Bicadas do Meu Aparo: Teatro nas campanhas eleitorais

 

 

 

Escritor d’ Aldeia

 

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Já nesta segunda quinzena de Novembro, entramos nas campanhas eleitorais para as legislativas do dia 10 de Março de 2024.

Vão ser quatro meses de desnorte, de “muita parra e pouca uva”, de sofrimento, de massacres.

Se pudesse, nestes quatro meses, trancava-me em casa, desligava rádio e televisão e não comprava um único jornal para não suportar tanta infernalização. Estou cansado destes políticos de feira.

A propósito da balbúrdia política que se prevê, um jornalista inglês, que exerce há vários anos a profissão em Portugal, comentava na rádio que não entendia “como os nossos políticos faziam as campanhas eleitorais, de como eram capazes de apanhar banhos de multidão” e que analisada a situação – dizia – e vendo a fundo “tamanha descontracção no meio de gente que pouco ou nada se conhece”, tudo parecia ao jornalista “uma forma de teatro político”, com pouca convicção dos candidatos e de que “na Inglaterra era impensável uma campanha eleitoral dessas”.

Tentando entender o jornalista e sua estupefacção, não podemos esquecer que os portugueses adoram touradas, festas populares e tudo que seja motivo para beber umas cervejolas, e então, porque não fazer festa com a política de teatro ou política de feirantes dos nossos mandantes?

A política à portuguesa exerce-se de forma ateatrada e frente aos espelhos: calcula-se por zonas as promessas a fazer, bem como o estudo da farda a usar nesta ou naqueloutra área. Nas zonas mais rurais, convém falar de melhores pontes, melhores acessos e até se pode ir aos pontos de se prometer um hospital novo. As vestimentas, convém que sejam de camisas desabotoadas e calças de ganga ou se for no inverno vestir uma samarra com pele de lobo.

Nas campanhas eleitorais, também se ensaiam e se fazem exercícios para gesticular-bem, sorrir na hora certa para televisão-mostrar. Finalmente, nos comícios montam-se os palcos, adaptam-se uns poleiros – no caso de o político ser baixo – para o tratante do tratado ficar mais alto. As caminhetas são previamente chegadas ao local do tratado, sem esquecer, evidentemente, as carpideiras alegres da política, para darem os respectivos-vivas ao actor.

Logo, naturalidade, verdade, espírito de servir, etc., são virtudes que ninguém nota – pois não são testemunhadas – para já não apontar o silêncio quanto à forma de como irão ser cumpridos os programas do Governo, nem por exemplo, o facto de explicarem ao povo donde vem certas verbas, elevadas até, que se gastam nas campanhas.

Na política à portuguesa, melhor, nas campanhas ateatradas, não há pejo em esconder ou não falar de certas verdades ou vidinhas económicas criadas, e lá vão pensando os candidatos que o povo é asno e lhe basta ter uns rebuçados nas algibeiras e uns pirolitos para beber.

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Ao povo, pensam os nossos trauliteiros das campanhas, basta-lhes ouvir vários Quins-barreiros que animem as ruas e as praças por onde passam, mesmo que a linguagem utilizada por tais artistas do barulho seja o contrário de educação e de boas maneiras. Necessário sim, é que tais distracções evitem falar nos problemas da saúde, do ensino, da cultura, da pobreza que impõem, onde tudo anda de rastos.

Como se sabe, não são só os políticos os carrascos do povo. Certos órgãos da Comunicação Social, sobejamente conhecidos, ajudam a promover incompetentes, malabaristas, oportunistas e todo o género de ervas daninhas que permanentemente surgem ao dobrar de qualquer esquina.

Sendo assim, é assim, desrespeita-se a democracia, fazem odiar a democracia, banalizam-se as ideias ou opiniões dos outros e se alguém reclama pelo telefone ou envia “carta ao director”, tudo é tempo perdido e sujeito fica a ser achincalhado.

Tivessem muitos portugueses oportunidade de dizerem publicamente o que pensam e o que se sabe de tantos doutores que escrevem ou falam em certa Comunicação Social e, seria bonito vê-los a sair portas-fora e com pena de ainda existirem. Mas ainda pior é que essa gente pensa que se desconhece de quem recebem e, pensam ainda, que os que escrevem e os que vivem verticalmente, não se apercebem do lixo que transportam na lapela do casaco.

E assim vamos vivendo com zés-pereiras e Quins-barreiros, ao lado de umas sardinhas na brasa e uns copos, mesmo que a “pomada” custe a engolir.

Razão tem o jornalista inglês: “banhos de multidão”, tratantes a fazer tratados no poleiro, políticos a serem promovidos na Comunicação Social e malabaristas na Sociedade devidamente organizados, jamais acabarão neste país. E o que admira é que todos dormem gordinhos, bem vestidos e cheios de paz.

 

* O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

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