando o narrador já estava adulto, numa fase de sua maturidade, exatamente naquela em que há uma alteração na sociedade, havia sido cortada. Aquela árvore da infância que lhe dava alento e refúgio se perdeu. Foi golpeada. E a imagem não poderia ser mais elucidativa para os temores da época presente. Pois um líder se eleva ao poder a partir do seu viés preconceituoso e messiânico, de salvação da pátria e ataque às minorias. Alexandre repete os discursos do eleito sem mencionar o nome dele. Ele também diz: “Esses sentimentos saíram do armário quando ratificados pelo voto”. Só depois cita o nome: “Jair Bolsonaro”. E ele relembra a fala do pastor: “É a tal da democracia”. Meira revela, com seus dados, a manipulação das massas a partir de empresas de marketing, num contrato de milhões, para disseminarem Fake News, em que houve a venda ilegal de banco de dados de números de usuários.

Portanto, o primeiro livro de Alexandre Meira tem o amadurecimento de uma amendoeira adulta, que a partir de sua germinação e regeneração, produz cânticos de “resistência” e “revolução”. Um guia para a solidão dos exilados, como ele mesmo afirma. A partir de sua força comparativa, em que vários saberes, tempos, espaços e realidades são entrelaçadas e cortadas pelas adagas inventivas da escrita, costurando-se os fios das analogias e diferenças, semelhanças e dessemelhanças, sua obra, no final do livro, faz uma comparação bíblica genial, revelando todo seu teor simbólico em meio à análise árida e ácida. Terminamos este ensaio sobre sua obra de crônicas ensaísticas, com um trecho da parte final do quinto texto que encerra seu livro potente: “E na história do Brasil, Deus nunca chegou a tempo de segurar o golpe certeiro da mão de Abraão contra Isaac”.

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