Mais seis sonetos selecionados.
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OS QUATRO ELEMENTOS
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Da filosofia do conhecimento, Â avultam
Quatro elementos nesta natureza
Sempre latentes e dos quais resultam
Irrefragáveis; vontade e… incerteza.
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Do ar, o caos do pensamento humano
Do fogo, os mistérios recônditos do ser
Da água, o que é sublime, o que é mais sano;
A convicção que a fé há de prover.
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Da terra, o simbolismo é da razão;
Personifica a concretização
Da vontade surgida numa mente.
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Mas é no éter que tudo se mistura
E as respostas que o homem mais procura
EstĂŁo onde a luz Ă© mais resplandecente!
OS TRAÇOS DE DEUS
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Em vez de um conformismo exasperante
Ou de viva revolta amarga e dura
Pegamos numa pena, e num instante
Damos à dor o gosto da doçura
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É assim o poeta verdadeiro
O que sabe expurgar de si a raiva
E escolhe como alvo o mundo inteiro
Para oferecer o amor pela palavra
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Esta Ă© nossa bandeira que drapeja
Sobre a poesia que nos varre a alma
Como um astro bendito que flameja
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Ergamos, pois, a Deus os nossos braços
A Ele que nos quis dar este poder
Pra transmitir aos outros os Seus traços
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O PLAGIADOR
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Anacronismo puro e execrando
Que rouba o original ao seu autor
O plágio é dos males o mal maior
Pois brota de quem cria, invejando
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E assim o medĂocre se projecta
Num mundo que nĂŁo pode ser o seu
E que cedo lhe extingue o apogeu
Mostrando-lhe o caminho da valeta
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Incapaz de assumir-se, o desgraçado
Rumina, mĂłi injĂşrias, recalcado
Pla sua obsessão persecutória
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Até que, finalmente derrotado
Se esconde qual ralé, dissimulado
Apontado por todos como escĂłria!
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O TEMPLO DOS AMANTES
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A natureza e eu, binĂłmio antigo
Que me nĂŁo canso de ver renovado
E sempre dou comigo deslumbrado
Plas ternas sensações do seu abrigo
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É um campo que ondula à suave brisa
Pejado de papoilas escarlates
São as nobrezas do pastel dos mates
Nas belas folhas que o orvalho frisa
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E se aos sentidos isto nĂŁo bastasse
Inda os gorjeios de aves esfusiantes
Me faz querer que o tempo ali parasse
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Por isso ali é o templo dos amantes
Como se nela o amor se sublimasse
No respirar dos ares purificantes
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O SILĂŠNCIO DOS OFENDIDOSÂ
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Viver acompanhado, e todavia
Sentir-se sĂł na casa que Ă© de dois
É comum nestes tempos, e depois
De tristeza se vive o dia-a-dia
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E este sentimento de impotĂŞncia
Vai macerando a alma, e assim
Cada um se pergunta: que há em mim
Que mais nĂŁo sou que uma transparĂŞncia?
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E eis que chega a vez de responder
Com o silêncio que há nos ofendidos
Deixando ao outro vez de se doer
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Que ao silĂŞncio nĂŁo quis dar ouvidos
E um dia escutará a porta, que ao bater
Com o fragor, abafa alguns gemidos!
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PALAVRAS SECAS
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Secaram-se as palavras nestes dedos
Que outrora as faziam deslizar
Lestas, fluĂdas, querendo poetar
As idĂ©ias, os sonhos, os segredos…
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Talvez que um dia voltem a brotar
Nestas mĂŁos de poeta, entorpecidas
Plos desencantos desta e d’outras vidas
Que aos poucos as fizeram bloquear…
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E ao fixar o espaço ora vazio
Que, sem palavras, triste se apresenta
O meu olhar Ă© cada vez mais frio
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Lembro então a sentença bolorenta
Velha, qual cĂ´dea que fede a bafio:
A poesia perdida nĂŁo mais acalenta!