E este crime continuado é só em Valpaços?

José Andrade

Aposentado

 

Sim! Quantos mais lares de idosos existem neste nosso quintal à beira mar especado, católico, apostólico e egoísta, onde todos os dias, desde há muitos tempo, acontecem crimes como aquele que foi mostrado, documentado com imagens e som, no programa ‘Sexta-às-nove’, no Canal 1 da nossa RTP? Ou será que ninguém viu?

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Como este santo povo diz sempre não quer nada com a foice e martelo, ou mais suavemente, com o ‘império do meio’, Mao sempre garantia uma malga de arroz, perante tanta cegueira, miopia e outros ‘males das vistas’, se Santa Luzia não dá vazão às cegueiras, que mais será preciso fazer, mostrar que algo vai mesmo mal cá pelo reino?

Esta cegueira endémica, já lá não vai com o habitual coro de pedidos desculpa, ou hipócritas manifestações de indignação. Muito menos com piedosas proclamações de ‘consciência tranquila’ ou ‘confiamos na justiça’!

O que foi mostrado ao país, aos portugueses, foram imagens e sons que indignam qualquer pessoa de bem. Indignam e revoltam. Quem assim age, assim procede, descoberta a desumanidade, a malvadez, não merece perdão, misericórdia ou reconhecimento de impensável desculpa. É este tipo de realidades, publicamente mostradas, demonstradas, publicadas, denunciadas, a que as consciências publicas tendem a sacudir para debaixo do tapete, ou tardando em agir, ou agindo com pouca celeridade e firmeza, que levam ao clamor de muitos, pedindo o aparecimento do ‘homem forte’, ‘proverbial’, ‘com pulso’. E normalmente quem mais pede o aparecimento de um ‘chefe’, são aqueles que calam, consentem, olham para o lado, escondem o que meio-mundo sabe. O que se passou no lar de idosos da Santa Casa da Misericórdia de Valpaços, uma entidade pública, onde o Estado também despeja uns quantos protocolos, regados com uns bons milhares de euros, merecia ter já tido uma esclarecedora posição das entidades oficiais locais, regionais e nacionais. Se fosse um lar de privados, por certo que o desfile de ‘personalidades’ indignadas, até já metia nojo. O que não teria já sido dito!

Foi um ‘caso’? Não caros concidadãos, responsáveis compatriotas! Este apenas foi agora tornado público, com imagem e som, através de um canal nacional de televisão. Documentalmente denunciado. E os outros? Sim, os outros que estão a acontecer em tantas outras misericordiosas instituições, publicas e privadas? Quantos são os lares de idosos, bem como creches que, por uma questão de segurança de procedimentos, e tranquilidade dos familiares dos utentes, tem, para mostrar, sistemas de vídeo-vigilância? Quantos dos senhores Provedores, e mesários, se deram ao cuidado de, sem aviso, percorrerem os serviços de quartos, inquirindo e enteirando-se da forma como são acompanhados os utentes na sua medicação, no seu aconchego para dormir, ou fazer com que adormeçam? E como são tratados nos seus cuidados de higiene e alimentação?

Dir-me-ão! Mas se os recursos já são escassos para fazer funcionar os lares e as creches, como serão pagos estes sistemas de vídeo-vigilância? Quando se quer transparência, os recursos aparecem. Agora que existe uma soberba hipocrisia social neste tipo de assuntos, disso não tenho dúvidas. É de bom tom ‘ajudar os pobrezinhos’, ter ‘amor pelas criancinhas’. Alivia consciências, limpa pecados, e até dá bons negócios e status social.

E no momento em que escrevo, cumprida a rotina diária de passar em revista o que vai acontecendo e sendo divulgado pela Comunicação Social, nacional e alguma internacional, como dizia, até ao momento em que escrevo, melhor, até ao momento em que passo mais uma vez ao papel a minha indignação sobre ofensas à dignidade humana, onde as vitimas são principalmente os mais desvalidos, crianças, idosos e inválidos, até este momento, nem uma palavra, um gesto, um sinal, transpareceu. O Ministério Público anda entretido a brincar aos sindicatos. Um órgão que se quer de soberania, procede, comportasse e age como se fosse mais um dos 20 sindicatos da Policia e seus derivados. Só falta mesmo a ‘criação’ de um ‘Movimento Zero’. Do Instituto da Segurança Social, nem um pio. As guerras de saber quem fica, quem vai, quem vem, e o como fazer a burocracia justificar a existência, têm muito mais interesse. Velhinho e criancinhas, é coisa que sempre que for preciso ‘dar nas vistas’, não falta. O órgão que diz coordenar as misericórdias, que deve andar mais preocupado em abixar mais uns trocos com o ‘coronovirús’, nem quer ouvir falar no assunto. E o poder local, de Valpaços, ou das autarquias? Assobiam para o lado. Coitados, ficaram mudos. Não há eleições à porta. Porca miséria!

O que se passou no lar de idosos de Valpaços infelizmente não é caso único, nem recente. Não vamos esperar sentados, quando os casos interessarem para vender papel, ou promover interesses. Aí sim, vamos ter as ‘boas almas’ com ‘grandes’ dilemas para debitar às ‘más consciências’.

 

  Partilhar este artigo