Bicadas do Meu Aparo. Quem não sabe que saiba!

Artur Soares

Escritor d’ Aldeia 

Afirmam os filósofos ou os sábios, que nem todos sabem tudo, mas todos sabem alguma coisa. Esta afirmação pode ser extensiva àqueles que nem tudo podem fazer, mas todos podem fazer alguma coisa.

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Pelo que, entendo de que quem pouco ou nada sabe, deverá perguntar a quem sabe, porque desistir de saber pode ser burrice ou comodismo. Procurar saber ou atingir certa independência pelo que já se sabe, são caminhos que se iniciaram no berço, regaram-se, adubaram-se. Tal sabedoria adquirida, morre um dia com o homem, mas eterniza-se enquanto houver humanidade. Pode afirmar-se portanto, que o mundo precisa da sabedoria, do saber e, porque não dos sabores?

Afirmava-se no meu tempo de militar, que “a velhice é um posto”. Isto é, se entre dois militares de patente igual, um deles tivesse de tomar conta das “rédeas do cavalo”, era senhor do poder o da patente mais antiga. Se estamos de acordo de que a velhice é um posto – manda e sabe devido à experiência vivida – não se percebe muito bem porque nestes últimos dias de confinamento, certos filósofos/conselheiros aparecem nas televisões e nos jornais com aromas paternalistas ou com o direito de aconselhar, sobre escolhas (da vida), relacionadas com os mais velhos.

Analisando certos comentários feitos em favor “dos nossos idosos”, parece tratar-se mais de pessoas já viradas-da-cabeça, do que de responsáveis que têm a obrigação de saber que os “nossos idosos” – salvo uma ou outra excepção – não precisam do paternalismo de ninguém.

Os reformados, os pensionistas ou os aposentados deste país, apenas precisam daquilo a que têm direito: que António Costa faça a reposição dos vencimentos que esta gente auferia no primeiro semestre do ano de 2011, que Sócrates sacou, que Passos Coelho piorou, uma vez que prometeu no seu primeiro Governo (não eleito pelo povo) que iria iniciar o “virar da página”, repondo os saques aos aposentados. Ora os aposentados continuam sem que se lhes pague o que o Estado tem obrigação de pagar, porque todos fizeram os respectivos descontos durante 35, 38 ou 40 anos.

Certos virados-da-cabeça – que se pavoneiam nas televisões e jornais, pagos pelos impostos do povo e pelos impostos dos reformados, pensionistas ou aposentados – esquecem que estes portugueses não aceitam que ninguém decida nada em seu nome, que não são lorpas ou anjolas, que querem ter vida como os mais novos e que sabem muito mais que eles, porque muito viveram: o bom, o mau e o mais-ou-menos que a vida lhes proporcionou. Mais: em termos de fazer, de pensar, de organizar, de sacrifício e de saber, no dizer de Papini, “quando morre um velho é uma enciclopédia que se enterra”.

Sabe-se que são pessoas com mais de 70 anos, os que mais têm morrido (vítimas) do coronavírus-19. E porque assim é, compete aos políticos, aos governantes do país, actuarem com medidas certas, as mais necessárias, defendendo e pondo em prática medidas de saúde pública para os mais velhos, principalmente, olharem de frente e com profundidade o que se tem passado nos lares com eles, locais que têm sido palcos dos mais ferozes massacres coronavíricos. Não foi por acaso que o Papa Francisco alertou para a cultura do descarte, “que priva os mais velhos do direito de serem considerados pessoas, mas apenas um número e, nalguns casos, nem isso”.

Assim sendo, nenhum país e muito menos em ética democrática, se pode ostracizar a vida dos mais velhos em favor dos mais novos , uma vez que a ética humanitária e os direitos humanos, ensinam para se não fazer distinções entre as pessoas e muito menos sequer com base na idade. Esquecem ainda os palradores das televisões e de certas ideologias políticas esquerdinas bem conhecidas, que a contribuição dos mais velhos têm originado em diversos países cultos e civilizados – que não o nosso – reflexões importantes, pelo que podem os mais velhos ainda darem e mesmo porque se sabe que um país que não programa o futuro com base no passado e no presente cai pela ribanceira.

Logo, qualquer velho vos diz, manada de desmiolados ou cavados, podeis saber o meu nome, mas não sabeis a minha história. Podeis saber o que fiz, mas não sabeis o que já passei. Sabeis onde estou, mas não sabeis donde venho. Podeis ver-me sorrir, mas não sabeis o que sofri. Por isso, bando de corona-virados-da cabeça, não julgueis e não dispenseis ninguém.

Os mais velhos de hoje – pense-se! – lutaram contra ditaduras de esquerda e de direita, trabalharam duro na reconstrução de todos os sectores no pós guerra e colaboraram na construção da Europa. Logo, os que desvalorizam a vida dos mais velhos hoje, são aqueles que amanhã lhes aplicam a morte por decreto-lei e encomenda. Quem não sabe do que atrevidamente testemunhei e sei, que saiba. Mas sei também que o meu saber pertence à comunidade, porque dela o colhi.

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(O autor não segue o novo Acordo Ortográfico).

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