José Andrade
Reformado
Como convinha a um democrata civilizado, no passado domingo, cumpri o Dever de votar. E nem foi preciso esperar pelo apelo do Professor/Presidente, pessoa que muito estimo, e por quem nutro à cerca de três dezenas de anos pessoal consideração, para tomar tão responsável decisão.
Em quarenta e três anos de regime democrático, nunca falhei neste Dever/Direito. Mas foi bom que o Senhor Presidente da República fizesse pública a sua preocupação. Aliás, também por aqui, no Minho Digital soaram as trombetas, lembrando o Dever/Direito. Embora o resultado final tenha sido um pequeno aumento do número de eleitores, o empurrão merece uma saudação e agradecimento. É por estas e por outras que dedico mais atenção à contestação dos que votaram, mesmo sem razão, que às carradas de razão, daqueles que por cobardia se abstiveram.
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Dedicar uns minutos do meu dia, escolhendo, ou repelindo, quem melhor me parece poder desempenhar o papel, difícil diga-se, de cuidar dos interesses colectivos cá dos fregueses da paróquia, é um prazer. Como os conheço a todos, talvez mais e melhor que os próprios – polític tem propensão, quando convém, para memória curta – escolho sempre a hora de votar mais indicada para, nesse dia, não me cruzar com eles. São raros os que assumem que a sua candidatura era aquilo que mais desejavam. E como por força da vida e do conhecimento, os conheço de ginjeira, choradeira por choradeira, já bastam os tempos de indicação partidária, e quando abre a caça consentida ao voto. Evitando-os durante esse espaço do dia, recupero forças para a noite, quando os resultados eleitorais são conhecidos. Ganha São Pedro em poupança na água da chuva, esgota o stock de ‘trovões vernáculos’ Santa Bárbara.
Mas os ecos destas eleições autárquicas de 2017, pelos resultados partidários registados, local e nacionalmente, e as consequências políticas que lhes estão subjacentes, associadas, ainda vão fazer correr muita tinta, e dar dores de cabeça a muita gente. Apesar de por ora o pó continuar no ar, e os resultados oficiais sem serem declarados, o acerto de contas, qual romaria de arrependidos em penitência, tem lista de confissões que nunca mais acaba. As eleições, e muito principalmente as autárquicas, também servem fazer justiça. Ou melhor, não deveriam de se substituir à Justiça, julgando nas urnas o que devia ser julgado e sentenciado em tribunal. Mas o bom Povo gosta sempre de ter um bom ladrão por perto, e o honesto pode ser perigoso. Daí o prémio em Oeiras, e os casos Gondomar e Matosinhos, só como exemplo.
Felizmente que foram muito poucos os municípios que estão dados a este bondoso acto de salvar almas desavindas. Se a reinserção social de reclusos é a miséria que se conhece, e sem que alguém tome rédeas neste faz de conta, o caso autárquico mais mediático, Oeiras, por várias razões, a começar pelo nível social dos seus eleitores, ganha foros além fronteiras como ‘case study’. As teses são muitas e vão desde, ‘um ladrão com gravata, é sempre mais elegante a roubar’, à inevitável reinserção social dos políticos, passando pela limpeza de curriculum a seco.
É por estas e por outras, que a classe política não quer mudar a lei eleitoral. Precaução?