É o nosso fadário. Existe. É triste… é o nosso fado.
Somos um país de pândegos. Sisudos, que é para dar um ar sério, ou parvinhos sorridentes, tipo popularucho, aparvalhados q.b., para dar um ‘ar importante’. O certo é que funcionamos como uns pândegos, ou uns parvinhos, rindo ou chorando, consoante a moda, em moda. Pudera, dir-se-á, tristezas não pagam dividas, e a indignação dá muito má cara, e é coisa para gente que tem a mania de se guiar por verticalidade, valores, princípios, faz doer a coluna, e causa dores de cabeça, ao próprio e aos ‘outros’. E ‘os outros’…
E os ‘outros’, a dita ‘nata’ da sociedade, os ‘poderes’ constitucionais, sociais, não têm sido de molde a dar provas, ou melhor, servir de exemplo, de como é viver e conviver honestamente em sociedade. Tantos têm sido os casos, os acasos, e os casinhos, em que a dita ‘nata’, política, partidária, social e religiosa se tem amanteigado, que o ranço que exala de tudo o que cheira a Estado, governo, justiça, autarquias, partidos e correlactivos, dá náuseas inultrapassáveis. Não, não andam todos a gamar… mas que são muitos, e que gamam que se farta, é só somar dois mais dois. Sempre para ‘servir o povo’, e de ‘consciência tranquila’, e quando dá jeito, até de ‘ética republicana’ em riste. Não. Por cá, pelas paróquias circundantes, não passa nada. Ou melhor, passa. Mas como passamos a poder contar a estreita ligação entre fiscalizados e fiscalizadores… o céu e a misericórdia são o limite.
E assim sendo, quando se quer reclamar, protestar, contra todo o manancial de previsíveis acontecimentos com que os nossos queridos políticos, locais, regionais, nacionais, nos últimos tempos nos têm brindado, a melhor imagem poderíamos recorrer, é aquela que nos oferece o poeta Aníbal Nazaré, autor da letra do conhecido fado – ‘Tudo isto é fado’.
É incontornável reconhecer como tão ‘amorosamente’ o soube traduzir Aníbal Nazaré, ao ‘elevar’ à letra de um fado a alma portuguesa. Destapando o caracter, ou a ausência dele, coisa que uns tantos querem fazer parecer seja ‘tradição’, ‘modo de ser’, ou mais prosaicamente, ‘usos e costumes’, quando é conveniente. Qual Freud nacional, Aníbal Nazaré, interpretando o nosso modo de ser, fê-lo, escreveu e descreveu este nosso fadário, em tempos da ditadura, e consequente censura! Para além dos muitos talentos com que brindou a arte do espectáculo, Aníbal Nazaré, era um profundo conhecedor da nossa boa alma portuguesa, ou não teria escrito – tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado – retratando o nosso ancestral provir, espelhando deste modo o caracter do indígena portuga, uma gente que já os romanos quando por cá passaram diziam, não se governarem e nem se deixarem governar. Foi assim em tempos de antanho, ontem, como o é no presente, hoje. Atualizando-se, no passar dos tempos, ingovernável, o portuga que se preze, bate com a mão no peito, exala patriotismo e ‘amor à liberdade’, diz mal do Estado, e sofre com maior intensidade o seu apego e amor ao povo, desde que esse povo lhe permita, em seu nome… ‘viver à custa do povo’. É um fado, e um fadário, que a dita ‘revolução de Abril’, por muito que a encham de dourados, e foi linda na verdade, mas coisa de pouca dura, apenas fez jus ao dito, ‘mudaram as moscas… ‘, os filhos substituíram os pais, e abriram-se a possibilidade de mais uns tantos poderem encherem os bolsos à conta do orçamento. E hoje, cinquenta anos depois, o que resta dos ‘sonhos de Abril’? Dizem, os líricos, que sempre os há, temos a liberdade de poder falar! Pois temos! Mas falamos pouco, em surdina, que o Código Penal de 1886, nos muitos remendos que tem sofrido, ‘diz que a honra dos ladrões’ tem de ser respeitada.
Quem ouviu, quem teve a pachorra de, pela enésima vez, ouvir, os laudatórios discursos da abertura do Ano Judicial e registar a seguir que 58 processos ‘ficaram esquecidos’ no Tribunal de Contas, não pode ficar admirado com o ‘descaminho’ longo que os Processos, ‘Sócrates’, ‘Espirito Santo’, ‘Monte Branco’, ‘Duarte Lima’, ‘dos desembargadores’, e mais uns quantos, tem levado. Tudo roubalheiras de milhões, que deixaram de bem na vida esta ‘classe’ de gente, continuam a ‘marcar passo’, isto é, a fazer de conta que andam, parados, para que prescrevam. Já não há motivos para dizer, ‘alegadamente’ tudo é suspeito. É mesmo verdade, queira ou não a Justiça dizer que ‘serenamente’ seja, talvez. A Justiça, os apaniguados, e as ‘boas almas’, que sempre encontram uma ‘boa causa’ para desculpar os que lhes são ‘queridos’.
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Já em 1426, sim, 1426 na famosa, mas esquecida, Carta de Bruges, que o Infante D. Pedro escreveu a seu irmão D. Duarte, futuro Rei, sim, que nós já cá tivemos reis de verdade a governar, nos conselhos que o infante D.Duarte dava ao seu irmão, futuro Rei, sobre a Justiça, à 600 anos, dizia: – “A justiça parece só existir em Portugal na cabeça do rei e do seu herdeiro; e dá ideia de que lá não sai, porque, se assim não fosse, aqueles que têm por encargo administrá-la comportar-se-iam mais honestamente. A justiça deve dar a cada um aquilo que lhe é devido e deve dar-lho sem delongas(…). O grande mal está na lentidão da justiça”.
Conveniente lentidão, convenhamos. Nós que gostamos de ‘copiar’ e ‘exemplificar’ com tudo o que vem de fora, somos cegos, surdos e mudos, quando nos é conveniente. Rosnamos baixinho. É o Povo que somos, o País que ‘semos’. E a culpa, porque existe sempre um longínquo culpado, é do Viriato, que à pedrada, lá para os lados da Serra da Estrela correu com os invasores ou, na hipótese mais próxima, D. Teresa, que nunca devia ter dado à luz D. Afonso Henriques. Ah, e claro que também temos os militares de Abril, ou os incompetentes esbirros da Pide/DGS, que, preocupados com os panfletos do PCP e seus derivados, deixaram que nos almoços dos capitães fossem servidos planos de rebelião. A luta continua… a TAP vem já a seguir, já foi Caminha, a Câmara de Espinho e outras mais estão na calha, a ferrovia está no mesmo patamar do romance do ‘novo aeroporto de Lisboa, etc., etc, etc. E viva a descentralização, que vai ser um bodo aos pobres… autarcas, claro.
É o nosso Fado…
PS: – Com esta trapalhada toda de fartar vilanagem, o ‘bom povo’ esqueceu-se de agradecer, de prestar a devida homenagem a uma Senhora que em muito contribuiu para nos ajudar a ultrapassar a Pandemia que tantos mortos deixou pelo mundo. A Senhora Doutora Graça Freitas atingiu o limite de idade e abandonou a DGSaúde. Muito Obrigado pela competência, empenho e paciência. Felicidades Senhora Doutora Graça Freitas. E muita saúde, que bem necessita e merece. Obrigado.