Em defesa das nossas raízes culturais

Joaquim Vasconcelos

(Engenheiro e Ambientalista)

Na semana passada, dia 16 de Agosto, foi inaugurado na freguesia de Riba de Âncora, lugar de Vila Verde (coordenadas 41 816 159N 8 798 444O) a recuperação de um núcleo de moinhos composto, para já, por três. Esta iniciativa da Junta de freguesia de Riba de Âncora e da Câmara Municipal de Caminha veio enriquecer o património desta freguesia, do Vale do Âncora e homenagear os nossos antepassados que nos legaram este equipamento, permitindo ultrapassar as dificuldades da altura ao conseguir converter a força da água em motriz, utilizando-a como energia para fazer mover os moinhos.

Esta recuperação permite acreditar que a nossa identidade cultural ficou reforçada.

 Localizados nas imediações de uma linha de água, afluente do rio Âncora, donde foi desviado por um rego, levada etc., o caudal suficiente para o “cubo” que irá fazer funcionar o sistema motor do moinho.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Com as características de um “moinho de Montanha”, estas construções rústicas de dimensões reduzidas, dispondo de edifícios rudes e toscos, com dois níveis, cujo sistema motor (composto por um rodizio) se localiza no inferior e, no superior, a moenda.

             

Nos moinhos de roda horizontal, os canais ou levadas lançam a água para uma espécie de pirâmide invertida, de secção quadrada (feita com lajes de granito), designada por cubo e encostada a uma das paredes daquele.

 

 

Estes moinhos são todos constituídos por uma só moenda e o sistema motor por um rodizio fixo à pele (roda horizontal), neste caso, de madeira com 1,10m de diâmetro onde se localizam 15 peças dispostas radialmente e denominadas de penas.

Quanto ao mecanismo de moagem é constituído por um par de blocos de pedra de granito circulares, com 1,20mde diâmetro, ambos com um buraco central, entre os quais se opera a circulação, sendo a superior a andadeira e a inferior fixa.

São documentos destes que representam os valores culturais de uma região, a nossa identidade, que um turismo cultural procura e admira. Ao recuperar este equipamento e limpar toda a área envolvente criaram-se referências do nosso passado, coisas que não mais poderiam ser recriadas se um dia desaparecessem.

Os responsáveis, ao recuperarem este equipamento, estão a entregar um pouco da sua história às futuras gerações para que não se torne apenas presente no imaginário dos nossos sonhos.

A salvaguarda das nossas raízes culturais exige a recuperação de vários documentos físicos, de forma que essa identidade cultural esteja documentada.

PUB

É altura de ser dado valor museológico e arqueológico a estas peças, e se possível animar estes espaços que apresentam a identidade de um povo que ainda não se deixou absorver pela globalização.

É essa marca de lusitanidade que a Câmara Municipal de Viana do Castelo há vários anos criou ao recuperar dois núcleos de moinhos de montanha em S. Lourenço da Montaria (Espantar e Trás-Âncora) .

Agora, a Câmara de Caminha junta-se a esse grupo ao apoiar a iniciativa da Junta de freguesia de Riba de Âncora. No entanto, limitaram-se à recuperação do tipo de moinhos de montanha, mas há muito mais a fazer para que parte das nossas raízes não se percam, pois existem peças de arqueologia industrial que demonstram a evolução de uma comunidade que, mesmo distante dos centros decisores, encontrou sempre soluções para ultrapassar as dificuldades que surgiam.

Esse património localiza-se nas margens do rio Âncora e muito dele tem sido sujeito a mudança de destino. Seria bom que a cultura se sobrepusesse aos vândalos, procurando recuperar algum moinho de planície, alguma serração hidráulica ou algum lagar de azeite hidráulico para não perder parte da nossa identidade, doando aos nossos filhos a história do Vale do Âncora, documentada com este património, para se perceber as produções locais, a razão de todo um equipamento existente bem como o seu funcionamento.

  Partilhar este artigo