Primícias Literárias: O Grão de Arroz

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Daniel Jorge

Estudante

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Acordou numa balbúrdia completa.

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Nos ramos daquela plantinha frágil que sucumbia às gotas da tremenda chuva, o grão de arroz tentava segurar-se na parte da planta onde estava inserido. E ela, ainda que se abanasse, tremesse, fosse puxada pelas raízes pelo vento e sofresse, não largava os grãos de arroz por descascar. Com a audição abafada pelos uivos do vento, reparou que as outras plantas de arroz eram atingidas pelo mesmo destino. Nada podiam fazer para parar a chuva. 

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Acordou perante uma chuva miudinha. Espreitou e tudo era um imenso lago, tão mar. Deixou-se novamente adormecer num sono de arroz, longo e calmo. O grão despertou quando começou a ouvir uns passos. Pensou que fosse o tempo da colheira e espreitou os campos. Deu um pequeno grito, pois viu uma mancha de pó contínua, e não reconheceu o lugar onde estava, embora pela forma arredondada das montanhas fosse o mesmo. Mas tudo era pó, um vazio interminável de nada e ouviu o murmúrio dos tristes passos a dizerem que as intensas chuvas tinham destruído todas as colheitas, tudo apodrecera, e o vento quente que se instalou a seguir, parecia ter transformado o lugar na superfície de Marte, amarela e poeirenta: é assim que a imagino. 

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Viu o grupo a passar lentamente pelo espaço árido e só pararam quando chegaram à planta onde ele estava. Todos juntos, pares de olhos multiplicados fixos no grãozinho de arroz, colheram-no, sentiu-se a ser transportado numa mão em forma de concha. 

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Não sabia, mas era o único que sobrara daquela espécie aromática de arroz. Sentiu o grão um amor enorme, um cuidado único com ele. Embora não soubesse, ele transportava o futuro daquela espécie, era o único e o início de um novo ciclo. Cheio de força, num novo espaço, iniciou o seu renascimento. 

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No laboratório, falava-se de amor. O amor pelo cuidar, pelo respeito, pela singularidade de cada um, de cada espécie, de cada pensamento, de cada ideia, de cada força, vontade ou desejo. No laboratório, afinal, o grão de arroz, era um entre muitas outras espécies que a sabedoria, a ternura, o amor, cuidava e dava alento para um novo futuro. 

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No laboratório as pessoas falavam baixo, entendiam-se, reuniam, chegavam a consensos, definiam tarefas e acreditavam na multiplicidade de cores, de sons e, sobretudo, pensamentos. Havia quem estudasse a forma de, rapidamente, reunir todas as armas numa caixa que o nosso olhar não abarcaria, e transformá-las na energia que alimentaria o futuro do planeta. 

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O laboratório eram ideias e sorrisos, quase sonhos, pois todos sabiam que a loucura da destruição, a história sempre o demonstrou, não tinha sentido e, no fim, quando tudo acalmava, a esperança renascia, como a luz do sol da manhã ou do dourado do entardecer que nos deixa mais adormecidos. 

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Quando acordou, o grão de arroz olhou em redor e viu um arrozal sem fim. Olhou as novas montanhas em redor e deixou-se embalar pelo vento e aquecer pela fraca luz. 

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Sinto que os sonhos ficam para sempre, como inatos, e ninguém destruirá nada no nosso mundo, pois a energia do amor vai sempre perdurar. 

 

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