Lendas e Mitos Do Brasil: Estado do Paraná (7)

Expressão da cultura de um povo, identidade de uma região, o folclore sintetiza os aspectos materiais, os costumes e as tradições de uma sociedade, seja de forma oral, escrita, encenada ou por meio de danças, entre outras coisas.

Trata-se de uma característica comum a todas as civilizações que, embora se manifeste de formas diferentes em cada uma delas, contribui para a unidade dos grupos e a manutenção de valores coletivos. E em Pinhais não poderia ser diferente: a cidade, já retratada em dois livros, é o palco de uma história bastante conhecida, principalmente pelos moradores mais antigos – a lenda da noiva.

A LENDA DA NOIVA

Uma das versões da fábula dá conta de uma moça que morava na região onde hoje se localiza o bairro Pineville, mais especificamente onde está instalado o Shopping Gralha Azul. Noiva, a jovem teria sido atacada e morta por um enxame de abelhas africanas dias antes de seu casamento. A partir de então, segundo a crença, ela apareceria em noites de lua cheia para assustar as pessoas que passam pelo local.
Outra variação da história diz que a morte da noiva não teria sido em decorrência de um ataque de abelhas, mas por enforcamento depois de ser abandonada pelo amado. E há ainda quem apresente uma terceira possibilidade da lenda, segundo a qual a jovem, filha de um homem muito rico, teria engravidado do então futuro esposo, que fugiu ao receber a notícia. Abandonada, ela teria cometido suicídio num momento de desespero pela desonra da família, esfaqueando-se ou atirando-se na frente de uma carroça, não se sabe ao certo.
Em todas as versões, a garota assombraria a região em noites enluaradas. Moradores mais antigos não apenas confirmam a lenda como dão testemunho das aparições da noiva. Difícil dizer se é verdade ou mentira; só o que se pode afirmar é que essas histórias sobreviveram à passagem do tempo, contadas no entorno de fogões à lenha e fogueiras, e claro, temperadas com muita criatividade.

AS CRUZES DA PONTE VELHA

Em 1930, na antiga estrada que ligava a cidade a Curitiba, uma mãe e sua filha, uma criança de cerca de um ano de idade, retornavam da capital, quando logo após a ponte do rio Iguaçu, o cavalo, possivelmente assustado por uma cobra, disparou, causando acidente no qual morreram as duas ocupantes da charrete.
Pessoas bastante conhecidas na pequena comunidade de São José, as finadas receberam o pranto da cidade e a homenagem do marido e pai, que para assinalar o local da tragédia mandou ali erigir cruzes, como ainda hoje é costume. Entretanto, como forma de evidenciar a amplitude do desastre, do braço direito da cruz maior edificou-se uma menor, simbolizando portanto a mãe com a filha ao colo. A partir daí, o local tornou-se estéril ao ponto de não se ouvir sequer um passarinho, embora esses cantassem a poucos metros além. As árvores tornaram-se ressequidas e o lugar revestiu-se de um clima lúgubre, invocando luto e dor.
Não se sabe quem foi o passante que ouviu, primeiramente, os lamentos das mortas, mas a expressão de pavor com que chegou à cidade demonstrou desde logo que não se tratava de pilhéria. O lugar, triste durante o dia, tornava-se horripilante à noite, pois os cavalos assustavam-se e seus condutores ouviam nitidamente o choro da mulher e da criança, seus gemidos de dor e a angústia que suplantava a morte.
Os sãojoseenses passaram a evitar a estrada à noite, os menos corajosos utilizavam um contorno de muitas horas pela estrada da Cachoeira, quando não conseguiam retornar à luz do dia; mesmo os mais bravos passavam com os cavalos à toda brida, não obstante o risco de acidentes. Conta-se que até os raros automóveis existentes na época apresentavam problemas ao passar por ali. Muitas foram as pessoas, todas de integral credibilidade, que chegaram a ver a mulher com a filha nos braços, envoltas, ambas, em fantasmagóricas brumas e chorando copiosamente.
A cidade, já naturalmente pequena, fechou-se por completo. Quando, após o cair da noite ouvia-se o tropel de cavalos vindos de Curitiba, automaticamente concluía tratar-se de forasteiros, que, desconhecendo o fato, chegavam esbaforidos e apavorados. Vários meses passaram em tal situação, até que um sãojoseense, ausente da região há muito tempo e portanto desconhecedor da crise, passou pelo local. Apenas havia cruzado a ponte, sentiu o cavalo tornar-se amedrontado e indócil, como que querendo retroceder; habituado ao animal, não compreendeu a atitude, até que viu, à esquerda da estrada e poucos metros à frente, o vulto fantasmagórico, que com a criança no colo vinha em sua direção. Certamente, foi o susto que o fez distrair-se da montaria, que num salto súbito jogou ao chão o cavaleiro e fugiu, a todo galope na direção de São José.
Ninguém soube ao certo, se foi por coragem que o homem dialogou com a morta, ou se foi o medo que, analisando-lhe as pernas, impediu sua fuga. Mas o fato é que depois de meses de terror finalmente alguém se aproximou dos fantasmas e indagou o motivo de suas penas, a razão de não se encontrarem no repouso eterno.
“Tirem a criança de meu braço, ela é muito pesada, já não suporto mais”. Foi a resposta do espírito. Nada mais disse, apenas continuou chorando e segurando a criança, que também chorava.
Dizem que aquela noite ninguém dormiu em São José dos Pinhais, a notícia trazida pelo passante espalhou-se como fogo na pólvora e os notáveis do lugar viram o dia amanhecer na casa do viúvo, onde haviam ocorrido para a busca da realização do desejo da morta, cuja solução libertaria não somente os espíritos, mas também a cidade de sua sina.
O preguiçoso nevoeiro de inverno ainda não começava a levantar quando, trêmulos pela falta de sono, ou pelo justo receio, mais de vinte sãojoseenses, acompanhando o viúvo desceram da cidadezinha em direção ao Iguaçu. As mulheres rezavam o terço liberadas pelo vigário, os homens iam silenciosos, talvez pensando se lhes valeriam de alguma coisa as pistolas ocultas sob os paletós. A pequena multidão, rezando, postou-se em frente às cruzes, até que alguém, olhando-as, lembrou-se das palavras da finada e sugeriu que fossem desmanchadas, já que efetivamente eram a mãe com a criança ao colo e talvez essa fosse a causa do sofrimento. Após alguma discussão, finalmente resolveu-se pela retirada das cruzes, já que nada custava tentar.
Foi a solução. Segundo as testemunhas, um momento após o desmanche das cruzes, o lugar pareceu ganhar vida, todos sentiram uma leve brisa e os passarinhos, até então ausentes, encheram de sons o anteriormente lúgubre local. As cruzes foram posteriormente substituídas por uma minúscula capela e as madeiras que as confeccionaram atiradas ao rio. Após algumas semanas de desconfiança, finalmente concluíram os habitantes que a assombração havia desaparecido e a cidade voltou ao normal, embora todos apressassem o passo quando transitavam pelo local.
Algumas décadas mais tarde, com a construção da avenida Marechal Floriano, o local passou a chamar-se Ponte Velha e foi caindo em desuso, até que a própria ponte ruiu. Reparada anos depois, tornou a envelhecer e desapareceu. Hoje, não existe mais a estrada e o mato tomou conta de tudo, da ponte velha restaram apenas alguns vestígios de estacas cravadas no Iguaçu. Do episódio pouca gente se lembra, embora ninguém entenda porque aquela região tão antiga nunca foi convenientemente povoada.
Há, atualmente, pouquíssimas testemunhas da crise, além do velho rio e algumas das árvores antigas. Contudo, mesmo sem conhecer a história, há quem jure que em certas noites de lua pode-se ouvir por ali o riso inocente e alegre de uma criança, mas isso não sabemos se é verdade.

Fonte: Renato Augusto Carneiro Jr. (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. 21. ed. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005. (Cadernos Paraná da Gente 3).

São José dos Pinhais, Paraná

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Com uma cidade privilegiada pela localização, São José dos Pinhais está a 15 quilômetros do Centro de Curitiba. Também é próxima do litoral paranaense . Sobre este município, eis o que diz a internet:

Localizada estrategicamente, São José dos Pinhais é cortada por três rodovias, que ligam o Sul a todo o País. No município, estão instaladas as principais indústrias fabricantes de autos, o que o torna um dos principais polos automotivos da América do Sul, inclusive, na exportação.
Um dos maiores produtores de hortifrutigranjeiros do Paraná, a cidade está em constante desenvolvimento. Em seus mais de 300 anos de história, o município é um dos mais importantes para a economia da região de Curitiba e do Paraná, na preservação cultural da história de colonização do Estado e ambiental, com mais de 80% de sua área rural de mata atlântica.

O QUE FAZER

CAMINHADAS AO AR LIVRE

Abundante em paisagens bucólicas, a cidade é campeã nacional de participantes nas Caminhadas Internacionais na Natureza. Só em 2018, reuniu mais de 16 mil pessoas.

TURISMO RELIGIOSO

Igrejas históricas e arquiteturas deslumbrantes, como a Igreja Santíssima Trindade, na Colônia Marcelino, réplica de uma igreja da Ucrânia. A influência da religião está na identidade da população.

PARQUES

O Parque São José é um espaço destinado ao lazer do visitante. Com muitas árvores, pista de caminhada, horto municipal e churrasqueiras, o local é ideal para curtir um dia com a família e amigos. Também tem no local o Jardim das Sensações, que visa aguçar o olfato, o paladar, o tato, a audição e a visão do turista por meio do toque em plantas de diferentes formas, texturas e aromas, ou o som dos pássaros e do vento.

DICAS

CASA DO PAPAI NOEL

Na época do Natal, a Casa do Papai Noel atrai muita gente. Ha 20 anos, o Parque da Fonte é decorado para que os visitantes sintam a magia natalina, com shows musicais, apresentações culturais e praça de alimentação. Também tem a opção de visitar a casa do bom velhinho e deixar sua cartinha com os pedidos e agradecimentos.

EVENTOS

O município tem o calendário recheado de festas e eventos. Além da tradicional Festa do Padroeiro de São José dos Pinhais, têm também eventos como a Festa da Colheita: do Morango, do Trigo, do Vinho, da Banana, Festival de Cerveja Artesanal, em que todas as cervejarias do município participam e, ainda, a Marcha para Jesus, evento religioso para proclamar bênçãos à cidade.

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Festa do Trigo – Foto: Prefeitura de São José dos Pinhais

LUGARES MAIS VISITADOS

Aeroporto Internacional Afonso Pena
Caminho do Vinho
Centro Histórico e Cultural de São José dos Pinhais
Parque São José

PASSEIOS

Foto: Prefeitura de São José dos Pinhais

Centro Histórico e Cultural

São José dos Pinhais mistura a arquitetura dos colonizadores e a arte contemporânea. Milhares de pessoas circulam diariamente pelo calçadão da Rua XV de Novembro, onde está a Igreja Matriz de São José dos Pinhais. Além do prédio histórico da Biblioteca Municipal Scharffenberg de Quadros, há o Museu Atílio Rocco que tem um acervo de mais de 10 mil itens e o Centro Histórico e Cultural João Senegaglia, que passa por revitalização para manter as características da época em que lá funcionava a primeira fábrica do município.
Construída em 1966, a caixa d’água de São José dos Pinhais, na Praça Getúlio Vargas, foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Cultural em 2018. Com 27,5 metros de altura e capacidade para 100m³, a caixa d’água foi o primeiro reservatório construído em concreto protendido do Brasil. (*) O funcionamento da caixa d’água foi símbolo do 3º Congresso de Engenharia Sanitária no Paraná.

(*) O concreto protendido é similar ao armado, já que a sua matéria-prima base se une ao aço. A diferença é que, as barras passam por um processo de pré-alongamento, o qual é responsável por maximizar a sua resistência à esforços de tração e momento fletor. O concreto protendido possui uma armadura ativa em seu interior.

Foto: João Urban / Prefeitura de São José dos Pinhais

Casa da Cultura Polaca

As atividades culturais são sinônimas de uma cidade que preserva suas raízes e investe no conhecimento dos cidadãos. Na Casa da Cultura Polonesa, na Colônia Murici, estão expostos objetos das famílias colonizadoras.

Foto: Prefeitura de São José dos Pinhais

 

Caminho do Vinho

O Caminho do Vinho é um dos principais atrativos rurais de São José dos Pinhais. Por lá, é possível experimentar os vinhos produzidos, a culinária italiana em restaurantes típicos e cafés coloniais. É uma experiência recheada de sabores e conhecimento cultural sobre a origem do município.

Foto: Prefeitura de São José dos Pinhais

Aeroporto Internacional Afonso Pena

Com mais de 70 anos em operação, o aeroporto de São José dos Pinhais é um dos maiores do Brasil. Construído na década de 1940, na Segunda Guerra Mundial, o Afonso Pena já foi considerado o melhor aeroporto nacional, por onde passam mais de 5 milhões de passageiros anualmente. Lá, muitos visitantes param para assistir os pousos e decolagens dos aviões.

HISTÓRICO DO AEROPORTO

A cidade de Curitiba, referência no planejamento urbano, qualidade de vida e preocupação com as questões ambientais, recebeu por inúmeras vezes o título de “A Melhor Cidade Brasileira Para Negócios”, da Revista Exame. O local possui cerca de novecentas fábricas, indústrias e empresas das mais significativas do país e do exterior, sendo um dos mais importantes polos econômicos da Região Sul do Brasil.
O Aeroporto Internacional Afonso Pena, localizado na região metropolitana de Curitiba, em São José dos Pinhais, fica próximo aos principais portos da Região Sul do país, como Paranaguá, Antonina, São Francisco do Sul e Itajaí. Além disso, desempenha papel de destaque no desenvolvimento da indústria, do comércio e do turismo do Paraná e de toda a região. Com equipamentos de ponta, o terminal de passageiros possui elevadores panorâmicos, e sua estrutura metálica, elaborada com telhas antirruído, convive em sintonia perfeita com o granito do piso e as pastilhas das paredes, conferindo modernidade ao local.

Década de 1940/ 1944 – O aeroporto, localizado no município de São José dos Pinhais, foi construído entre maio de 1944 a abril de 1945 pelo Ministério da Aeronáutica em cooperação com o Departamento de Engenharia do Exército Norte-Americano.

1946 – Em janeiro de 1946, com a Guerra terminada, a aviação civil passou a operar efetivamente na Base Aérea Afonso Pena – como o aeroporto era conhecido. Foram construídas a estação de passageiros, a torre de controle e várias adequações e melhorias realizadas.
Para Saber Mais – A inauguração do Afonso Pena, uma homenagem ao sexto presidente da República, ocorrida em 24 de janeiro de 1946, foi antecipada devido à interdição do Aeroporto de Bacacheri, na região central de Curitiba, causada por um grande volume de chuvas. Com os temporais, a melhor opção foi acelerar os preparativos e iniciar as operações para que os aviões pudessem pousar no aeroporto.
Década de 1950
1959 – Inaugurado em 1959, um novo terminal de passageiros com 2.200 m² foi construído para atender uma grande demanda.
Década de 1970
1974 – O aeroporto passou a ser administrado pela Infraero a partir de 1974. No dia 1º de julho daquele ano, o Terminal de Logística de Carga (Teca), primeiro da Rede Infraero, foi inaugurado
1977 – O terminal de passageiros foi reformado e ampliado de forma significativa, em 1977, aumentando em quatro vezes sua capacidade de atendimento.
Década de 1990
1996 – As obras de construção de um terminal foram iniciadas em 1991 e a inauguração aconteceu no dia 26 de julho de 1996. A ocasião teve a presença de Fernando Henrique Cardoso, o então Presidente da República, do Ministro da Aeronáutica, Lélio Viana Lobo e do Presidente da Infraero, à época, Adyr da Silva. O aeroporto passa a ser internacional.

Foto: Prefeitura de São José dos Pinhais

COMO CHEGAR

Com uma cidade privilegiada pela localização, São José dos Pinhais está a 15 quilômetros do Centro de Curitiba. Também é próxima do litoral paranaense e faz conexão com o País pelas rodovias que cortam a cidade pelas BR-116, BR-277 e BR-376.

Foto: Prefeitura de São José dos Pinhais

ONDE FICAR

Para todos os gostos e bolsos. São José dos Pinhais tem hotéis com preços acessíveis, grandes redes hoteleiras próximas ao aeroporto e, as pousadas localizadas na área rural, que oferecem experiência única de contato com a natureza.

Foto: Banco de Imagens

GASTRONOMIA

A cidade oferece comidas tradicionais dos povos colonizadores. Há várias opções de café colonial com bolos, tortas e salgados. Mas, se a preferência for por algo mais urbano, tem praça de alimentação gourmet, churrascarias, fast foods, hamburguerias, bares e panificadoras. São opções certeiras de sabor!

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2 comentários

  1. Este artigo é uma verdadeira aula de história e cultura sobre o município de São José dos Pinhais.
    Parabéns ao autor, Sr. Antônio Cunha.

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