COVID 19… não é uma questão de Fé, nem de pânico!

José Andrade

Aposentado

 

Remeter para o Divino, procurar respostas no esotérico, confiar na sorte, são atitudes próprias do ser humano. No desespero, que é o tempo que vivemos no mundo no ano de 2020, tudo serve à Besta Humana para se agarrar na salvação do corpo.

Fez já mais pela transformação e contenção dos desmandos do género humano um invisível vírus, mutante, que todas as grandes personalidades em pomposas manifestações de eloquentes declarações agitando o espantalho da guerra, da pegada ecológica, da igualdade entre homens e bichos. O COVID 19 veio, qual niveladora, colocar a humanidade no sem lugar, entre si.

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Que nada vai ficar como dantes, isso é ponto confirmado. Nem nas relações entre os homens, na economia, no ambiente. O trabalho não mais será, ou servirá, para ‘libertar’. Como contributo fundamental para que a vida tenha vida e possa ser vivida, no pós COVID 19, será nesta área, nas relações e no modo como se trabalha, e no que o trabalho envolve, que residirá o maior dos desafios futuros imediatos das sociedades, do Estado. E como reagiremos nos comportamentos sociais, nas deslocações, para o trabalho ou lazer, em grupo, quando um espirrar, tossir, arfar? O que vai acontecer nos transportes em massa, que ainda à pouco eram os fiadores do cumprimento da ‘pegada ecológica’?

E a economia, a ‘vaca sagrada’ dos ‘eleitos’ adivinhos dos futuros sombrios que nos esperavam? Falharam em toda a linha. Não houve um único economista que tivesse nos seus cálculos a premissa do que aconteceria com o aparecimento de um pequenino vírus.

Claro que vamos lavar as mãos! Ficar em casa o tempo possível.

Lavar as mãos as vezes que forem necessárias e suficientes para quebrar os elos desta cadeia em que o COVID 19 nos meteu. Lavar as mãos, desinfetar aquilo em tocamos, ou que muitos outros tocam, e manter a distância social recomendada. Enfim, seguir à risca, com resiliência, militância e muito empenho, todas as recomendações que as autoridades de saúde recomendam, aconselham, quase rogam, pela nossa saúde.

Claro que vamos lavar as mãos, pela nossa saúde, o que não tem acontecido com uns quantos, por hábito, somado agora ao egoísmo de uns outros, que os leva a esquecer os demais. Não lavam as mãos, tossem e espirram para o lado que estiverem virados, enfim. Usam mascara, porque sim. Reclamam, porque não. Sempre, sempre, em nome da liberdade – Liberdade, que reclamam para si – não cuidando que com comportamentos assim, estão a colocar a sua vida em risco, temeridade em que deixam em perigo a vida muitos outros. É a irresponsabilidade na sua portuguesa plenitude.

Este não é o momento para facilidades, dizem os especialistas em saúde pública. O facto de só termos 12 mortos, e pouco mais de uma centena de internados, isso não diminui em nada o furor da calamidade que temos de enfrentar. A procissão ainda vai no adro. Este flagelo que nos faz já o viver um presente doloroso, grave, perturbador, é no futuro, próximo, imediato, que nos vai por à prova. E vai ser já, no amanhã, no próximo mês. Com os governantes e as oposições entretidos com medidas eleitorais prontas a servir, as medidas tendem a ser gota-a-gota. Muitas e de circunstância. Poucas e bem, é impensável.

Com o mundo doente, os grandes blocos geopolíticos para baralhar, continuaram jogando joguinhos de guerra em tabuleiros emprestados, e com peões sempre dispostos a morrerem pelas torres. A ONU, lutando pela sobrevivência como ‘igreja ecuménica’, onde a Fé na boa vontade apenas serve para aliviar a consciências de muitos mortos e sofrimento, para mais nada serve. A Europa, a CEE, vive o drama e a doença de Parkinson. E até os ‘mercados’ os abutres na desgraça, os especuladores, perante tão democrático e invisível ‘bug’, reconhece que de nada vale o dinheiro, se não houver a quem emprestar, o que comprar, a quem vender. As bolsas, um indicador, por estes dias deixaram já a imagem disso mesmo.  O dinheiro ficou atarantado.

Grave, doloroso, perturbador, incerto, vai ser o futuro. Muito vai mudar nas nossas vidas. No nosso viver diário, acomodado e aconchegado. O ‘pequeno bichinho’ para já perturbou o nosso viver. Incolor, inodoro, invisível, o COVID 19, que parecia mais uma daquelas coisas esquisitas muito próprias dos asiáticos, afinal caiu-nos em cima, com a ‘nossa Europa’, baralhada, confusa e atarantada. A Itália no momento em que escrevo, é um pais potencialmente à beira do colapso social. E, sabendo-se como se sabe, quer continuam a assobiar para o ar, confirmando assim o que deles disse Asterix, ‘Estes romanos são loucos’. Porque só a loucura pode servir de justificação para que no Norte industrial, a industria continue a laborar. E se uns não se cansam de recomendar, praticar e exemplificar, como se deve lavar as as mãos, outros existem, que lavam velhos pecado e consciências, mergulhando neste novo drama mundial, de cabeça, num oportunismo execrável e repugnante. Oportunistas sempre os haverá. Mas não se pode perdoar a que quando a humanidade, sim, esta é uma crise sanitária, uma pandemia, que abalou todo o mundo, literalmente, vive um drama, alguém se aproveite dela para ganhos pessoais ou de grupo.

Com uma quarentena voluntária, que já tem quase duas semanas de prisão domiciliária, o meu stock de informação foi amplamente aumentado, diversificado e ecuménicamente recheado. O mundo foi apanhado com as calças na mão, passe o aforismo popularucho. Mas foi o que aconteceu, Está a acontecer. Nem os mais imaginativos dos criadores de ficção imaginaram uma desgraça desta natureza. Daí a reacção dos governantes. As mais inverosímeis ‘declarações’ de políticos, as ‘medidas’, repetidas, inconsequentes, mais absurdas. Todos querem parecer boas pessoas, boas almas.

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Lavemos as mãos, fiquemos em casa, mantemos o distanciamento recomendado… e confiemos que o futuro vai ser diferente. Melhor ou pior… depende de nós, de todos, na diferença generosa, civilizada, de um povo com 900 anos de história. Nunca uma questão de Fé… e muito menos de pânico.

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