Que futuro nos aguarda?

É sobejamente conhecida a bondade, e suave hipocrisia, características de longos tempos profundamente enraizadas no ADN de um número considerável de certo indigenato cá do nosso quintal à beira-mar especado.

Isto numa interpretação suave e mais terra a terra. Se não houver crise uma anunciada, inventa-se. O pagode gosta de ‘emoção’. Pensa-se que é por efeitos das telenovelas, coisa actual muito em uso, e que vieram substituir os sermões e convívios de café. No Verão lá temos os fogos, os afogamentos, uma ou outra chuveirada, que o pessoal dos esgotos também tem de viver. Seca, estrema, ou aparente, é coisa que dá para alimentar conversa, uns pedidos de ‘subsídios’, promessas de ‘mais umas ajudas’, e até umas orações e quantas procissões. E caso isso não seja suficiente, ou dê motivo de umas quantas declarações ‘oficiais’, desde da associação local, o presidente da junta e, claro, o da câmara, montado está o cenário para uma visita ao local do ministro de serviço.

E se o Verão corre deste jeito, chegado o Outono, passamos da ‘seca estrema’ para o das ‘cheias’, que os esgotos, apesar do balúrdio que se paga na factura da água, só são limpos, quando notoriamente todo a gente, menos os serviços a quem isso compete, já viam que estavam carregados de lixo. Daí que a ‘crise’ que por estes dias alimenta a classe política e os jornais, já à uns meses anunciada e pronunciada, não seja entendida, segundo alguns estudos de opinião, como mais que ‘um epifenómeno’, uma coisa parecida com a recente ‘crise dos combustíveis’. O preço estava caro, mas nunca tanto se vendeu.

E assim já lá vão quase 50 anos de festarolas, enganos e desenganos, e uma rica colecção de frustrações. É que por via dessas mentiras e meias-verdades, o ‘bom povo’ que gosta de ser enganado, contenta-se que os prémios saiam sempre aos outros, para ele bastam umas quantas tolas e ‘luminosas’ promessas. A dita ‘vitória moral’. É o sortilégio do viver em Democracia, em Liberdade, dirão aquelas almas mais dadas à cobardia como argumento moral justificativo. Também será! Mas como ‘moral’ é um bem escasso, convenhamos, é de ‘agarrar’ o disponível, até por isso mesmo. Somos mesmo, ou ainda somos mesmo, um país de gente tão pobre e miserável, que a ‘vitória moral’ é aceite como desculpa, e tem cotação alta, conta, para o léxico que enforma o edifício da moral social prevalecente. Que enxameia o discurso daqueles que se dizem preocupados, que ‘anseiam’ e reclamam pelo marasmo instalado, quer nas paróquias locais, que no cancro da administração central, é um facto que virou fato à medida. Somos um país adiado, dizem e reclamam sem muita convicção, mas reclamam.

Claro que somos um país, eternamente, adiado. E somos, porque essa é uma escolha, pelo menos de à quarenta oito anos a esta parte, a escolha livre e democrática, maioritária, dos portugueses. E, como diria qualquer bom populista demagogo, se o ‘bom povo’ votando livremente gosta da palha em tons azuis, seja-lhe respeitada a vontade, ainda que a palha seja verde, ou em tons acastanhados. Quanto muito, para amenizar algum desfastio, arranje-se-lhe uns óculos com cor a preceito. E uns óculos, se forem de aro grosso, até dão um ar de intelectual, e disfarça muita coisa. Dá um ar catita, eventualmente até pode fazer moda, e garantidamente esconde a tristeza que que lhes vai na lama, e que os olhos a descoberto ‘traem’ à luz da vida, dizem.

Com quase um século de história, Portugal, uma das mais velhas nações da Europa, país nascido de uma briga entre mãe e filho, tem no seu cadastro o ‘não se governa, nem se deixa governar’, como diziam os Romanos. O Futuro foi para os portugueses sempre um chavão político, desculpa esfarrapada. Nada para ser levado a sério. Nem pela populaça, nem muito menos pela classe politico/partidária reinante.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

E ai de quem ouse dizer que o ‘rei vai nu’! Uma nudez que começa no seio familiar, escorre para as autarquias, e naturalmente desagua na governação nacional. Existe sempre um ‘mas’. Sempre uma outra ‘via’, uma outra opinião, um outro caminho. Direito à diferença, dizem. Ainda que essa diferença mais seja que um simples ‘palpite’, insipido e inodoro, coisa que a sensatez, bom senso e honestidade com facilidade desmontam e deixam a nú. E quanto à ‘generosa preocupação com os vindouros’, coisa que enche a boca, o discurso, e faz parte do enredo no argumentário dos políticos, caseiros e não só, valha-nos a fé da memória, e a cobardia da desculpa esfarrapada. O futuro a Deus pertence, dizem. Com esta gente, e uma nau com ‘esta campanha’, nem por intersecção de São Marcelo, o ‘comentador’, a coisa toma outro rumo nas ‘marés-vivas’ em mar turbulento de fim de Verão.

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