Um dia, como se o sol ou até a lua o tivesse possuído, um engenheiro teve a súbita e repentina ideia de construir um relógio que capturasse a essência de cada momento no tempo.
E naquelas áridas terras onde a comida era pouca e as fortunas eram distribuídas por famílias que pensam que têm a linhagem mais pura, o engenheiro não poderia dizer aos seus pais que estava a fabricar um relógio. Disse então à família inteira que estava a fabricar um dispositivo que iria aumentar a eficiência das sementes e do solo adubado.
Os seus irmãos mais velhos, que eram dois, inspirados com a decisão do irmão engenheiro, trabalharam arduamente durante meses e meses.
O engenheiro, de mãos delicadas, ocupava os seus dias numa pequena e escura divisão que insetos lentamente devoravam. Cada vez que um pequeno progresso era alcançado, a divisão parecia mais carcomida e gasta. E até a própria luz alimentada por uma vela enorme parecia cada vez mais decadente e fraca com o tempo.
O relógio florescia, os cabelos do engenheiro caíam, os irmãos cansavam as mãos calosas, os pais tornavam-se mais débeis, a divisão tornava-se parte da aridez. E, quando o relógio já estava perto do seu estado final, os insetos pareciam querer chegar até ele. Minúsculos, vorazes, subiam pela mesa de madeira que parecia prestes a partir.
Chegou a noite em que o relógio ficou pronto. O engenheiro, velho e ressequido, ligou-o. Os ponteiros de ferro começaram a girar freneticamente, e o relógio descontrolou-se, tremendo em cima da mesa. O engenheiro viu a sua vida a percorrer nos ponteiros do relógio, e observou o tempo que perdera a fabricar aquela ferramenta, desde a sua juventude até ao momento presente. Os pais morreram sem o apoio e consolação dele nos últimos dias, os irmãos perderam o seu vigor e a fome consumiu-os. Gastou o seu tempo a perseguir o tempo, e, no momento em que pensou isso, a mesa desfez-se, o relógio também, e a divisão desabou sobre ele.
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