“Vais ver troféus e bandeiras,
Descantes, danças, Zés Pereiras,
Uma alegria infinita.
Faço questão que tu vás,
A mais o nosso rapaz
Ver a festa mais bonita”
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(Francisco Silva – 1948)
Este texto de “memória” do ciclo festivo, recorda as festas, feiras e festivais.
Lembrar é fácil para quem tem memória.
Esquecer é difícil para quem tem coração.
As manifestações festivas fazem parte do estudo das ciências sociais e refletem a alma do povo. Os familiares e amigos no ciclo festivo são sempre alguém com quem se está bem.
DIAS SOLARENGOS
Estamos no tempo das manhãs claras, dos dias solarengos e com temperaturas agradáveis.
PUBO Alto-Minho é um arraial contínuo.
Ouvem-se sons dos gaiteiros, dos bombos, dos cantares ao desafio e escutam-se as bandas de música no arraial, que dura pela noite dentro, executando lindas partitura onde a música clássica se mistura com rapsódias.
Há música rock animada e forte.
Dança-se e fala-se ao amor.
“Teus olhos me guiam, / Tua alma me aquece; / Teus lábios me beijam / Meu coração adormece”.
Aquando “os santos populares” há foguetes no ar e sardinha assada e aromas de manjerico.
Agora, na festa dos padroeiros os sons festivos ouvem-se ao perto e ao longe. Os fogos de artifício iluminam o céu com multicores.
Acontece o espectáculo piro-musical.
Há procissões com estandartes, andores, figurados, devotos amortalhados cumprindo promessas de horas difíceis.
As comissões, mordomas e mordomos desfilam com alegria festiva.
Surgem ramos de flores para o santo da devoção com muitos cravos brancos e vermelhos.
Ouvem-se toques festivos dos sinos nos campanários.
Fazem-se preces sentidas e desabafos de recordação, ligando o hoje ao ontem, onde os laços antigos se cumprem na tradição. Cada um sente a festa a seu modo, mas vivendo-a na coesão social com rituais integradores.
Há sons e animação com carrinhos a dar uma volta…
Há pregões de feirantes e provam-se as farturas.
Ainda há roscas, mas já não há pirolitos.
Não há as aguadeiras de cântaro à cabeça, anunciando: “Olha a boa limonada.”
Agora saboreiam-se outras bebidas…
Haja alegria que baste, para quebrar com o quotidiano pesado, pois “tristezas não pagam dívidas”.
É tempo de viver de manhã e pela noite dentro com um coração novo em companhia de familiares e amigos.
A comensalidade é festiva, saboreando-se a boa comida em mesas grandes com toalhas lindas.
Os aromas cruzam-se com os paladares, saboreados com o bom vinho verde. (Como aquele que se esconde no pipo detrás da porta e era reservado para o dia dos padroeiros).
É a festa da nossa terra.
Assim, de Maio a Setembro, e que linda é a nossa festa!
De portas a dentro (na Igreja) e portas a fora (no arraial).
E não se esquece a esmola ao santo, ofertando a dádiva da reciprocidade.
Rogam-se bênçãos para os dias de trabalho, dos afazeres e das canseiras.
Mas vamos à festa dos padroeiros e das romarias.
Não há muito tempo os meses do ano eram referidos pela celebração do santo.
Assim, o mês de Junho era o mês de S. João; o mês de Julho era de S. Bento ou de Santiago; o mês de Agosto é o de S. Bartolomeu e da Srª da Agonia; e o mês de Setembro (o mês das colheitas) conhecido pela Romaria da Srª da Peneda e S. Miguel.
Recordamos de Pedro Homem de Mello:
“Quando ouço a concertina,
Reparo e tiro o chapéu;
Não me importava de morrer
Se houvesse disto no céu”.
Assim registamos ainda da nossa poesia:
“Mesmo na frente marcham a compasso,
De fardas novas vai o sol e o dó;
Quando o regente lhe acena com o braço
Logo o trombone faz pó, pó, pó, pó, pó, pó”.
(Lopes Ribeiro)
“O fogueteiro é engraçado,
É engraçado tem jeito;
Deita o fogo para o ar
Fica todo satisfeito”
(Popular)
“Pelas ruas, os zés pereiras
Num zabumbar,
Entre trofeus e bandeiras
Lá vão p’ró grande arraial”
(Francisco Silva)
“Gaita, gaitinha, ai feiticeira
Gaita, gaitinha, que alegra o sol;
Porque foi feita p’ra moinheira
É que lhe chamam gaita de fole!”
(João Verde)
FEIRAS
No tempo de verão realizam-se muitas feiras que mobilizam negociantes, vendedores e por vezes gado cavalar.
É de referir a feira anual a 12 de Setembro, em Portela de Alvite, Sistelo, concelho de Arcos de Valdevez. Aí se transacciona bastante gado cavalar sendo de destacar os garranos.
Como escreve a historiadora Virgínia Rau “as feiras são uns dos aspectos mais importantes da organização económica da Idade Média. A feira não supõe só o ponto de contacto periódico entre compradores e vendedores, onde se compra, vende, ou escamba. Supõe também uma organização especial.
As feiras contribuíram para a melhoria das relações económicas e jurídicas entre os homens.
As romarias, as peregrinações e todas as festividades religiosas atraiam peregrinos vindos de longe, e assim essas concentrações tornavam-se muitas vezes em centros de troca.”
Pelo Alto-Minho realizam-se as feiras com inspiração medieval, atraindo muitos forasteiros que se introduzem no ambiente secular onde não faltam os cuspidores de fogo e os tamborileiros.
FESTIVAIS
O ambiente bucólico do Alto-Minho convida a apreciar as águas cristalinas dos rios que descem da montanha e correm para o Atlântico.
Há espaços que convidam a permanecer ouvindo o murmúrio das águas e canto da passarada.
No território minhoto há locais que convidam para se ouvirem as bandas de rock.
Assim, está muito divulgado o festival que se realiza na zoa do Taboão, Paredes de Coura, bem como o festival de Vilar de Mouros.
Mas em Ponte de Lima, de há anos a esta parte, há uma iniciativa já de carácter internacional que é o “Festival de Jardins”. No corrente ano a efeméride tem o tema: “Jardins saudáveis”, contanto com a participação de nove países, desde Portugal até à China.
As festas destacam a importância do território e do património, desenvolvendo momentos culturais significativos nas dinâmicas sociais.
Parece-nos oportuno referir o pensamento de Platão: “Mas os deuses com pena da humanidade – nascida para trabalhar – estabeleceram a sucessão de festas repetidas, a fim de recupera-los da fadiga, e deram-lhes as Musas e Apolo, seu chefe, e Dionísio, como companheiros nas suas festas, de forma que, alimentando-se com os deuses em companhia festiva, pudessem novamente manter-se de pé e erectos.”
“A festa define-se pela efervescência, explosão intermitente, o frenesim exaltante, o sopro poderoso da efervescência comum, a concentração da sociedade, a febre dos instantes culminantes”.
A festividade revigora as energias sociais, de acordo com o pensamento de Durkheim, Hubert e Mauss.
A festa faz bem para alegrar a gente.
O tempo de férias é bom para fortalecer o convívio familiar e celebrar a amizade.
No livro do Eclesiastes (Bíblia) podemos ler: “Debaixo do céu há momentos para tudo: um tempo para morrer, um tempo para chorar e um tempo para rir, um tempo para se lamentar e um tempo para dançar”.
ROMARIA DA SENHORA DA PENEDA
A igreja da Senhora da Peneda foi classificada com “ Santuário” pela. sua história, pela devoção e fé de muitos devotos de Portugal e da Galiza.
Os testemunhos dos peregrinos é eloquente e comungam nos cerimoniais com grande alegria,
praticando rituais profundos com elos seculares.
A Romaria da Senhora da Peneda é a última do período festivo.
Os que caminham para o SANTUÁRIO DA SENHORA DA PENEDA são peregrinos que vão com cuidado de sentir emoções espirituais , por vezes trazendo na mente o que escreveu Miguel Torga:
O peregrino vem,
Reza devotamente
Põe no altar o que tem
E regressa mais leve e contente!
Assim faço também!
Da etnografia das gerações recordamos da poesia popular:
Senhora da Peneda
Senhora da Penedinha;
Comadre da minha mãe
Senhora minha madrinha.
Ó Senhora da Peneda,
Pró ano cá ei vir;
Casada ou solteira
Ou criada de servir.
Ó Senhora da Peneda
Este ano não lá vou;
Por falta de dinheiro
Muita gente cá ficou.