Trocaram a cidade pela montanha e vivem no “coração” do Parque Nacional da Peneda-Gerês, onde estão rendidos aos ecossistemas naturais. Yassine Benderra e Joana Costa, novos povoadores de Soajo, são dois dos impulsionadores do projeto agroecológico de Soajo e estão a introduzir nesta vila de montanha, contra a inércia instalada, um conjunto de dinâmicas que primam pela diferença. “Encontro Ser EducAção”, a organizar de 4 a 6 de setembro, é a primeira grande organização assente no voluntariado.
O casal Yassine e Joana vive em permanência, desde 2013, na “branda” do Murço com o mínimo de comodidades ou com os “luxos” que querem, sempre em respeito pelo ambiente. Ergueram na serra tendas circulares originárias da Mongólia – “casas amovíveis”, conhecidas por yurts –, construíram lá compartimentos que qualquer habitação tem e a casa de banho, à antiga (seca), não tem autoclismo. Frigorífico também não há e os alimentos são conservados em nascente (sê-lo-ão no futuro em frigoríficos solares de barro). O lema é “reaproveitar tudo e poupar o máximo”. Por isso, muitos alimentos são cultivados na horta (aqui brotam o feijão, a abóbora, os brócolos, o milho…), os detritos (fecais) servem para compostagem (e o adubo que dela resulta é usado para fertilizar os terrenos) e os detergentes/sabonetes são feitos artesanalmente à base de plantas e óleos essenciais.
PUBMas Yassine (33 anos), osteopata de formação, não se queixa das convencionais comodidades que deixou para trás há uma década – ele que já atravessou de lés a lés a América do Sul (só faltou o Paraguai) e o norte de África. De resto, antes de Soajo, o casal já tinha estado em vários ambientes naturais (Algarve, Serra da Estrela, Castelo de Paiva e Amarante).
No âmbito do Projeto AgroEcológico de Soajo (PAES), os formadores Yassine e Joana, em articulação com Arlete Silva e Duarte Gomes, pretendem fomentar, na vila de Soajo, cursos certificados de Design em Permacultura. Em fase de maturação está um “Centro de Pesquisas e Protótipos para inserção deste modo de vida dentro do parque natural, desenvolvendo núcleos para colocar em prática esta filosofia que pode valorizar este magnífico ecossistema.”
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Aspecto da ‘branda’ do Murço
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Joana Costa ajudou a recriar o fiadeiro da Casa do Povo
Quase a estrear (de 4 a 6 de setembro) está o Encontro Ser EducAção. Uma das dinamizadoras é, justamente, Joana Costa, de 31 anos, com formação em microbiologia – ela tem vindo a trabalhar, em parceria com voluntários, técnicos de educação, escolas, associações e professores, para a organização do “Encontro Ser EducAção”, no qual se pretende refletir uma “alternativa educativa mais viável” para as gerações vindouras. No dia 26 agosto, estavam já confirmadas cem inscrições.
O diversificado programa inclui círculos sobre educação, projetos educativos, oficinas temáticas, tertúlias e debates livres, espaços de criação infantil e de cooperação, cinema, caminhadas meditativas e espetáculos ao ar livre.
PUBEste inédito evento, que também emparceira a Junta de Freguesia, o Centro Social e Paroquial de Soajo e a Câmara Municipal de Arcos de Valdevez, é promovido pela Associação Moving Cause, Projeto Manta do Gato, Projeto ComUnidade, Projeto Agroecológico do Soajo e Campo do Gerês.
É com este tipo de organizações que o casal, já recenseado em Soajo, espera atrair mais gente para o Alto Minho. “Mas é importante que Soajo seja um ponto de vivência e não simplesmente um ponto turístico”, refere o portuense Yassine (com origem marroquina), que vislumbra muito potencial por explorar nesta terra. “Todos juntos, podemos potenciar a produção agrícola, a gestão florestal, o turismo de natureza e a marca do PNPG, o único parque nacional”, conclui.