Os políticos naftalina ou a representação decrépita nos órgãos de poder

Num contexto em que mais de um milhão de eleitores são jovens (18-30 anos), aumenta a média de idade dos políticos em Portugal que exercem cargos públicos no governo, Parlamento e autarquias.


Nas listas de candidatos às eleições do próximo dia 10 de março dos dois maiores partidos do nosso espectro político-partidário (PS e PSD) a percentagem de jovens com menos de 30 anos é diminuta, quase residual.
No círculo eleitoral do Porto, a nova Aliança Democrática colocou em 37.º lugar a deputada Sofia Matos, uma das mais jovens (33 anos), que tinha sido cabeça de lista do PSD pelo mesmo círculo nas eleições de 2022. A deputada não vai seguir o exemplo de vários colegas do seu grupo parlamentar que recusaram os lugares inelegíveis que lhes foram atribuídos, mas lamentou, em declarações ao DN, que esses deputados não tenham sido contactados previamente pela liderança do partido “para não se verem confrontados com esse tipo de vexame e achincalhamento”. Terá sido ostracizada por Montenegro por ser uma escolha anterior de Rui Rio?
A mais jovem deputada hoje da dissolvida Assembleia da República é Rita Matias do Chega. Depois há os que parecem jovens, mas já são quarentões, como é o caso de Mariana da Silva, que será cabeça de lista do Partido Socialista pelo círculo de Lisboa.
Assistimos também, neste último partido, a jovens deputados serem remetidos para lugares praticamente inelegíveis, como é o caso dos dirigentes da Juventude Socialista do Porto Miguel Rodrigues com 30 anos (21.º) ou Rui Teixeira com 23 anos (24.º), no círculo do Porto, tendo em conta que nas eleições de 2022 o PS apenas elegeu 19 deputados pelo Porto.
Nas eleições legislativas de 2022 tinham sido eleitos apenas oito parlamentares com menos de 30 anos de idade, quatro do PS (Miguel Costa Matos, Joana Sá Pereira, Eduardo Alves e Miguel Rodrigues), dois da Iniciativa Liberal (Patrícia Gilvaz e Bernardo Blanco), um do PSD (Alexandre Poço) e um do Chega (Rita Matias). Não havia tão poucos jovens no Parlamento desde 2009. PAN, Livre, Bloco de Esquerda e CDU (PCP + PEV) não têm jovens deputados.
No que concerne ao mais alto magistrado da Nação a situação ainda é mais pavorosa. Tanto Aníbal Cavaco Silva (entre março de 2006 e março de 2016) como Marcelo Rebelo de Sousa (a partir de março de 2016) não são propriamente exemplos de juventude, mesmo comparados com os seus congéneres na Europa, como é o caso do francês Emmanuel Macron, eleito em maio de 2017 para o seu primeiro mandato presidencial, quando tinha apenas 40 anos de idade.
Também a França nos dá um exemplo da escolha de políticos mais jovens para o exercício dos mais altos cargos públicos com a recém nomeação (janeiro de 2024) por Macron do primeiro-ministro Gabriel Attal, o mais jovem na história recente de França, com menos de 35 anos de idade (lembramos que em França vigora um sistema presidencialista, ao contrário do nosso que é do tipo parlamentarista).
Em Portugal é o que se vê. Decrepitude, obsoletismo e naftalina. Características que em nada enobrecem o exercício da política, como forma de promover uma sociedade mais moderna, mais informada, mais sustentável, mais próspera e com literacia científica e tecnológica, e que afastam cada vez mais os cidadãos, sobretudo os mais jovens, das instituições e dos diversos órgãos representativos, bem como da política em geral.
É caso para dizer, a contrario sensu, que no nosso país os jovens não são o futuro!

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