Uma biografia resumida de Francisco Teixeira de Queiroz (03.05.1849 – 22.07.1919) – pseudónimo Bento Moreno

Paula Teixeira de Queiroz

Escritora

 

A criança

 

Nasce e vive na rua que tem hoje o seu nome, Rua Dr. Teixeira de Queiroz, deslumbrado pelo rio Vez, que conhece como a palma das suas mãos, assim como os campos e montes em redor, que calcorreia, muitas vezes, na companhia de pastores.

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Vive num mundo de mulheres, precisa do rio, dos campos, de dar largas à imaginação fecunda de um menino da sua  idade, de inteligência viva e interrogadora. A curiosidade e permanente anseio de coisas novas aguçam-lhe o espírito ora atento ora em devaneios desordenados. Por vezes, é o som dos sinos da igreja vizinha que o faz acordar para a realidade: os sons da vida, o som das águas do rio em dias de cheia a arrastar despojos, da dança louca das árvores em dias de vendaval, da chuva a bater inclemente nas vidraças, tudo o desperta para um mundo que aspira maior. Faz os estudos na escola da vila, até aos 12 anos estuda latim com o padre de São Paio, na rua onde vive com a mãe, avós e tias – o pai inesperadamente morreu cedo. 

A sua inteligência e perspicácia, a curiosidade palpitante destinam-no para outros voos que, embora dolorosos no princípio, o compensarão no futuro. E, assim, parte para Braga onde se matricula no liceu Sá de Miranda, dando continuidade aos estudos e leituras. A partida é dramática e magnificamente recordada trinta anos mais tarde, quando publica as suas memórias, daquele “dia e mês maldito” em que partiu no carro do recoveiro encomendado por sua mãe, onde chora copiosamente ao ver o lar materno afastar-se, ensopando lenços e sentindo o seu mundo despreocupado desmoronar-se.

 

O estudante 

Voltaria todos os anos nas férias percorrendo o mesmo caminho que ao correr dos anos se foi tornando mais longo, pois, findo o liceu em Braga parte para Coimbra onde se forma em Medicina.

É na cidade dos estudantes que toma contacto com os colegas intelectuais, grandes escritores que se tornariam os pares da sua vida literária. O “bichinho” da escrita sempre o acompanhou e, grande admirador de Balzac, aliás como toda a elite cultural portuguesa e europeia – França era a capital intelectual -, que ordenou e organizou a sua obra em A Comédia Humana, delineia a sua futura obra e divide-a em Comédia do Campo e Comédia Burguesa. A Comédia do Campo estava-lhe nos genes, a Comédia Burguesa em breve entraria na sua vida quando, já casado com a lisboeta Teresa, irmã do seu melhor amigo, António Venâncio David, que se tornaria Professor Catedrático na Universidade, se mudou para Lisboa, onde, à morte do sogro, herdaria uma fortuna, que ia além de prédios na Baixa citadina até acções na Companhia das Águas, dos Caminhos de Ferro, das Lezírias, etc.

Ainda exerceu medicina mas a escrita, a política – era um republicano convicto embora nunca tivesse tomado partido nas diversas facções -, e os negócios o tivessem afastado do caminho profissional que inicialmente traçara.

 

Em criança gostava de observar a sua terra, de correr pelos campos minhotos, acompanhar os pastores, seguir o rasto do seu povo e da natureza que o circundava. Esta aprendizagem inicial marca-lo-ia para toda a vida e seria o suporte de quase todos os seus escritos. O campo da sua infância  “versus” a cidade onde viveu a partir dos 12 anos. Primeiro, Braga, depois Coimbra onde ainda nasceram alguns dos seis filhos: cinco raparigas e, finalmente, um rapaz.

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Tinha enorme sentido de humor e conta-se na família que, quando vê passar uma senhora muito bonita e elegante, corre atrás dela e, quando a encara, exclama: Ó diabo, é a minha mulher!

 

Ainda estudante, começou a revelar a sua vocação para a literatura, escrevendo sob os títulos Comédia do Campo e Comédia Burguesa, como já referimos, duas séries paralelas onde procurou apropriar aos estudos literários dos fenómenos sociais, os processos de observação das ciências físicas e naturais. Desenvolve uma profunda análise filosófica relativa ao meio em que se desenvolve a acção literária.

 

Já em Lisboa, por oposição ao Grupo Os Vencidos da Vida, cria com os colegas o Grupo “Os Vencedores da Medicina” – (1890)

 

Admirava entusiasticamente a escola Balzaquiana, que, escrupulosamente, seguiu, demonstrando méritos suficientes para, sem servilismos escrever como nenhum dos estilistas do seu tempo. O seu realismo ficou inimitável.

 

Era um exímio contista, publica Arvoredos, um livro de contos que entre o humor e a arte de bem escrever é um deleite para o leitor. Como o conto Vingança do Morto. De notar a abrangência das 3 classes sociais: os pobres (o povo), o morto (a nobreza/burguesia) e a igreja, os três pilares da sociedade.

 

De costas voltadas para o romantismo, do realismo abraça o naturalismo, sempre influenciado por Balzac.

Com Camilo Castelo Branco, inicia uma amizade de aspirante a escritor para escritor consagrado.  É Camilo quem lhe aconselha o editor, António Maria Pereira, em Lisboa. Camilo, o génio romântico, com quem inicia uma correspondência que se prolongará  até à morte deste. Essa correspondência encontra-se no Museu João de Deus, em Lisboa, assim como todo o seu espólio, já que as duas famílias eram muito ligadas, sobretudo o ramo Barros, resultante do casamento da sua filha Raquel com o também escritor João de Barros, natural da Figueira de Foz.

Teixeira de Queiroz frequentava a praia da Figueira da Foz, e casou duas filhas com dois irmãos Barros, José e João. Outra das filhas, todas senhoras de esmerada educação, Laura, casaria com um Castro Caldas. Outra, Teresa, com um Salazar de Sousa e ainda a mais velha, Cecília, com um homem de negócios que daria origem aos Queiroz Pereira. O filho mais novo, Paulo, um excêntrico, mudar-se-ia de Lisboa para Arcos de Valdevez, vivendo e morrendo na Casa de Cortinhas, casa essa que o escritor mandaria construir na passagem do séc. XIX e onde passaria férias de Verão com a numerosa família.

 

O homem

 

Além de uma fecunda obra literária, acumulou as lides políticas sendo deputado e Ministro dos Negócios Estrangeiros; gestor de grandes companhias como a Companhia das Águas, Companhia dos Caminhos de Ferro, Companhia das Lezírias, movendo-se no meio da alta sociedade tanto aristocrática como intelectual onde ia imbuir-se de temas para a Comédia Burguesa.

 

Pelo seu perfil intelectual e refinada cultura foi o 1º Presidente eleito da Academia das Ciências.

 

Apreciava muito Sintra, onde morreu em 1919, e aí passava longas temporadas, já que pelas características climáticas, e a verdura exuberante lhe fazia lembrar o seu bem amado Minho e Arcos de Valdevez em particular, a terra que o viu nascer.

 

À data da sua morte a Câmara dos Deputados declarou um voto de pesar, assim como a Academia das Ciências em Lisboa.

 

António José Saraiva e Óscar Lopes na História da Literatura Portuguesa comparam o seu talento ao de Eça de Queiroz.

 

Colaborou nas revistas O Ocidente, Renascença, Serões e Arte, Vida e Atlântida.

Foi co-fundador do jornal lisboeta O Século.

Foi e é estudado nas universidades portuguesas e estrangeiras, sendo David Mourão Ferreira um especialista na sua obra, assim como seus discípulos, a citar:  Teresa Martins Marques, Maria Alzira Seixo, Ernesto Rodrigues e muitos mais.

 

As suas obras foram traduzidas em várias línguas.

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