Feiras, festas e festivais

Miguel Nogueira

O Alto Minho é marcado nos meses de Julho e Agosto pela moda febril das feiras, festas e festivais. Perante o deserto de ideias de autarquias e entidades ligadas ao turismo, tudo parece poder servir de mote para a realização destas actividades um pouco por todos os concelhos e nada parece ser suficientemente ao lado para que uma localidade sem qualquer ligação ou tradição no que se refere a um determinado produto ou iguaria gastronómica leve a efeito certames cuja designação, por vezes pomposa, aparece completamente desenraizada da terra em questão.

Então há exemplos que chegam a ser anedóticos e que mostram o ridículo que se está a tornar o fito obsessivo de alguns concelhos em cobrirem todos os fins de semana com algum tipo de feira, festa ou festival. Refiro-me, por exemplo, a um festival da francesinha em pleno litoral alto minhoto.

Bem sei que nos últimos anos voltou a haver uma crescente afluência de turistas e de veraneantes a terras que se habituaram a ter o seu ganha pão nos meses mais quentes do ano. A somar a isso, as autarquias sentem-se, por certo, pressionadas pelos comerciantes, vendedores, animadores e músicos para organizarem algo que possa ser colocado vistosamente nos outdoors e que atraia as atenções e o consumo dos que andam por cá nesta altura do ano. Esta realidade é bem demonstrada pelo facto das tendas ou stands existentes terem, praticamente sempre, as mesmas coisas expostas ou à venda. A animação musical e cultural é também ela uma ementa, que tal como os menus dos restaurantes pouco muda, independentemente da temática do certame. Será esta a melhor e a mais eficaz forma de promover as potencialidades naturais, culturais, históricas das terras? O que fica deste bulício quando vier o Outono e as terras voltarem à vida normal de todos os dias? Resultará daqui mais dinheiro nas tesourarias das autarquias para os investimentos que tão necessários são? Terá sido criada mais riqueza para os empreendedores envolvidos que lhes permita gerir a secura dos frios e longos meses da época baixa? Talvez seja depois nessa altura que se puxa pela cabeça para colocar alguma coisa de jeito nas agendas culturais!… Porém, a finalidade mais relevante destas feiras, festas e festivais será, porventura, menos aparente! Tal como as novelas “futeboleiras” em torno dos Jesus e quejandos deste país nos distraem das questões verdadeiramente importantes e para as quais andamos meio anestesiados, como por exemplo, as eleições que estão já a pouco mais de um mês, também esta moda das feiras, festas e festivais serve para nos desviar o foco de atenção das questões verdadeiramente importantes da gestão autárquica das localidades. Convida, deste modo, a cidadania a tirar férias entretendo-nos com a espuma dos dias que passam. Situações, por exemplo, como a da ecovia que liga a capela de Santo Isidoro a Moledo através da orla marítima são coisas inconcebíveis, de tão escandalosas e graves. Será coincidência que se assiste ao avançar da obra a todo o vapor em pleno Verão ou é para aproveitar a distracção colectiva? Custa-me a acreditar que ninguém diga nada, inclusivamente as associações ambientalistas que, por vezes, pecam pela crítica excessiva e que fazem tanto barulho por questões bem menores!

geral@minhodigital.pt
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