Foi com grande tristeza que recebi a notícia da morte do Arnaldo. Tenho plena consciência de que todos iremos morrer um dia. Mas sempre que somos surpreendidos por um desaparecimento de um familiar, de um amigo ou de alguém mais chegado, ficamos abalados. Eu estou em estado de choque e curiosamente ainda ontem falei nele, narrando algumas peripécias divertidas ocorridas com ele.
Texto: José Manuel
Fotos: Joca fotógrafos
O ‘Quelhas’, como carinhosamente era conhecido por todos, era uma figura emblemática da cidade. Afável, educadíssimo, prestável para fazer qualquer “recado” ou tarefa que lhe fosse solicitada. Deambulava pela cidade de Viana do Castelo, percorria as artérias da urbe, mais concretamente do centro histórico, quer chovesse, quer fizesse sol. Era uma pessoa que não criava qualquer atrito com ninguém e sempre fugia de ambientes de grande hostilidade ou confusão. Apesar de algum ligeiro atraso mental, era um homem perfeitamente lúcido e conhecedor das suas limitações e responsabilidades. Talvez por isso, o Arnaldo, tenha sido meu companheiro da primária, e eu já andava na secundária e ele ainda permanecia na primária. O Arnaldo era de origem muito humilde e, na época, os serviços especiais de ensino eram praticamente inexistentes ou apenas acessíveis aos ricos.
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O Arnaldo era uma figura que a cidade em peso tratava com carinho. Não é conhecido qualquer episódio de discriminação, escárnio ou marginalização. Bem pelo contrário, o Arnaldo tinha o hábito de pedir dinheiro para um pingo, (era pingodependente) mas só pedia aos amigos e conhecidos de longa data, não pedia a mais ninguém. Quantas vezes me abordava e pedia para o levar a casa, só me trocava o nome, e eu fazia-o com grande prazer. Ultimamente, sobretudo, eu próprio tomava a iniciativa de o levar pois já se encontrava muito debilitado fisicamente.
De todas as coisas engraçadas que recordo do ‘Quelhas’, entre imensas, destaco esta frase ” Manéu, estes gajos pensam que eu sou tolo, ohhhhhh, mas eu tenho bilhete de identidade e tudo”!
Recordá-lo-ei sempre á minha maneira e a sua imagem permanecerá sempre na minha retina, como um bom homem…
