Bicadas do Meu Aparo: Cigarros, saliva e ciclistas

[[{“fid”:”31889″,”view_mode”:”default”,”fields”:{“format”:”default”,”alignment”:””,”field_file_image_alt_text[und][0][value]”:”Logotipo Bicadas do meu Aparo”,”field_file_image_title_text[und][0][value]”:”Logotipo Bicadas do meu Aparo”,”external_url”:””},”link_text”:false,”type”:”media”,”field_deltas”:{“1”:{“format”:”default”,”alignment”:””,”field_file_image_alt_text[und][0][value]”:”Logotipo Bicadas do meu Aparo”,”field_file_image_title_text[und][0][value]”:”Logotipo Bicadas do meu Aparo”,”external_url”:””}},”attributes”:{“alt”:”Logotipo Bicadas do meu Aparo”,”title”:”Logotipo Bicadas do meu Aparo”,”height”:”60″,”width”:”235″,”class”:”media-element file-default”,”data-delta”:”1″}}]]

[[{“fid”:”63616″,”view_mode”:”default”,”fields”:{“format”:”default”,”alignment”:””,”field_file_image_alt_text[und][0][value]”:”Artur Soares”,”field_file_image_title_text[und][0][value]”:”Artur Soares”,”external_url”:””},”link_text”:false,”type”:”media”,”field_deltas”:{“2”:{“format”:”default”,”alignment”:””,”field_file_image_alt_text[und][0][value]”:”Artur Soares”,”field_file_image_title_text[und][0][value]”:”Artur Soares”,”external_url”:””}},”attributes”:{“alt”:”Artur Soares”,”title”:”Artur Soares”,”height”:”172″,”width”:”172″,”class”:”media-element file-default”,”data-delta”:”2″}}]]

Artur Soares

Escritor d’ Aldeia *

w

1 – Nos tempos do Estado Novo, nos meses de Verão, nalgumas cidades do país era normal lavarem-se com mangueiras certas ruas da cidade.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

w

A intenção, dizia-se, era afogar as pobres ratazanas, desentupir e fazer desaparecer, pela força da água, as beatas. Não as beatas que diariamente rondam as sacristias das igrejas, mas sim as pontas de cigarro. É evidente que as referidas lavagens tinham o inconveniente dos fumadores (sem dinheiro) não poderem aproveitar as beatas caídas e ainda o inconveniente de afogar os autênticos coelhos que viviam nas fossas da cidade. Eram insensíveis esses ditadores do Estado Novo!

 w

Agora, os democratas desta III República mandam, e os fumadores sem dinheiro terão de se tornar em cravas “dum cigarrito”. Quanto aos referidos bichos da fossa, os democratas de partido específico na defesa dos animais, defendem-nas, pois essa é uma das suas ideologias políticas. E como as beatas não são pessoas, não são animais, há que combate-las e obrigar os fumadores que, por o serem, têm de ter juizinho e meterem as beatas ao bolso, se possível ainda quentinhas a fim de perderem o vício, que afecta ratazanas, gatos e cães da via pública. Pelo que, segundo se consta, a lei contra as beatas foi aclamada, foi um grande êxito político, o povo não fumador já se manifestou pela grandiosidade de tal lei e, ratazanas, cães e gatos da rua, saltitarão por tal evento que, só possível numa democracia consciente, pura e atenta como se verifica pelo partido beateiro.

 w

2 – Como o Leitor bem sabe, o partido defensor da aniquilação das beatas é um partido que pode ir muito longe, para bem dos portugueses. Quem sabe se um dia destes não surgirá uma lei em que vai ser proibido cuspir ou expectorar no chão da sua rua, da sua cidade ou nos campos de futebol pelos jogadores. É muito natural que isso aconteça. Os políticos do Estado Novo nunca fizeram leis deste calibre, deste tamanho, desta necessidade que urge combater. E como os serviços de saúde tardam nas consultas, como as camas para internar gente nos hospitais são poucas e pessoal nesses serviços são como agulhas em palheiro, há que ter em conta que os asmáticos tossem e cospem, os doentes com tuberculose idem aspas, os mais idosos andam sempre constipados e com tosse e os jogadores de futebol, então é uma miséria: de cinco em cinco minutos cospem os relvados e, as televisões, preocupadas, mostram isso devidamente mostrado. Ora cuspir, expectorar na rua, pode dar origem a que as formigas, quer dispersas ou em fila pelo chão, se abafem; pode ainda acontecer que qualquer animal vadio ou acompanhado escorregue, podendo partir uma perna ou uma costela. Nos campos de futebol, o perigo de cuspir é semelhante: bichinhos pequeninos podem ficar colados/abafados junto da relva e qualquer jogador a festejar pode deslizar relva fora mais do que o calculado e estatelar-se junto dalguma bandeira ou dos profissionais que filmam o espectáculo total.

 w

3 – Outra norma do Estado Novo, era que quem fosse ciclista, tinha de ter o livrete da bicicleta com o respectivo número e indicação da localidade da residência; ter o cartão de ciclista passado pela respectiva câmara municipal; circular bem à direita na via pública, parar para dar prioridade aos veículos automóveis; conhecer e obedecer aos sinais de Stop e de Estrada com Prioridade e, previamente provar que sabiam andar de bicicleta só com uma mão, para a outra sinalizar as possíveis mudanças de direcção. Ora nesta III República, os democratas acabaram com essas normas fascizantes. Os ciclistas agora compram a bicicleta, podem aprender a montá-la na via pública, circulam nos passeios destinados a pessoas, não têm luz de presença, tanto são ciclistas como peões, não usam capacete, não têm seguro e podem provocar acidentes e dificilmente serão apontados como causadores do que possa acontecer. Tudo isto amparado por grandes doses de pura democracia, onde não é qualquer país que tem o rasgo de ver tão fundo.

 w

PUB

Mas, a moeda tem duas faces. Os ciclistas ao circularem na via, nos passeios, nas passadeiras destinadas aos peões, nos jardins etc., o partido de todas as animalidades e das causas que provocam as escorregadelas nos estádios de futebol, tem de fazer (também) a lei contra os bicicletários: pois já vi atropelarem gatos, cães e pessoas, bem como abalroarem pombas que por vezes bicam migalhas e areia nos passeios e jardins. Por isso, tudo pelos animais! Façam-se mais leis deste género! Serão banalidades apontadas? Talvez não!

w

* O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

    

  Partilhar este artigo